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O Leitor de Jornal

Por:   •  29/10/2017  •  Projeto de pesquisa  •  2.696 Palavras (11 Páginas)  •  207 Visualizações

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O LEITOR DE JORNAL[pic 1]

Uma Proposta Metodológica

(Leiva de Figueiredo Viana Leal)

               

               A utilização de textos de jornais, tanto nas aulas de Língua Portuguesa quanto em todo o contexto escolar, não constitui novidade. Textos de jornal têm sido utilizados como material alternativo, em resposta às novas demandas existentes em relação ao ensino. Por isso, essa prática tem sido associada, freqüentemente, a uma perspectiva inovadora de trabalho, em contraposição ao uso exclusivo do livro didático.

               Se, por um lado esse aspecto, justifica a presença de textos de jornais na escola, por outro, requer exatamente que se discuta esse uso. Lamentavelmente, o jornal tem servido como uma fonte de textos que apenas substituem o material pedagógico convencional. Por exemplo, é comum que os textos publicados em jornais sirvam de sustentação para exercícios de verificação de aprendizagem de regras gramaticais. Vê-se, no caso, que o texto é assumido como um pretexto para que o aluno, a partir dele, demonstre um conhecimento.

               Também é freqüente que, no contexto escolar, o professor solicite ao aluno que recorte um texto de jornal, para, a partir daí, empreender alguma atividade. Desse modo, os textos de jornal são apenas uma fonte a que o professor recorre para, na prática, propor exercícios similares aos do material pedagógico, já tão rotineiro e, por isso mesmo, desgastado.

               Em outras situações, o professor solicita ao aluno que, a partir da leitura de um determinado tipo de leitura de um jornal, produza um texto similar. O que está subjacente a essa prática é a crença de que o aluno, de posse de um modela, poderá adquirir uma determinada competência para a produção de texto – nesse caso o texto do jornal – e transferi-la para outras situações.

               Da mesma maneira, alguns jornais produzidos nas escolas se caracterizam muito mais como um amontoado de textos em diversas páginas, ordenados artificial e aleatoriamente. Não se faz assim um jornal de verdade.

               De forma geral, o trabalho que vem sendo desenvolvido nas escolas parece sustentado por uma concepção de ensino que torna a língua enquanto produto, sem considerar a situação discursiva que gera os diferentes textos.

               Nesse caso, a língua não é vista em situação interativa, não se discute de que recursos lingüísticos o autor lançou mão para produzir os efeitos que desejava. Muitas vezes não é considerado o texto em seu suporte, a saber, não há referência ao jornal de onde o texto foi extraído, à seção ou caderno em que ele se encontra, nem mesmo à data em que foi publicado.

               As atividades em que o aluno é convidado a produzir em texto a partir de um modelo não levam em conta que nem todo texto pode servir de referência sem que alguns aspectos sejam considerados. Os textos ganham diferentes configurações, sejam de gênero, de registro lingüístico ou de recursos gráficos, em função de uma situação discursiva, enquanto conjunto de estratégias para atingir determinados objetivos.

               O que a prática recorrente permite perceber é um aproveitamento de textos de jornais em que falta, principalmente, uma concepção que contemple a riqueza do processo de produção e recepção de textos que o jornal permite vislumbrar.

               Não basta ao professor querer utilizar o jornal na sala de aula. É preciso ir além, assumindo uma concepção de língua que permite situá-la enquanto discurso, sob o risco de se repetir: uma prática sedimentada em uma concepção de língua pronta e acabada.

A intertextualidade dentro do jornal[pic 2]

   Pensar estratégias de ensino de língua a partir do jornal pressupõe assumir a língua enquanto enunciação, isto é, assumir não textos isolados, mas situados dentro de um suporte, que ganham sentido dentro de uma interação. Assim, o professor pode, a partir de exploração dos conhecimentos prévios do aluno, leva-lo a perceber o texto em sua construção e, ao mesmo tempo, produzir sentido a partir do que lê.

     Quando o professor propõe ao aluno ler uma matéria, para que esta se contextualize, é necessário:

  1. levantar discussões que resultem em uma análise das causas e das conseqüências do fato em questão.
  2. contextualizar o assunto em seu suporte: seção ou caderno em que aparece;
  3. realizar leitura e análise de outros textos que fazem referencia ao mesmo assunto no jornal;
  4. descobrir, em outras seções, temas que sejam, de alguma forma, relacionados ao texto em debate;
  5. ver o texto em sua relação com o contexto nacional e internacional.

Os textos de jornal não são autônomos: dialogam entre si, dependem um do outro e ganham sentido na relação que se pode estabelecer entre eles.

     O professor poderá se utilizar, ainda , de uma grande riqueza do jornal: a exploração dos diferentes tipos de textos. Na verdade, um simples passar de olhos pelo jornal permite identificar vários deles: reportagem, notícia, comentário, texto opinativo, resenha, propaganda, ensaio, horóscopo, quadrinhos, etc.

     Em primeiro lugar, vale ressaltar a concepção de texto: uma unidade significativa global, que ganha sentido na interação, a saber: localiza-se em determinada seção, dirige-se a determinado leitor, para atender a determinado objetivo, determinado momento histórico-cultural, etc. Nesse sentido, o professor poderá levar o aluno não somente a identificar os diferentes tipos de texto, mas também a relaciona-los à situação interlocutiva.

     Por outro lado, pode-se explorar o modo como um mesmo tema obtém diferentes configurações, partindo de diferentes produtores de texto que desejam atingir diferentes interlocutores.

     Trata-se, na verdade, de uma excelente oportunidade de discutir como os tipos de textos se alternam em função dos objetivos que cumprem nos diferentes cadernos e seções, e que ganham contornos distintos dos gêneros reconhecidos. Nesse sentido os textos publicados nos jornais permitem não apenas um trabalho sobre a leitura, mas sobre a categorização dos textos, em função de uma situação discursiva. Nessa perspectiva, não é suficiente apenas o reconhecimento das tipologias, mas é preciso ir além, buscando categorias de explicação da organização interna do texto. Para tal, as atividades de metaleitura ganham significado no trabalho com os textos jornalísticos. Essas atividades consistem em analisar dois aspectos do texto:

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