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A morte na filosofia

Por:   •  5/5/2016  •  Resenha  •  3.413 Palavras (14 Páginas)  •  1.404 Visualizações

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Morte

- Aula sobre a morte é a mais feliz: garantia de não sofrimento, angústia e dor, que são do âmbito da vida.
- É um tema filosófico, mas não só: antropólogos e outros também se interessam pelo episódio da morte. Mas não é o nosso enfoque.

- Começando por Platão:
        - mesmo sem ser idealista, há de se reconhecer que sem Platão, mesmo que como referencia crítica, não se sai do lugar.
        - a morte está analisada em dois diálogos: Apologia a Sócrates e Fédon.
        - A morte de Sócrates tem todos os elementos necessários para uma boa dissertação: uma condenação (uma pena), um homicídio (por conta de terceiro) e uma enorme componente suicidária.
        - Grande frase de Platão: filosofar é aprender a morrer.
                - 1ª coisa que se retira dessa informação: o tema da morta faz parte da própria
definição de filosofia. Mas o que é propriamente filosofia? Uma definição (a de Clóvis, que propõe, como agente na arena de luta pela definição legítima, a sua): filosofia necessariamente apresenta três aspectos importantes:
                        -
Teoria: contemplação do divino. O homem observa o real, buscando identificar nele o que há de divino. Mas que divino? É a ordem que o homem enxerga no universo, dando-se conta de que não foi ele quem a ordenou. Supõe uma inteligência que o transcende e que facultou aquela organização. Uma ordem que transcende a astúcia do homem. Toda filosofia tem uma explicação para o universo.
                        -
Ética: reflexão sobre a melhor maneira de viver para o homem, afinal, o resto da natureza dispensa essa reflexão. O Homem é artífice da própria trajetória. Mas não só analisar criticamente: pensar a vida e viver o pensamento. Ética é isso, viver de acordo com o que se pensou. No caso da própria vida, o homem a contempla e faz mais: delibera sobre ela. Ética é uma deliberação da vida.
                        - “
Salvação”: sem deus. Não se confunde com a salvação religiosa. É autônoma: salva-se a si mesmo. A filosofia é um instrumento intelectivo pelo qual o homem se salva. Salvar do quê? A salvação é sempre em relação a algo negativo. Filosofia salva de medos diversos (Lembrando: medo é uma espécie de tristeza determinada por um conteúdo da consciência. Nunca é determinado pela percepção do mundo, mas por um mundo imaginado): medo de encontros com o mundo, medo de encontros com a sociedade, das regras sociais, da impostura [sugestão de livro: A teatralização da sociedade – Erving Goffman – apresentando o conceito de “perder a face”] e medo da morte. Filosofar é aprender a morrer por isso, mas há uma porquê. Aprender pressupõe prática e prática pressupõe repetição, mas a morte se apresenta numa única vez. É que o Platão de morrer não é igual ao nosso: a morte é a separação do corpo e da alma. Definição consagrada, a mais importante definição metafísica de toda a história. O nascimento é o aprisionamento da alma pelo corpo. Este perece, aquela é imortal. Filosofar é, então, treinar a separação entra alma e corpo. Em Fédon, Platão diz: o verdadeiro filósofo já está morto, e conseguiu o único verdadeiro objetivo da vida: manter o corpo controlado pela alma. O corpo estar ou não estar é o de menos: a alma é quem comanda o espetáculo.
        Mas nem todo mundo pensa platonicamente: há quem acredite que não há a soberania da alma. Pauta a existência pela soberania do corpo. Passa-se a vida inteira tentando reequilibrar um corpo feito para o desequilíbrio, para a carência, para a necessidade. Platão dirá que quando o corpo carece, ele busca no mundo o que possa reequilibrá-lo, indo atrás de mundo que associados a ele diminuirão o sofrimento.
Não ser regido por valores absolutos e transcendentes faz com que se passe o resto dos dias correndo atrás do que falta, como um ANIMAL mesmo. Mas o filósofo vive diferente: se prepara para morte como um animal não poderia fazer -> isso porque o filosofo pauta as vida por critérios existenciais que pré-existem a situações concretas de existência (exemplo do amigo). Diálogo Lísias: acaba aporeticamente, sem saída. Projeto socrático: ninguém disse que Platão deu respostar pra tudo. Filosofar é aprender a morrer porque quem filosofa e busca as verdades absolutas, certamente vai aprendendo a viver de acordo com elas, e não ao sabor dos humores, que mudam sempre. Submete os apetites do corpo a critérios que sempre existiram: o corpo está amordaçado. Filosofar é a prender a morrer: quem filosofa pauta a vida pela razão e pela alma e quando morre, por ser filósofo, nem percebe.

- Há, portanto, sobre a morte, duas grandes que se enfrentam na história do pensamento:        
                - A de Platão se seus herdeiros (Cristo, Descartes, Kant, Hegel): a morte é uma passagem de um tipo de vida (corpo e alma associados) a outro (em que só a alma permanece por ser eterna). Como passagem, a morte não tem nenhuma substancia: é o transito de uma vida pra outra -> é um vazio de ser.
                - A materialista: a morte é o fim, mas não o de finalidade, e sim de finitude. Neste caso, a morte também não tem substância: defini-se pelo que não é, pela sua negatividade ->nela mesma não é nada (assim como no outro caso).
Heidegger: morte é um vazio ontológico (vazio de ser). Quando somos, ela não é; quando ela é, não somos mais. Um encontro impossível.

- Platão é o primeiro a trazer o tema morte para a vida.
- Epicuro, em Carta a Meneceu: reflete sobre a morte, usando os mesmos termos de Platão, praticamente, e a ideia de que a vida é um exercício para a morte. Porém, tal proposta não tem nada a ver com a de Platão.  A vida boa seria a vida de prazer (necessários e naturais), e a presença da morte na vida nos traz desprazer, dor: um dos grandes remédios de Epicuro é não ter medo da morte: NADA A TEMER. É o não ser, e o não ser não tem nenhuma negatividade possível. Epicuro não concebe separação entre corpo e alma, mas filosofar é aprender a morrer porque a morte dá à vida uma dimensão de finitude e escassez. Determinando a finitude, confere-lhe também o seu valor: se vivêssemos eternamente, não haveria sentido em filosofar. A filosofia tem sempre por objeto um bem escasso e finito. Filosofia: gestão da escassez dos momentos existenciais.
- Os dois concordam em muita coisa, mas discordam sobre o que fazer para enfrentar o medo da morte: Platão manda amordaçar o corpo; Epicuro manda viver de acordo com o corpo de acordo com os prazeres mais possíveis que a existência possa proporcionar.
- É importante se pensar assim pois
não se vive da mesma maneira segundo se considera a morte coo passagem ou finitude.
        - no primeiro caso a vida é uma passagem apenas, um treino pra outra futura. O que se sofrer aqui em termos de corpo é um fortalecimento da alma. A alma que pensa bem com o corpo, sem ele é um corpo indomável. É o nadador que treina de pijama. É o que se encontra nos dois diálogos de Platão.
        - no segundo, se acreditar que o fim é mesmo o fim, não tem treinamento. A coisa é aqui e agora, esgota-se neste momento. A temporalidade do corpo é tudo o que há. Se a coisa corre na temporalidade, cada instante existencial, longe de ter a sua réplica numa outra existência, deve ser vivido da forma mais intensa possível. Ninguém nada de pijama.

- Montaigne: nos Ensaios faz uma reflexão sobre o instante da morte. Acreditava também que filosofar é aprender a morrer, que o tempo corre na ampulheta, como Epicuro. Aprender a despedir-se desses instantes que não viveremos mais. Se somos sempre outros, há uma morte para cada instante de vida: corvo de Poe: nunca mais, nunca mais...  Montaigne faz a análise do instante da morte: é nesse instante que podemos julgar toda uma vida. Ao longo da vida, todos construímos discursos ao nosso respeito, procurando fazer crer numa definição de nós mesmos, a nossa identidade. Luta-se por afirmar a crença sobre si mesmo. A identidade mais compensatória possível. Portanto, a vida vivida ao longo da vida é um teatro de dissimulações, onde somos escravizados por aquilo que em que acreditamos ser. De certa forma, ao longo da vida, construímos os limites existenciais dos quais não podemos fugir. Esta vida, vivida na escravidão, é um teatro. No entanto, nos últimos suspiros podemos julgar, pois é neles que temos as melhores condições de nos desmascararmos. Não faz mais nenhum sentido posar bem. Desaparecem as investidas em crenças que poderão permitir encontros alegres no ano que vem. Desaparece toda a necessidade de cinismo. Podemos, por trás das máscaras, não ter rosto nenhum. A ideia de máscara é a ideia de que somos na essência um e aparentemente outro. Há uma presunção de dualidade, portanto: essência verdadeira X aparência falsa. Nos últimos suspiros podemos sim tirar alguma essência, alguma singularidade que transcenda as necessidades sociais.  No momento da morte, quem sabe, podemos nos reencontrar conosco mesmos, e talvez, tal como no nascimento, experimentar um instante qualquer em que a vida tenha algum sentido por sermos nós mesmos. Há ainda uma chance de se ver genuíno: no outro suspiro, uma reconciliação dramática consigo mesmo. Por ora, mantenhamos o cinismo.

- Espinosa: a leitura de Espinosa é árida. Vale a pena ler comentadores primeiro. Sobre a morte: ele é materialista e considera que o homem tem uma essência, que existe enquanto há vida = possibilidade de agir em função de uma energia vital = potência de agir. Havendo vida, há essa essência. Analisar a vida de alguém é analisar as oscilações da sua potência ao longo de um certo intervalo de tempo. Como nosso corpo é parte do universo – seríamos parte de Deus –, condenado a ser parte, constituindo o todo ao relacionar-se com outras partes = degradando-se. Isso o aproxima do budismo: a crença numa individualidade do ego ser a fonte de todos os males. Em nome do todo, morremos: não é deus que morreu por nós, mas nós que morremos em nome da eternidade do universo divino. Finitude é consequência de sermos um todo eterno. Morre porque existe. Morre por quê? Porque existe. Existir é relacionar-se; relacionar-se é afetar e ser afetado; ser fluxo significa estar em relação ao mundo. Se fosse blindado em relação ao mundo, não morreria. Morre-se de fora para dentro, nas relações com o mundo. Se existir é relacionar-se, morre-se porque se relaciona. Se não se relacionasse, mas existisse, não morreria. O que significa o nosso fim, se morremos de fora para dentro? Espinosa: nossas relações podem determinar um ganho de potencia, em que não há morte, só alegria, compondo um todo mais potente. Alegria é o resultado de uma harmonia entre partes que se relacionam = todas as alegrias dependem de variáveis que escapam do controle daquele que se alegra = ninguém se alegra sozinho. Espinosa é o primeiro a dizer que a morte não é um último suspiro: é toda relação que mantemos com outras partes do universo e que nos rouba potência de agir. É uma relação que nos apequena. É a correspondente imediata de toda a tristeza: só morremos de tristeza, a cada instante em que o mundo nos entristece, quando o decompõe. Alguns encontros sim, são em sentido da vida, mas outros no da morte. Alguém poderia fazer disso Eros e Tânatos, mas na filosofia é Espinosa quem nos ensina que a morte não é o último suspiro. Pois se a morte é um tema que importa, é porque está embutida na vida, enquanto nos reduz: é um tema importante, assunto de homens tristes e não de cadáveres. Só candidato a cadáver.
Só se morre de tristeza: há causas que têm a ver com a disposição para a existência, com a energia que o corpo conta pra viver, e essa depende dos encontros vividos e experenciados. Da mesma maneira que o mundo pode nos entristecer, o mundo imaginado pode nos entristecer: conteúdos de consciência podem determinar em nós perdas de energia. Paradoxalmente, podemos assistir a um caso de um pensamento que nós mesmos desenvolvemos, trazidos à nossa consciência por alguma razão, e que determina em nós um apequenamento de potência, porta aberta para uma enfermidade, um fim.

- Morte deliberada/suicídio: tema filosófico nobre, desde Sócrates, que se suicidou. Platão não diz em nenhum momento que se matar é legal, mas faz, de certa forma, uma apologia à “desencarnação”: “quando o corpo não existir mais, a vida será melhor”. Apologia essa encontrada muito recorrentemente na história do pensamento. Duas concepções de suicídio que se destacam muito.  
        - Albert Camus, O mito de Sísifo: na primeira página já arrisca: o
suicídio é o único tema filosófico que importa, pois se a filosofia é uma reflexão sobre a vida – e uma vida em função dessa reflexão–, no final das contas antes de decidir qual a vida que mais vale a pena viver, seria preciso perguntar-se: será que alguma vida vale a pena ser vivida? Primeiro tema filosófico não é, portanto, a identificação de uma vida boa, mas sim a possibilidade de haver alguma vida que possa ser boa = suicídio é uma faculdade nos dada desde sempre.
        [Outras concepções sobre suicídio: Espinosa e Durkheim (que era formado em filosofia, mas resolveu montar outra maneira de investigar: sociologia. Seu jogo é o mais competitivo que a filosofia, da qual ele saiu).
        - Espinosa: “Comunicação do eu – Ética e Solidão” – Comentário de Clóvis no livro: Espinosa ensina que nossa vida no mundo exige de nós a acomodação entre forças que normalmente têm tudo pra serem tensionadas. De um lado somos um corpo constituído por partes que se relacionam; corpo que também é parte, e movido por uma potência que não para de oscilar. Esse é o
primeiro eu: afetos substituindo afetos ininterruptamente. Mas a constatação disso não basta pro homem, porque ele precisa existir simbolicamente: o homem precisa de símbolos pra se comunicar com os outros e consigo mesmo; é dotado de uma faculdade cognitiva recheada de símbolos: quando se pensa, usa-se palavras pra articular os símbolos, assim como com a fala -> sem eles, não pensa e nem se comunica -> livro:Teoria das Formas Simbólicas, Ernst Cassirer. O Homem vive com seu corpo desejante num mundo povoado de símbolos, e graças a estes, ele dá ao seu corpo algum significado para si e para o outro. 

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