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Da Fabricaçao a Realidade

Por:   •  11/3/2016  •  Resenha  •  1.744 Palavras (7 Páginas)  •  454 Visualizações

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   UFPB – UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA[pic 1]

   CT/DEP/PPGEP – Prof. Ricardo Moreira da Silva

   Disciplina: Sistemas de Produção – Período 16.1

 Aluna: Talita Freire Chaves

Título: LATOUR, Bruno; “Da Fabricação à Realidade"; In: A Esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos; trad. Gilson C. C. de Souza; Bauru, SP: EDUSC, 2001; pp. 133-148.

Palavras-Chaves: Luís Pasteur; Estudos Científicos; Ácido Láctico; Fermento.

  1. Resumo:

        Através do texto “Da Fabricação à Realidade” Latour expõem que quanto mais relações uma disciplina científica tiver, mais chances haverá de sua exatidão circular. Assim, no lugar da impossível tarefa de libertar ciência da sociedade, passa-se a levar em consideração um bem mais viável: ligar a disciplina o mais estreitamente possível ao resto do coletivo.

Desde o primórdio dos estudos científicos, a solução tem sido empregar os termos "construção'' e 'fabricação” a fim de explicar a transformação do mundo, efetuada pelos cientistas. Assim, ouvimos falando de "construção de fatos", "fabricação de nêutrons” e outras express6es similares que enfurecem os guerreiros da ciência. Diante disso, explica-se que quanto mais os estudos científicos mostrarem o caráter construtivista da ciência, mais profunda será a incompreensão entre nós e os cientistas.

Latour defende em seu texto que a construção e fabricação, mais ainda que referência e "conteúdo conceitual'', têm de ser totalmente reconfiguradas como os demais conceitos que nos foram transmitidos. Essa reconfiguração é abordada no texto utilizando como sítio empírico o laboratório de Luís Pasteur, através da obra "Mémoire sur la fermentation appelée Iactique'", a qual muitos historiadores da ciência consideram um dos artigos mais importantes de Pasteur.

Tal artigo é ideal para nosso propósito pois se estrutura a volta de dois dramas combinados: o primeiro modifica o status de um não-humano e de um humano. Assim, nos trazendo um drama reflexivo, um mistério que só aparece no fim: quem está construindo os fatos, quem está dirigindo a história? Assim, ao drama ontológico, acrescenta-se um drama epistemológico. Teremos oportunidade de ver, recorrendo as próprias palavras de Pasteur, como um cientista resolve, para si mesmo e para nós, dois dos problemas fundamentais dos estudos científicos.

        Nesse contexto sabe-se que no ano de 1856, algum tempo depois de o lêvedo de cerveja tornar-se seu principal interesse, Pasteur relatou a descoberta de um fermento peculiar ao ácido láctico. Até então, a fermentação vinha sendo explicada em termos puramente químicos, sem a intervenção de nenhuma coisa viva e apelando para a degradação das substancias inertes.

        Diante disso, no início do artigo de Pasteur, a fermentação do ácido láctico não tem uma causa óbvia é isolável. Já no final do deste, no entanto, o fermento se torna uma entidade autossuficiente, integrada a uma classe de fenómenos similares: torna-se, em suma, a causa única da fermentação.

No entanto, Pasteur conclui com a surpreendente frase: “É ele (o fermento), não obstante, que desempenha o papel principal”. Quem sofre essa transformação abrupta não é apenas o fermento, extraído do nada para torna-se alguma coisa, mas também Pasteur em pessoa. Pasteur triunfa de seus inimigos e sua visão ganha a batalha, derrotando a concepção química da fermentação.

Ainda é examinada ao longo do texto a principal personagem não-humana da história a fim de descobrir por quantas etapas ontológicas diferentes essa entidade teve de passar até tornar-se, por assim dizer, uma substancia plenamente aceita. Antes que a entidade seja, com toda a segurança, subscrita por uma substância ontológica consagrada, Pasteur teve que tomar precauções que logo achará dispensáveis. Não sabendo ainda o que é aquilo, ele precisa tentear, investigar todas as facetas dos limites vagos que traçou ao redor da entidade a fim de determinar seus contornos exatos.

Recorrendo a diversas filosofias da ciência aparentemente incompatíveis, Pasteur oferece uma oportuna solução para aquilo que ainda é tema de controvérsia em epistemologia, a saber, de que modo uma entidade nova pode brotar de uma entidade antiga. Nesse momento, já não é apenas o humano que transporta informação mediante transformação, mas também o não-humano, que transita sub-repticiamente de atributos vagamente existentes para uma substância plena.

       Digamos que em seu Laboratório Pasteur elabora um ator. Uma maneira tradicional de explicar isso é dizer que Pasteur elabora testes para o ator mostrar quem é. Sabendo que a única maneira de definir um ator é por intermédio de sua atuação; assim também, a única maneira de definir uma atuação é indagar em que outros atores foram modificados. Ou seja, este é recurso pragmático que podemos estender para (a) a própria coisa, que logo será chamada de 'fermento"; (b) a história contada por Pasteur a seus colegas na Academia de Ciência; e (c) as reações dos interlocutores de Pasteur ao que até agora nada mais é que uma história encontrada num texto escrito.  

Pasteur tenta agora convencer os acadêmicos de que sua história não é uma história e de que ela aconteceu independentemente de sua vontade e capacidade de imaginação. No entanto, um experimento não são testes isolado. É o movimento desses testes tomados em conjunto quando tem êxito ou tomados em separado quando falham. Sabe-se assim, que nenhum experimento pode ser estudado unicamente no laboratório, unicamente na literatura, unicamente nos debates entre colegas.

Ternos de compreender que, independentemente do que pensarmos ou questionarmos a respeito do caráter artificial do laboratório ou dos aspectos literários desse tipo peculiar de discussão, o fermento do ácido láctico foi inventado, não por Pasteur, mas pelo fermento.

Assim, toda dificuldade apresentada pelo artigo de Pasteur sugere que um experimento é um evento. Nenhum evento pode ser explicado por uma lista dos elementos que penetraram na situação antes de sua conclusão, antes de Pasteur lançar seu experimento, antes de o fermento desencadear a fermentação, antes da reunião da Academia.

Todos eles vão embora num estado diferente daquele que apresentavam ao entrar. Isso pode induzir-nos a investigar se existe mesmo uma história da ciência e não apenas de cientistas, e se existe mesmo uma história das coisas e não apenas de ciência.

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