TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Descartes e a dúvida metódica como caminho para o conhecimento.

Por:   •  14/4/2020  •  Trabalho acadêmico  •  4.477 Palavras (18 Páginas)  •  284 Visualizações

Página 1 de 18

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC

FACULDADE DE FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO, LETRAS E ARTES

[pic 1]

RENÉ DESCARTES E A DÚVIDA METÓDICA COMO CAMINHO PARA O CONHECIMENTO

GIOVANNI MARCINARI

SÃO PAULO

2019

René Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna e um precursor do movimento racional-científico. A partir de sua obra Discurso do método inaugura-se uma nova filosofia, com um estilo filosófico próprio que permaneceu na raiz da filosofia moderna. Descartes marca a transição de uma época para outra, o mundo medieval dá lugar ao espírito moderno, iniciando-se um processo de compreensão totalizadora e de renovação do pensar e do agir, que culmina em Immanuel Kant. Na modernidade, frente à revolução científica, pela primeira vez, se coloca o problema do estatuto de cientificidade da filosofia, inexistente no mundo grego. Nessa época se começa a questionar o que seria filosofia e ciência. Se filosofia seria uma ciência, e se fosse, que estatuto de cientificidade ela teria.

Após anos de estudo no colégio jesuíta de La Flèche, onde recebeu uma sólida formação filosófica e científica, Descartes se encontrou em uma profunda insegurança. Todo conhecimento que ele recebera o deixa insatisfeito e confuso, nada parece merecer confiança. Além de não ser possível fundamentar qualquer conhecimento através dos sentidos, o passado filosófico estaria marcado pela diversidade de opiniões e muitas teorias que se contradizem, isso se mostra incompatível com o caráter único que deve possuir a verdade, dando lugar ao ceticismo. O que lhe regozijava era a matemática e a lógica pela certeza e evidência de seus raciocínios.

Ele entendia que “Razão” era uma capacidade inerente a todo ser humano que se desenvolve naturalmente, identificando-a com o bom senso e com “o poder de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso”. A diferença estaria no modo como cada um conduz sua razão, a qual precisa estar vinculada a determinadas condições de aplicação, para que o espírito exerça com êxito a sua função de descobrir o verdadeiro.

 No entanto, ele notou na filosofia a ausência de uma metodologia séria, capaz de instituir e ordenar as ideias para guia-lo na busca pela verdade, sendo preciso não corroborar com conhecimentos sem que pudesse provar racionalmente que eram certos. Descartes entendia ser mais importante caminhar lentamente mantendo-se no percurso do que dar passos largos e extraviar-se. Portanto, seria preciso criar um método para si próprio que o levasse a estabelecer algum conhecimento seguro, e apresentar esse método a outros que quisessem fazer uso de sua própria razão. É do método que dependerá o sucesso ou fracasso da filosofia e das ciências. Dele dependerá a verdade ou falsidade do conhecimento, e sua aplicação deve permitir distinguir o verdadeiro do falso, de modo que não se considere como verdadeiro o que, na realidade, é falso. Assim, ele submeteu todos os conhecimentos existentes em sua época, juntamente com os seus a um crítico e rigoroso exame, conhecido como dúvida metódica, ou seja, um ceticismo metodológico que visa fazer ciência. Um processo no qual ele duvida voluntária e sistematicamente de tudo aceitando como conhecimento somente aquilo que, ao ser passado pelo crivo da dúvida, revela-se indubitável para o pensamento puro. A dúvida é o caminho que ele impõe a si mesmo, ele escolhe duvidar, portanto é um ato de vontade.

Descartes não procurou apenas renovar o conhecimento científico, mas também ampliar o alcance da razão a todas as esferas da vida humana, centrando-a no sujeito, que possui a luz natural da razão utilizando-se de um método próprio. Ao se perguntar incessantemente, distinguir e separar as informações que tem para analisá-las e reorganizá-las, conforme uma lógica própria, compreende-se de forma menos superficial o que recebera antes, repassando seu exemplo de forma universal, incentivando nos outros a capacidade de descobrirem seus próprios caminhos de raciocínio.

O projeto de Descartes baseia-se na unidade da razão, e na sua aplicação a todas as dimensões da existência, portando desde a investigação metafísica acerca de princípios gerais, passando pela descrição físico-matemática da realidade, até as consequências, a ação ou moral, a qual visa atingir um equilíbrio através do domínio da razão sobre as paixões, e também a técnica e artes mecânicas elevando a vida material. É trabalho constituinte da razão, que vai dos fundamentos às consequências últimas. Para que as finalidades práticas se concretizem e sejam atingidas com segurança é preciso que os fundamentos da teoria se configurem como conhecimento verdadeiro.  E só se considera verdadeiro o que for evidente, ou seja, o que for possível intuir com clareza e distinção. Só assim haverá ciência e sabedoria, isto é, uma integração perfeita entre teoria e prática, sobre o domínio da razão.

Somente algo absolutamente certo e não passível de dúvida poderia servir de fundamento aos seus conhecimentos. Essa necessidade veio da constatação de que as crenças que adquirira até então, provenientes da tradição, não tinham fundamento, e, diante disso, premissas falsas produziriam mais ideias falsas: a verdade ficaria ainda mais soterrada. Também muitas das opiniões tidas como verdadeiras lhe foram apresentadas pelos sentidos, os quais já o enganaram algumas vezes, desse modo, rejeitava toda crença nos conhecimentos provenientes deles, já que não eram uma fonte inteiramente segura de conhecimento.

“Em Descartes predomina o amor pela necessidade do verdadeiro, cuja lógica, uma vez alcançada, se impõe com a força da razão. Somente sob o peso da verdade é que o homem pode se considerar livre, no sentido de que obedece a si mesmo e não a forças exteriores” (REALE, 1990, p. 389 - 390).

Com o objetivo de estabelecer esta sistematização de um saber certo e estável, com base na unidade da razão, analisando as causas e as formas do erro, para que assim possa se iniciar uma investigação completa da realidade e do processo de conhecimento com passos seguros, Descartes funda seu novo método baseado na geometria, partindo de conceitos simples para descrever progressivamente entidades mais complexas. Tal método deveria proceder com clareza, distinção, análise, síntese, encadeamento lógico e rigoroso do raciocínio, para assim poder garantir a certeza.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (29.1 Kb)   pdf (203.3 Kb)   docx (62.1 Kb)  
Continuar por mais 17 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com