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Filosofia da educação e o óbvio: que ser humano se quer formar?

Por:   •  10/3/2019  •  Ensaio  •  1.934 Palavras (8 Páginas)  •  129 Visualizações

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CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS CURSO DE FILOSOFIA E TEATRO

Trabalho da disciplina: Filosofia da Educação

Prof. José Soares das Chagas

Aluna: Liubliana Silva Moreira Siqueira

Palmas, 17 de Janeiro de 2019.

Filosofia da educação e o óbvio: que ser humano se quer formar?

Liubliana S. Moreira Siqueira.

A ideia de filosofar sobre a educação pode nos remeter a algo que pareça óbvio como refletir sobre a história da educação, suas transformações ao longo das décadas ou até mesmo pensar em algum modelo de educação que deu certo e por isso deve ser reproduzido. No entanto, a minha proposta aqui é refletir de forma sucinta sobre que ser humano se quer formar com o modelo de educação que teremos a partir do novo governo que se inicia em 2019 no Brasil.

Antes de adentrar nessa questão começarei trazendo alguns significados sobre o ato de refletir. Podemos dizer que refletir refere-se a uma retomada do próprio pensamento “colocar em questão o que já se conhece” diria Aranha e Martins (2003). Refletir também é pensar bem antes de tomar uma decisão, é fazer retroceder, voltar ao ponto de onde se saiu e assim poder propor novas ideias, novos caminhos sem necessariamente se estabelecer uma única verdade.  Nesse sentido destaco o fato de que o “refletir” aqui não busca chegar à uma certeza ou verdade absoluta, o filosofar é estar em busca de. Assim a filosofia da educação terá como objetivo refletir sobre a educação e a pedagogia. O ser humana e tudo que envolve sua formação.

Aranha e Martins (2003) afirmam ainda que “cabe ao filósofo acompanhar reflexiva e criticamente a ação pedagógica”. Na minha opinião uma tarefa árdua visto que questiona-se que tipo de ser humano formar. Diante disso faço o seguinte questionamento: que ser humano se quer formar hoje? A resposta, ou melhor, as respostas para essa questão podem variar conforme a época e as concepções de como e para que educar. Outra variante diz respeito ao “ser humano” de que se fala e para que se pretende falar. Porem, não pretendo no presente texto aprofundar sobre as questões antropológicas busco à princípio refletir sobre o cenário em que se encontra o Brasil, hoje, frente a mudança de governo no que tange as questões relacionadas a educação e a formação do sujeito dentro da escola.

Sobre o universo educacional Darcy Ribeiro (1986) descreve sua visão extremamente crítica no que diz respeito à educação brasileira. O autor traz como vilão das mazelas, não só educacionais, do Brasil a postura da classe dominante. Postura essa que vem desde a colonização sugando e usufruindo todas as nossas fontes de riqueza em prol de seu enriquecimento planejado e sem limites. Uma hegemonia que foi e ainda é mantida pelo povo, para isso se faz necessário que o povo permaneça “chucro, analfabeto e ignorante” sendo dessa forma incapaz segundo Ribeiro (1986) de eleger seus dirigentes. Por consequência os eleitos mesmo sendo minoria, detêm o poder e com extrema astúcia são capazes de gerar e desfrutar das riquezas subjugando o povo que implora por trabalho e se satisfaz com migalhas. Uma classe, nas palavras de Ribeiro (1986) “altamente capaz na formulação e execução de projeto de uma sociedade que melhor corresponde aos seus interesses”.  

O autor descreve em 1986 um cenário educacional que vem desde a colonização. Um modelo de doutrinação que ainda se faz presente no Brasil de hoje. Para ele, a classe dominante sempre teve e tem como interesse crucial a apropriação de terras e a ignorância popular. Ribeiro traz considerações consistentes, destaca ainda que a escola não foi criada para ensinar o povo a ler, escrever e contar assim como as universidades também não foram criadas para promover a reflexão e pensamento. Sua função estaria restrita a formação de profissionais.  

Julgo que essas afirmações são plausíveis e se repetem atualmente em todo o território brasileiro. Isso porque hoje o Brasil é governado por um presidente, que tinha como bandeira de sua campanha a afirmação que “ele” era a única solução para sanar o colapso econômico, aumento da violência e da corrupção em que o país se encontra.  Um presidente, do meu ponto de vista, reacionário que traz novamente ao poder a classe dominante de extrema-direita. Ataca as minorias, minando as proteções para o meio ambiente, as terras indígenas, os negros, mulheres e a comunidade FGBT.

Sem um programa coerente, no que diz respeito a educação, o atual presidente, Jair Bolsonaro, fez algumas propostas que agora pretende colocar em prática como, a diminuição das cotas raciais nas universidades, a redução do número de universidades públicas, a adesão ao modelo de escolas militares e o principal legitimar o projeto da “escola sem partido”. Na minha opinião todas essas medidas resultam em um retrocesso para a educação brasileira, que está longe de atender com qualidade toda a sua população.

De acordo com Ribeiro (1986), o Brasil não tem uma educação que passa por uma crise, mas sim que é pautada desde a colonização por um programa. Este se deu de forma muito organizada em defesa dos interesses da classe dominante. Então qual seria o produto à partir desse programa? Acredito que temos como fruto desse modelo a universalização de um ensino sem qualidade que sofre com desvios de verba e com o adestramento de seus alunos segundo os interesses de seus gestores. Os professores nesse caso são meros funcionários que cumprem ordens, a grande maioria trabalha sem o mínimo de estrutura física e com péssima remuneração.

O ambiente escolar que deveria ser um espaço aberto ao debate, a todos os tipos de pensamento, experiência e ideologias está sendo censurado, assim como foi ao longo da nossa história, para a implantação de um partido único. Escolas sem liberdade para que seus alunos não aprendam a pensar, esse é o objetivo de um governo que recupera a experiência da ditadura como modelo eficaz de avanço e sucesso, que nega a escravidão e que apoia a liberação do uso de armas como solução para a violência.

A doutrinação da extrema-direita tem como slogan que “as crianças vão para a sala de aula para aprender, não para serem politizadas” declaração dada pelo debutado Gilberto Nascimento (PSC-SP). Estamos diante de um projeto inconstitucional que vai contra o que determina o artigo 286 da Constituição de 1988, que garante o ensino plural e liberdade de cátedra. Também vai contra a proteção ao pluralismo de ideias, de concepções pedagógicas e da promoção da tolerância previsto na Lei de Diretrizes e Bases. Destarte retomo a minha questão principal: que ser humano se quer formar hoje?

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