TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Relato Filosofia Korczak - Korczak, de um canário ao cenário. Da cruz à estrela

Por:   •  14/1/2016  •  Artigo  •  539 Palavras (3 Páginas)  •  356 Visualizações

Página 1 de 3

.

Um judeu atípico. Talvez seu canário o tenha feito assim. Do holocausto queimado, nada tinha de semelhante. Já não acreditava em sacrifícios, tampouco fazia isso por outros. Era para si, dizia Korczak; ou quem sabe por seu canário.

O filme, as 200 crianças do dr. Korczak, começa assim: um homem esguio e firme, colérico na defesa de suas convicções e principalmente de suas crianças, com seus olhos profundamente azuis, e uma penugem loura quase avermelhada, que o pouco da cabeça pendia para barba, fazendo sua última locução, na mais sublime convicção: não existem sacrifícios! Sacrificar é mentira! Não faço isso pelas crianças. Talvez faço isso por mim.

"Existe uma história. Aos seis anos de idade, ele quis enterrar seu canário com uma cruz, e foi avisado pelo filho do porteiro, um polonês, de que deveria enterrá-lo com uma Estrela de David" (Szpiczkowski, Ana. Os órfãos de Korczak: vivências de uma educação transformadora. São Paulo: Ed. Comenius, 2013, pág. 121).

A sinceridade do coração daquela criança foi arrancada. Sua simplicidade enterrada. Nada fazia mais sentido para aquele menino. Cresceu talvez assim, pensando em poder resgatar... O que era dele não mais, mas quem sabe de outros.

Janusz Korczak foi um pediatra, que dedicou um momento de sua vida a lutar pela dignidade das crianças. Impulsivo, ameaçador, audacioso, Korczak não abrandava quando precisava se impor perante quem fosse, para defender o que para muitos, no contexto atual que se encerrava diante dos judeus, parecia indefensável. Não aceitava uma ordem, simplesmente por que tinha que ser, daí o porquê de chamá-lo audacioso. Cresceu com o estigma da Estrela de David, por conta do episódio ocorrido em sua infância. Não aceitava ser julgado, nem manipulado, usado, ou mandado. A Estrela representava a fraqueza, a ralé, aqueles que caminham para a morte. Uma morte de cruz; a mesma cruz que ele queria hastear no túmulo de seu canário, porém não lhe fora permitido.

Acredito que esse fato foi determinante para a postura audaciosa do doutor de duzentas crianças.

Fiquei chocada quando ouvi no filme, e principalmente, como uma das primeiras frases, Korczak bradar que sacrifícios são mentiras. Como assim? E tudo que ele fez? E os cuspes, escarros, porradas, humilhações? O que seria isso então? E para que seria isso então, senão pelo outro?

Lembrei-me da oração de uma mãe, que diz: "Sim, eu queria ajudar tanto de vez em quando, aliviar um pouco, te deixar alegre." (Korczak, Janusz. A sós com Deus - orações dos que não oram: São Paulo: Ed. Comenius, 2007, pág. 26).

A voz de Korczak ecoa por estas palavras. Creio que era esse o motivo dele ter feito o que fez, se dedicado ao que se dedicou. Amor? Não. Caridade? Não. Esperança? Não.

A mim parece que o velho homem queria alegrar um pouco a Deus.

- Judeu sujo! Escória! Tu não és digno de usar essa cruz. Foi você quem pendurou Deus na cruz. Use a Estrela, carregue sua letra escarlate. A letra que mostrará o que você fez com Deus.

Isso ecoava em sua cabeça. Se sentia culpado, mas queria fazer algo de vez em quando, para aliviar esse fardo, para alegrar

...

Baixar como (para membros premium)  txt (3.3 Kb)   pdf (58.3 Kb)   docx (10 Kb)  
Continuar por mais 2 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com