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Resenha: De Demiurgo a operário: Uma análise gramsciana do trabalho sob o taylorismo/fordismo

Por:   •  20/1/2017  •  Resenha  •  1.826 Palavras (8 Páginas)  •  561 Visualizações

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O artigo “De Demiurgo a operário: Uma análise gramsciana do trabalho sob o taylorismo/fordismo” do autor Geraldo Augusto Pinto traz uma compreensão e uma explicação do funcionamento do modo de produção capitalista, pautada no taylorismo/fordismo, que configurava-se como um movimento de reestruturação do capital. Tomando por foco esse ponto o texto busca tratar o taylorismo/fordismo dentro da análise crítica desenvolvida por Antonio Gramsci discutindo e expondo pontos dessa análise com o intuito de demonstrar sua vigorosa crítica e sua atualidade.

O taylorismo e o fordismo foram sistemas de gestão da força de trabalho que se configuraram no início do século XX no novo núcleo central da expansão do capitalismo: os Estados Unidos da América (EUA). O sistema desenvolvido no taylorismo e posteriormente moldado por Henry Ford no desenvolvimento da produção industrial de massa e em linha seriada dá origem ao fordismo. Ambos sistemas surgem como mecanismos de controle sobre o operariado e com o intuito de garantir maiores lucros para os donos das fábricas. Ao longo do século XX, no entanto, o taylorismo/fordismo vem a assumir dimensões que ultrapassam os portões das fábricas e vão atingir a vida social dos operários. Desta forma, o taylorismo/fordismo não assume apenas o papel de sistemas de gestão e racionalização dos processos produtivos, mas dá alicerce a uma relocalização dos proprietários dos meios de produção contra o poder da classe trabalhadora, desconceituando o saber-fazer tático do operariado e aluindo o antigo sindicalismo de ofício.

O taylorismo foi desenvolvido por Frederick W. Taylor e tem como escopo o controle do tempo e dos movimentos dos operários com o intuito de transformá-los em ágeis e dóceis. Este modo de gestão é caracterizado pelo apelo do uso da força contra o trabalhador, reduzindo a autonomia e a iniciativa operária; a intensificação da divisão do trabalho e a sua racionalização; e o aumento expressivo da ciência e da gerência cientifica. Todas estas características acarretaram numa relação frágil entre patrões e empregados e entre empresas e sindicatos.

O fordismo foi desenvolvido por Henry Ford e manteve grande parte das características do sistema taylorista, todavia com a construção de um certo consentimento nas relações patrões /empregados e empresas/sindicatos. O fordismo foi desenvolvido com base na persuasão, através dos salários acima da média, concessão de benefícios, reconhecimento dos sindicatos, ganhos de produtividade e avanços de mecanização (como o incremento da esteira rolante na linha de montagem).

O taylorismo/fordismo junto ao Estado de Bem- Estar Social, executou um projeto de sociabilidade cujo intento era compor um coletivo de homens e mulheres ordenados não só a trabalhar, no âmbito das empresas, mas a viver, em todos as demais extensões do cotidiano, uma vida maquinal, enquanto consumidores de serviços e produtos industrializados em massa.

Como já dito anteriormente, o fordismo foi moldado nos aspectos do taylorismo. O taylorismo instituiu uma divisão do trabalho social e não apenas técnica; porque foi capaz de elevar o “rodízio” de operários sem que isso, dentro de certos limites, viesse a abalar a continuidade da produção. O fordismo, por sua vez, com a sua linha de série, robusteceu a imposição, aos sujeitos do trabalho, de um ritmo e de volume uniformes de suas tarefas, ditados pela velocidade maquinal dos objetos de trabalho sob a condução das gerências, que já se encontravam uniformizados pelo taylorismo. Desta forma, o exército industrial de reserva foi ampliado com a adesão de um aglomerado de trabalhadores especializados que foram demitidos ou rebaixados.

O fordismo se distanciava do taylorismo por utilizar-se mais do consenso, porém a distância era tênue pois o uso da força, assim como no taylorismo, se fazia presente sempre que “necessário”. Um exemplo disso foi a resposta de Henry Ford aos sindicatos dos trabalhadores, que se revoltaram contra a destruição das suas qualificações e com a eminente possibilidade de rebaixamento dos salários. Henry, então, demitiu todos os trabalhadores combativos e aumentou os salários daqueles que permaneceram por um valor acima da média.

O aumento salarial não estava relacionado, apenas, ao trabalho realizado dentro das fábricas. Para receber tal abono era necessário obedecer a certas normas de condutas estabelecidas por Henry Ford, como, manutenção da estabilidade familiar e emocional, fidelidade conjugal, repulsa ao álcool e apego à religião e ao patriotismo. Para garantir que tais normas fossem acatadas, na Ford Motor Company, foi criado um departamento especializado que contava com um corpo de assistentes sociais que regularmente visitavam os trabalhadores para averiguar seus comportamentos.

Conexo às regras pautadas na vida familiar, enumeradas anteriormente, haviam outras formas de persuasão, como os concursos do operário-padrão. Com base nisto, Henry Ford tentava passar a ideia de que estava construindo uma nova sociedade. Este interesse possuía ares puritanos com uma obediência rigorosa a um senso de moral austero e intransigente. Esta iniciativa “puritana” de Ford não era um ato de benevolência e nem tampouco eram diligências que visavam fortalecer a “humanidade” ou “espiritualidade” do operariado; justamente pelo contrário, estas iniciativas estabeleciam um controle ideológico sobre o operário tornando-o cada vez mais submisso, controlado e irracional quanto ao seu trabalho e ao processo produtivo. Ou seja, completamente diferente do papel do trabalhador no período feudal – o artesão (o qual assim como um “Demiurgo” plasmava o chora).

Tal controle ideológico se fortaleceu por estar mascarado de iniciativas ditas como benevolentes. Estas iniciativas tinham o objetivo de levar pra fora do trabalho um determinado equilíbrio psicofísico. Ao levar estas iniciativas ao âmbito familiar, o tal equilíbrio psicofísico não seria mais imposto de fora pra dentro do trabalhador, mas estaria enraizado dentro dele, incorporado em suas ações. Ao atingir este equilíbrio, o operário estaria livre de sofrer um colapso fisiológico e criaria dentro de si uma verdadeira aversão à extravagâncias. Desta forma, a estrutura familiar estaria submissa às necessidades da reprodução da força do trabalho. Como diz uma afirmação do Manifesto do Partido Comunista: “o capitalismo acaba com a família como elemento socializador fundamental. O mundo fabril e seus aparelhos passam a centralizar essa socialização”.

O sindicalismo de ofício – o setor mais radical dos sindicatos e que lutava pela defesa dos ofícios e qualificações pelos trabalhadores – também teve de ser controlado pelo sistema fordista. A sua destruição era fundamental

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