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A didática do chão da escola

Por:   •  11/11/2015  •  Ensaio  •  2.058 Palavras (9 Páginas)  •  470 Visualizações

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A didática do chão da escola:

entre teorias, práticas, utopias e pequenos grãos de areia

Danielle Willemann Sutil de Oliveira

  1. Introdução

Ao longo de nossa formação cotidianamente somos chamados a discutir o papel transformador da educação e do educador na sociedade atual. Apesar de todo o acumulo de discussões propiciado pelo espaço privilegiado da Academia, o professor somente saberá o que é a “sala de aula” no momento em que deparar-se com 40 estudantes dispersos em uma sala apertada e sem materiais disponíveis, será neste – e somente neste – momento que o professor compreenderá o que é realmente a “arte de ensinar”.

Nesta perspectiva, nota-se a perpetuação de um abismo (in)visível acerca da teoria/prática na prática docente, tornando a discussão de metodologias de ensino e planejamento de aulas algo descolado da realidade – tanto do educador como do educando. O desinteresse por parte dos estudantes, a falta de infraestrutura básica nas Instituições, as extensas e cansativas jornadas de trabalho enfrentadas pelo professor, somados a um modelo educacional pautado no decorar e obedecer, faz com que a Educação perca seu sentido primordial – o de transformar a sociedade!

Desta forma, vê-se que o quadro atual só será revertido a partir de uma reestruturação geral da própria compreensão de “educação”, aqui compreendida enquanto construção histórica e social, que enquanto prática de libertação mostrar-se-á como instrumento de luta contra a logica hegemônica estabelecida.

  1. “Estudo Errado”: estudante desinteressado ou sistema ultrapassado?

“Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci

Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi

Decoreba: esse é o método de ensino

Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino

Não aprendo as causas e consequências, só decoro os fatos

Desse jeito, até história fica chato”

Gabriel, o pensador – Estudo Errado

         Num primeiro momento ao analisarmos o contexto do cotidiano escolar nos depararemos com estudantes “desinteressados e/ou desordeiros”, que “testam diariamente a paciência de seus superiores”, poderíamos até afirmar que isto é uma realidade presente, todavia, ao colocarmos a culpa exclusivamente no “desinteresse” estudantil, tornaremos nossa crítica rasa e simplista, não chegando necessariamente à raiz destes problemas. Ora, não é “mal da idade” ou então “falta de boa educação”, mas sim um conjunto de fatores que fazem com que a escola seja vista como algo alheio e estranho a realidade do educando. Afinal, como exigir de crianças que decorem a raiz quadrada de 1347 enquanto a mãe apanha do pai bêbado? Ou como pedir para que a mesma preste atenção acerca da 1° Guerra Mundial ao mesmo tempo em que ela vivencia dia-após-dia guerras civis dentro da favela?

        Logicamente não são todos educandos que vivem num contexto tão chocante e excludente, porém, apesar da falta de dados oficiais, pode-se inferir que uma grande parcela da população brasileira convive cotidianamente com o tráfico de drogas, a violência doméstica e urbana, a fome, o desemprego e tantas outras desigualdades ocasionadas pelo acúmulo historicamente desigual da sociedade capitalista.

        Partindo desta perspectiva vemos através de um retrato histórico que a instituição escolar foi vista, desde sempre, como espaço de disciplina e ordem, pautado nos pressupostos de uma pequena parcela populacional privilegiada, logo, a escola insere-se num contexto de consolidação de determinado grupo de valores, transpassados geração após geração.

        Visto isto, notar-se-á que o sistema educacional ainda localiza-se imerso num universo paralelo, ou como já diria o poeta GALEANO, desde que entramos na escola, a educação nos esquarteja: ensinando a dissociar a alma do corpo e a razão da emoção. Mais do que isto, a educação ensina desde sempre a separar o que se aprende na escola e o que acontece em casa, quando na realidade deveria trazer o cotidiano do estudante para a sala de aula, associando fatos históricos, fórmulas químicas e conceitos físicos a vivência de cada um, dando assim sentido para tantos dados e teorias ali “ensinadas”.

        Significa pensar que a apatia ou revolta encontrada nestes estudantes advém de uma desvinculação entre a vida e o colégio, ou seja, os mesmos não conseguem se identificar enquanto construtores de conhecimentos, e quando o conseguem não são capazes de encontrar sentido para realizar tal tarefa. Isto se deve, em grande parte, por uma intensa propaganda e construção da consciência de que “estudar é chato”, ou “para vencer na vida não é necessário um diploma, é preciso trabalhar”, o peso empregado nesta “propaganda” em conjunto com as dificuldades encontradas para ingressar em etapas mais superiores da Educação faz com que a grande parte da sociedade veja o Ensino Superior, por exemplo, como algo inatingível e superior, quando na realidade, o que acontece é um afunilamento estratégico de material humano, que permitirá a perpetuação dos privilégios de uma ínfima parcela populacional.

        Assim, ao analisarmos mais profundamente este aparente descaso para com a educação por parte dos estudantes poderemos compreender que na realidade o sistema educacional empregado encontra-se defasado, não basta ensinar por ensinar, ou decorar por decorar, é preciso que o estudante assimile, compreenda, questione e construa sua própria visão acerca dos temas. Todavia, não é bem esta a nossa realidade...

  1. Educação Bancária e o Mito da Folha em Branco

Mais ainda, a narração os transforma em ‘vasilhas’, em

recipientes a serem ‘enchidos’ pelo autor. Quanto mais vá

‘enchendo’ os recipientes com seus ‘depósitos’, tanto melhor

o educador será” – Paulo Freire, 1997  

        

        A concepção bancária de educação acima evidenciada por FREIRE revela o educador enquanto detentor de todo o conhecimento, ‘preenchendo’ seu aluno como se o mesmo fosse uma folha de papel em branco na qual pudessem estar todas suas anotações e ‘depósitos de conhecimento’. Assim, o papel do aluno restringe-se a ouvir, memorizar e reproduzir exatamente o que foi passado durante as aulas.

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