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O MAL DAS ALTURAS E O CHA DE FOLHA DE COCA

Por:   •  25/3/2019  •  Artigo  •  1.427 Palavras (6 Páginas)  •  171 Visualizações

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0 MAL DAS ALTURAS E O CHA DE FOLHA DE COCA

Quando em 1979 estudávamos na Cidade do México, a 220() metros de altitude, para Correr até a esquina era preciso 0 fôlego de um

jogador do Fluminense.

Já em La Paz, a 366() metros, subir urna simples escada ate’ 0 segundo andar de um hotel, exige cautela e, principalmente, näo conversar à toa para näo queimar 0 raro Oxigênio. Mesmo assim, chega-se ao apto 202 ofegante e sem ar. Outras vezes, acordávamos sobressaltados, com um nó na garganta.

Daí que a primeira coisa que fazíamos de manhä, antes do Café, era tomar uma ou duas xícaras de chá de folha de coca, sem açúcar, porque na Bolivia näo se usa adoçzmtes artifíciais. Na verdade, a bebida, um pouco amarga, nunca nos parecen um elixir do outro mundo. Também nunca percebemos nenhum efeito ostensivo, para melhor ou para pior, na resistência física. As escadas, nas grandes altitudes, säo soberanas e impoem seu ritmo, apesar de tudo.

Mas o chá de coca na Bolivia é elementar como o café é para o Brasil, e o mate para os argentinos e gaúchos. Bebíamos até cinco xícaras de chá de folha de coca por dia, e nada. Ou, talvez estaríamos e nao sabíamos. Quando fomos entrevistar o vice ministrode Terras, Alejandro Almaraz, um intelectual e conhecido escritor boliviano, e tivemos que aguardá-lo uma hora, a primeira coisa que Leslì, uma bonita secretária de uns vinte e seis anos nos perguntou, foi se aceitaríamos um chá. Respondemos: de folha de coca, por favor.

Compra-se folha de coca-em qualquer bodega do país. É verde e pequena, e é guardada em sacos, na porta dos armazéns, Jamais um minciro entra numa mina fria e encharcada, para uma jornada de dez ou doze horas no frio ou no calor abafado, sem levar uma bolsinha com 50 gramas de folhas de Coca na bagagem. C0mpra~se uma porçäo por meio dólar. A folha de coca näo tem nada a ver com cocaína, que é um produto industrializado e ilegal.

Talvez o relato mais antigo sobre as características da folha de coca, seja do intelectual rnestiço de inca com espanhol, Inka Garcilaso de La Vega. Nascido ern 1539 em Cuzco, no Peru, morreu na Espanha ein 22 de abril de 1616, mesmo dia, rnês e ano do falecimento de Cervantes e Shakespeare.

Pois diz Garcilaso no livro Comentários Reales, uma imponente des~ criçäo da organizaçäo social dos incas peruanos, publicada pela Iprimeira vez em Lisboa, em 1609: Da apreciada folha chamada kuka e do tabaco. há motivo para esquecer a erva que os indios chamam ku/ca e os espanhóis coca, que foi e e’ a principal riqueza do Peru para as que a comprarn e a vendem; é justo que se faça rnençäo a ela, em funçäa do muito que as índios a estimam, pelas rnuitas e grandes virtudes que dela conheciam antes e das muitas outras que aqui os espanhóis experimentaram ern assuntos medicinais. 0 padre Blas Valera, como grande curioso e que residiu muitos anos no Peru e saiu dele mais de trinta anos depois de mim, escreveu de umas e outras coisas como quem viu a prova delas; direi simplesmente 0 que 0 Santo padre disse e adíante acrescentarei 0 pouco que deixou de dizer, por escrever demasiadamente, esmiuçando muito cada Coisa (.. )

(Escreveu 0 padre Valera; os aut.) (..) “De quanta utilidade e força seja a (folha de) kuka para os trabalhadores, se sabe observando que 0S indios que a comem se mostram mais fortes e mais dispostos para 0 trabaIho; e muitas vezes, satisfeitos, trabalham todo 0 día sem comen A kuka preserva 0 corpo de muitas enfermidades e nossos médicos a usam, em

forma de pá, para curar 0 inchaço das feridas; para fortalecer os quebrad0S,' para sanar as Chagas apodrecídas... Enräo, se às enfermídades externas faz tantos beneficios, com virlude singular, nas entranlms dos que a camem nä() terá mais virlude e força? A folhcz de kuka tem também outro grande proveito, e que é que a maior parte da renda do bispo e dos Curas e dos demais ministros da Catedral de Cuzco e’ dos dízimos dafolha de kuka(),' porém algans, ignorando todas essas coísas, muito häo falado e escrito contra essa arvorezinha, levados apenas pelas lembranças dos tempos amigos em que os areas e hoje algunsfeiticezros e adivinlzos oferecem e ofereceram a ku/ca aos seus ídolos, razäo pela qual se devería, dizefn eles, proibira sua plantaçâo e 0 seu consumo (Antologia “El Tawantinsuyu “. La Paz, Bolivia: Libreria Editorial Juventud, 1996).

Na verdade os indígenas e que eles nos perdoem por usarmos essa palavra, indígena - näo mastigam a folha de coca, mas a Colocam num lado da boca, onde a amassam durante horas para extrair 0 suco. A essa “mastigaçäo” em aymara akulliku, que passou para 0 espanhol como acullico. Consomem folha de coca quando trabalham, e também em mônias comunitarias, celebraçöes culturais e religiosas.

Já com relaçäo à cocaína, que é uma verdadeira praga no Brasil e a Causa de mais de 80% dos roubos, seqüestros e assassinatos, näo tivemos

notícia na Bolivia. Deve haver, e’ claro, pois a cocaína é produzida da folha de coca, mas a cultura social boliviana é do consumo da folha e näo da droga. Tampouco vimos, entre as centenas

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