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A Gobineau e o Imperialismo no século XIX

Por:   •  4/4/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.524 Palavras (7 Páginas)  •  1.018 Visualizações

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                                                               Gobineau e o Imperialismo no século XIX                                                                                                                                                  Em 1884, as grandes potências mundiais da época se reuniram no que ficaria conhecido como Congresso de Berlim. O objetivo da reunião era simples: fatiar um grande e lucrativo bolo conhecido como continente africano. Eram os efeitos colaterais da Revolução Industrial. O capitalismo tinha atingido grandes proporções que elevaram exponencialmente as ambições econômicas de países como Inglaterra, França, Austria-Hungria e Alemanha. Estas potências buscavam cada vez mais por matérias-primas a um baixo custo, um mercado que consumisse sua exacerbada produção, mão de obra barata e subserviente. Tudo isso poderia ser (e foi) encontrado não só na África como também na Ásia, os grandes polos do Neocolonialismo do século XIX.
Se na época de Colombo os europeus queriam difundir o cristianismo em suas conquistas coloniais, agora era necessário levar a tecnologia e o progresso a estes pobres países que possuíam tantas riquezas naturais e não saberiam, por ignorância e inferioridade, administrá-las e aproveitá-las ao bom modo capitalista. Apesar de algumas mudanças, o discurso para justificar estas práticas imperialistas ainda baseava-se no eurocentrismo e na superioridade branca.
No ano seguinte ao início das reuniões do Congresso de Berlim, em 1885, e para a felicidade das potências industriais, um diplomata francês chamado Joseph-Arthur de Gobineau, ou somente Conde de Gobineau, escreveu um “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”. O título por si só já nos faz inferir seu conteúdo.
Gobineau divide o homem em três raças, a Branca - homens belos, fortes e inteligentes - a Amarela – medíocres em todos os aspectos - e a Negra – estúpidos e frívolos. Sendo, obviamente, a raça branca superior às outras e, dentro dela, os Arianos como topo da “cadeia racial”.
Segundo o autor, a miscigenação de um povo é sua sentença de morte, ele acredita e difunde a ideia de que “diluição leva à corrupção”, a diferença entre as três raças são barreiras naturais que, se quebradas, levariam ao caos e declínio da sociedade e à degeneração tanto física quanto intelectual do ser humano.
   Admite, porém, que “doses homeopáticas” dessa miscigenação possam trazer alguns benefícios (provavelmente porque na Europa Moderna era impossível encontrar uma raça completamente pura), por exemplo, Gobineau reconhecia nos negros sentidos mais aguçados, enquanto no branco havia falta de criatividade, acrescentando um pouco de sangue negro na raça branca essa falha seria suprida.
Inserido em um contexto histórico em que a dominação de povos negros e amarelos era de extrema importância para manutenção e expansão do sistema econômico em vigor, criar uma teoria dita científica que explicava em termos raciais a ascensão e queda de inúmeras civilizações, dizendo que estas raças eram inferiores e a miscigenação era inaceitável, fez com que seus dizeres fossem amplamente difundidos e adequados perfeitamente ao cargo de justificativa para práticas tão desmedidas de conquista e colonização como as existentes no século XIX.
                                                                                                                                         Um exemplo de aplicação de sua teoria, segundo o próprio Gobineau, é a queda do Império Romano. Não houve no império a preocupação com a manutenção e preservação da pureza da raça. O descuido da miscigenação com os povos dominados, que já são inferiores por terem sido dominados, foi a primordial causa de sua queda, pois houve um enfraquecimento do gene.
Um dos respaldos utilizados para sua “teoria científica”, curiosamente, é a própria Bíblia. Gobineau, que não acreditava na teoria evolucionista, pressupõe que toda a humanidade descende de Adão e Eva e ressalta que nunca houve no livro sagrado qualquer menção a “povos de cor”, portanto, a partir da simples lógica é possível concluir que negros e amarelos não descendem da mesma árvore genealógica da primeira família e não podem, por isso, ser classificados como iguais aos brancos. Uma de suas famosas frases dizia “Não acredito que viemos dos macacos, mas creio que estamos indo nesta direção”, resumindo sua posição quanto à origem do homem e reforçando sua repulsa pela mistura das raças.
Gobineau estava inserido não só no contexto da Revolução Industrial, mas também da Revolução Francesa, que pregava nada além de igualdade, fraternidade e liberdade, mas o Conde via esses preceitos como caminho para a “bastardização” da raça superior a qual pertencia. A difusão do seu pensamento coincidiu também com uma época de declínio do movimento revolucionário francês, que perdeu força por causa de sua radicalização. Neste momento, antigos valores conservadores são resgatados pela burguesia e as teorias raciais que precederam Gobineau também são trazidas à luz, principalmente teorias naturalistas e cientificistas.  Extremamente preocupado com o controle demográfico da população humana e também conhecido como pai da demografia moderna, Gobineau pode ter seus ideais inseridos dentro da série do “darwinismo social”.
Esta transferência de uma teoria biológica para um contexto social também buscava justificar o maior sucesso de alguns grupos humanos em detrimento de outros. Como, por exemplo, a suposta superioridade tecnológica e intelectual do europeu em relação ao africano. Dentro do Darwinismo Social, porém, não só características físicas ou raciais contam para determinar um grupo como superior, analisa-se também o poder aquisitivo e habilidade em ciências humanas e exatas.
São aplicados, nesta teoria, basicamente os mesmo conceitos de “A Origem das Espécies”, os seres humanos evoluem de acordo com um ambiente competitivo e somente os mais adaptados ao ambiente poderão sobreviver. No caso do século XIX, não haveria grupo mais adaptado que os países industriais, que dispunham da maior gama de aparatos tecnológicos, meios de produção e material bélico disponível do que os outros grupos da América Latina, África e Ásia, considerados subdesenvolvidos em todos os aspectos, tanto sociais quanto biológicos.
A sintonia desta teoria com a da superioridade das raças desenvolvida por Gobineau exemplifica a importância e propagação destes conceitos naturalistas na época e a convergência de todas para um único objetivo: dominação de povos “racialmente inferiores”. Apesar da grande credibilidade atribuída ao diplomata, escritor e filósofo, é necessário lembrar que o próprio Joseph-Arthur de Gobineau vem de uma origem humilde, nascido em Ville-d'Avray (em 14 de julho de 1816 ) e criou uma falsa genealogia para esconder suas origens, que lhe garantiu o título nobiliárquico de “Conde”.
Atualmente, suas teorias são refutadas e possuem um teor altamente negativo e “politicamente incorreto”, sendo que o conceito de “raças” hoje foi abolido pela UNESCO e foi substituído pela ideia de “etnias”. Mas não podemos deixar de lado que quando foi de interesse político e econômico mundial, as teorias raciais de Gobineau estiveram no mais alto patamar de apreciação e já foram resgatadas em outros lugares e momentos históricos, como, por exemplo, na Alemanha nazista de Hitler.

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