Alencastro X Marcocci: Concordâncias e Discordâncias
Por: Ronald Vitor • 28/5/2025 • Resenha • 1.044 Palavras (5 Páginas) • 7 Visualizações
Alencastro X Marcocci: concordâncias e discordâncias
Eles concordam quanto a centralidade do comércio de escravos negros no processo de constituição colonial. Mas discordam abordam a temática por diferentes dimensões.
MARCOCCI
Marcocci fundamenta seu argumento na hierarquia fundada no trabalho, onde segundo os colonos os negros africanos seriam de maior utilidade prática do que os indígenas.
Visto que os últimos (indígenas) detêm uma imagem de resistência selvagem (embates e revoltas), inconstantes por natureza (aceita a fé e abandona fácil, escasso pendor pelo trabalho), vulnerabilidade epidêmica e ainda limitações impostas pela legislação régia, pautada numa idealização da "salvação" desses "povos selvagens".
"E foi exatamente à procura de um remédio para esse limite atribuído aos índios, que missionários e colonos se juntaram na defesa das virtudes do trabalho forçado como forma não somente de catequese, mas também de educação civil." (P.45)
Já os primeiros (negros africanos) eram tidos como:
"Um outro tipo de bárbaros pacíficos, mas de juízo muito fraco, os quais parecem um pouco superiores em relação aos outros, apresentando alguma forma de governo, apesar de terem leis e cultos semelhantes a bagatelas." (P.47, tradução do autor da obra de Acosta).
E mais propensos ao cristianismo, visto que são mais estáveis, mais "comunicáveis" e seus rituais, apesar de "diabólicos" não apresentavam ameaça de contágio à pureza do catolicismo lusitano.
Posteriormente a Acosta, com Molina, o debate acerca da conversão de escravos africanos intensificou-se, o que por sua vez simbolizou "uma fase de virada da relação existente entre o recurso à escravidão dos índios e àquela dos negros no Brasil." (P.47).
Essa visão coincide com uma mudança no cenário da escravidão no Brasil, a partir de meados do século XVI os negros africanos começaram a substituir os indígenas como a principal fonte de mão de obra escravizada.
Assim: A partir do final do século XVI, o Atlântico meridional assume uma fisionomia inédita, marcada pelo fenômeno do comércio escravo. (MARCOCCI, P.48) Alencastro citado no rodapé 20^
ALENCASTRO
Alencastro defende que a partir do século XVI constituiu-se um espaço territorial unindo os enclaves portugueses na América e as feitorias angolanas em um só sistema de exploração colonial. Seu objetivo é demonstrar a interdependência entre "as duas margens do Atlântico Sul".
Alencastro constata que para o efetivo funcionamento do mercado açucareiro metropolitano portugues se fez necessário escravos, e que para uma exclusividade de mercado era necessário o controle do fornecimento de cativos da África. O que só veio a ocorrer após a União Ibérica em 1580, quando Portugal tem acesso a contratos de "Asiento", que concedia o monopólio de um comércio ou rota comercial. Para o autor, é a partir desses contratos que os traficantes brasileiros passam a se diferenciar dos portugueses pelo escambo, principalmente de mandioca e zimbo.
O balanço de Alencastro é que a intervenção militar brasílica em Angola e o domínio dos mercados angolanos pelos produtos originários da América portuguesa criaram uma identidade de interesses entre Brasil e Angola que se mostrou incontornável
O efeito dessa penetração dos luso-brasileiros em Angola é a formação do Brasil, já no final do século XVII, com seu caráter singular.
Alencastro e Marcocci se complementam na medida em que:
Para o autor, a singularidade do Brasil é justamente ter originado uma sociedade diretamente envolvida com o trato dos viventes e que primava por sua manutenção (dado o seu caráter bipolar), o que permitiu que se completasse um processo de interiorização e ocupação do território (americano) – já que o fluxo regular do tráfico negreiro diminuiu a importância dos índios como reserva potencial de mão-de-obra, transformando-os apenas em um obstáculo à expansão da fronteira agropastoril, abrindo-se a possibilidade de seu extermínio – em meio à política feitorizante européia.
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