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Emmanuelle Le Roy Ladury e a Escola Annales

Por:   •  14/3/2018  •  Resenha  •  2.677 Palavras (11 Páginas)  •  550 Visualizações

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

RESENHA

LADURIE, EMMANUEL LE ROY – “O ESTADO MONÁRQUICO: 1460-1610”

HANNA KATHERINE FERREIRA GOMES – MATRÍCULA: 201510277411

ISABELLA DE SOUZA TAVARES – 201510279511

DISCLIPLINA: HISTÓRIA MODERNA II

PROFª. LÚCIA BASTOS

RIO DE JANEIRO

2017

Emmanuel Le Roy Ladurie e a Escola dos Annales.

Emmanuel Le Roy Ladurie é um historiador francês da escola dos Annales e expoente da historiografia a partir dos anos 1960. Seus estudos são focados no período do Antigo Regime, aprendiz de Fernand Braudel, o autor usou em suas análises sobre a história o modelo eco-demográfico e factual. Assim, recusava o marxismo e possuía uma visão econômica, social e biológica para compreender a história.

A escola dos Annales surgiu como oposição à história tradicional do século XIX, ligada ao nacionalismo, como forma legitimadora das bases do poder. Alguns reconhecem esse período como o século da história erudita, influenciado pelos movimentos de unificação e nacionalistas na Europa, guiando o estudo da história as origens desses Estados e ao surgimento do sentimento de pertencimento a Nação. Nesse período o incentivo do governo a pesquisa histórica foi fundamental para impulsionar tal disciplina, assim como para legitimar governantes, com destaque para Itália, França e Inglaterra.

Já no final do século XIX começa uma crescente crítica às idéias de idealismo e progresso, assim como a pressão para escrever fatos históricos fielmente. Já que alguns historiadores percebiam a história como parcial, sendo a sua percepção alterada ao longo do tempo. Também discordavam da idéia de que determinadas experiências históricas acumulavam-se para o progresso. Dentre esses críticos estão, Michelet com a sua história das classes subjugadas que viviam as sombras daquela história política, e Burckhardt que relacionava na história, a religião, Estado e cultura.

        Durante o século XX tais observações sobre a história erudita do século XIX aumentaram e foi proposta a criação de uma nova história. Nesse cenário, um grande expoente dessa mudança do fazer histórico é a Escola dos Annales. A idéia era a elaboração da história em colaboração com outras disciplinas como a sociologia, geografia e antropologia. Assim, a produção historiográfica destoava do projeto de história como representação fiel de grandes feitos do passado. A “Escola dos Annales” fez parte dessa mudança do fazer histórico, com a produção de uma história-problema, a história de todas as atividades relacionadas ao indivíduo e uma relação interdisciplinar com outras áreas, como a psicologia, a antropologia, a sociologia, a lingüística, entre outras.

Nesse contexto, o modo como Ladurie escrevia história destoava da historiografia tradicional. Já que ao invés de focar nas guerras, nos reis e na história dos grandes feitos, ele estudava o determinado período de forma ampla, através do mental, do econômico e do social. Por fazer parte dos Annales, o autor discordava do uso de esquemas pré-concebidos, seguindo a idéia de que a realidade estava ligada a determinação de apenas um fator. Justamente por recorrer a diversos aspectos da realidade, Ladurie acredita que o conjunto de fatores é importante para pensar a história e os acontecimentos.

No entanto, em suas obras metodológicas é possível observar a primazia dos aspectos demográficos e biológicos para explicar mudanças econômicas e sociais. O chamado fator ecodemográfico é percebido, em suas obras, como causador de mudanças sociais, que por sua vez, influenciam na mentalidade do período abordado. Em sua obra “Os camponeses de Languedoc” de 1966 ele aborda aspectos econômico-demográficos que são essenciais para o entendimento do século XVI e a sua recuperação demográfica. Em “Monataillou” isso fica evidente também, quando Ladurie  aborda clima, relevo, demografia para depois, e baseada nela, pensar a estrutura econômica e social da aldeia durante a Baixa Idade Média.

Ladurie em “O Estado Monárquico” elabora um estudo em direção a uma nova história política. Nele, o autor através de uma perspectiva de longa duração, analisa a Monarquia Clássica francesa. A partir da análise do Estado, Laduie consegue explorar o conjuntos de aspectos que construíram uma cultura política característica do estado monárquico da França dos Valois e de uma determinada cultura política. Assim, mais do que o estudo do Estado, o autor aborda a forma como foram construídas determinadas estruturas de poder que deram base a essa instituição política.

O Estado Monárquico: 1460-1610

A leitura da introdução do livro de Emanuel Le Roy Ladurie nos permite perceber que o autor se propõe a caracterizar a monarquia existente no seu recorte temporal (1460-1610), recorte esse que reflete a longa duração proposta pela Escola dos Annales, sendo o autor membro dessa linha de pensamento. A obra também se propõe a elucidar fatos e detalhes do período em questão, tendo como objetivo central, expôr e explicar acerca do funcionamento da monarquia absolutista.

Ladurie afirma que o regime vigente da França entre 1450-1789 é o das monarquias clássicas, sendo esse tempo caracterizado como Antigo Regime que se alonga entre altos e baixos e só termina com o declínio de Luís XVI. A instituição monárquica possuía intrinsecamente um caráter religioso, não havendo nenhuma tolerância com aqueles que não seguiam os dogmas e padrões impostos pela religião vigente. Essa religiosidade do reino permitia a existência de um equilíbrio entre rei e o povo e, conseqüentemente, uma ordem social garantida.

Havia na França a ideia de perpetuação da função real e, para ilustrar tal tese, os juristas ingleses construiriam a figura dos dois corpos, onde um era perecível, ou seja, um morria e o outro a frente da instituição monárquica, era imortal. Essa ideia de imortalidade do Rei pode ser refletida inclusive no ato fúnebre, onde se desfilava o corpo do soberano, mas não se usava a cor preta para simbolizar o luto, pois a ideia de que o Rei se perpetua é amplamente difundida. Essa teoria de imortalidade do rei reflete a sacralidade da instituição monárquica. A perpetuidade do rei está ligada a noção de justiça, de soberania e do sagrado. O rei é perpetuo, pois estas três coisas também são, elas estão ligadas intimamente com o ser e a essência do rei. Assim a passagem do poder para seu descendente é também a representação da incorporação dessa essência inerente ao rei ao príncipe que ascende e se torna soberano. Nas palavras do próprio autor: “presume-se que a transmissão dos poderes se faça no próprio momento do falecimento do De cujus: o morto apossa-se do vivo e o novo príncipe, como o sol ou a fênix, emerge em sua realeza, sem esperar, nos minutos que se seguem ao trespasse de seu genitor ou de se ascendente. O astro do dia foi obscurecido apenas alguns instantes pelas nuvens da morte.”[1]

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