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O Comentário do filme O Jovem Karl Marx

Por:   •  31/10/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.181 Palavras (5 Páginas)  •  294 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

Setor: Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento: História

Disciplina: Teoria da História II

Docente: Prof.ª Dr.ª Maristela Carneiro

Acadêmica: Laureen Silva

O jovem Karl Marx

Raoul Peck

Comentário do filme

PECK, Raoul. O jovem Karl Marx. França, Alemanha, Bélgica: California Filmes, 2017, 119min.

  1. Introdução

O jovem Karl Marx, lançado na Alemanha em fevereiro de 2017, viveu no Brasil um processo de censura e intimidação – somente cinemas de caráter mais alternativo o exibiram. Assim sendo, a livre divulgação através do YouTube tornou possível seu acesso. Nele, o diretor Raoul Peck recriou os primórdios da Revolução Industrial e das revoluções democráticas da Europa do século XIX.

  1. Sinopse

O filme retrata o Marx jornalista e filósofo de 26 anos, que, mesmo hoje sendo reconhecido um autor clássico cuja relevância é tamanha, é retratado como demasiadamente humano. Nas raízes do Partido Comunista estão Marx e sua esposa de família prominente Jenny von Westphalen, fugidos da Alemanha e exilados em Paris; Friedrich Engels, filho rebelde de um industrial alemão; e sua parceira Mary Burns, operária irlandesa que foi demitida por ofender o dono da fábrica – o próprio pai de Engels.

A abertura, cuja narratica é simples e clara, retrata a condição miserável do trabalhador da Idade Moderna. O ato de recolher galhos secos no chão da floresta é considerado crime e, por isso, entes dessa classe são agredidos por cavaleiros. Estão presentes, aí, as noções de acumulação primitiva, cercamentos e propriedade privada.

Desligado do seu trabalho em um jornal prússio e extremamente pobre, Marx exila-se na França e, em encontro com Engels, admitem que o espírito de fraternidade não é suficiente para confortar a vida da população. Os ideais apresentados durante a Revolução Francesa e a Declaração Universal dos Direitos Humanos não mais são páreos à burguesia, assim como o socialismo utópico de Saint-Simon e o anarquismo de Pierre-Joseph Proudhon e do russo Mikhail Bakunin. Somente uma luta geral será capaz de recuperar a dignidade da classe trabalhadora, feito este que a fraternidade, igualdade e liberdade não foram capaz.

 Em meio a bebedeiras nos bares e apartamentos, Marx vê a necessidade de dialogar com as massas, sendo o objetivo do movimento o de despertar no povo a noção de participação política. Desta forma, formula as 11 teses sobre Feuerbach e reconhece, de maneira simplista, que "os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”[1]

Evidente é, sobretudo, o raciocínio dialético presente no longa enquanto arquitetação do movimento social. Marx e Engels, em meio a sucessos e derrotas, unem os antagonismos da teoria e da política objetivando a libertação do proletariado, tão insatisfeitos com a Revolução Industrial - nasce, entre censura e repressão, O manifesto do Partido Comunista, a base das revoltas operárias na Europa.

  1. Raoul Peck, o diretor

Notavelmente aclamado no Oscar de 2017 pelo documentário Eu não sou seu negro, o cineastra de origem haitiana merece destaque.

Apesar de ter nascido em 1953 no Haiti, viveu no Congo devido ao exílio do pai durante a ditadura de Papa Doc. Mudou-se para a França e, posteriormente, para a Alemanha. Foi ministro da Cultura do Haiti entre 1996 e 1997 e atualmente é presidente da Fémis, escola de cinema francesa.[2]

Aproximado do cinema por meio da política, após anos entre o jornalismo e a fotografia, interessou-se mais no conteúdo dos filmes que sua técnica. Declarou, ao jornal El Universal, o potencial político que via na profissão: “nunca quis fazer um filme para contar histórias, o cinema para mim era uma forma de fazer política”, sendo que “foi sempre um meio de estar engajado na sociedade, quer eu viva no Congo, no Haiti, na Europa ou na América”.

Além disso, seus trabalhos baseados em fatos reais merecem destaque porque “não se furtam de polêmica, não endeusam personagem, não são propaganda ou panfletos, mas referências históricas e obras que podemos apreciar como arte.”[3]

  1. Críticas da imprensa

De acordo com a adaptação feita pelo AdoroCinema, cuja estrela máxima tem nota 5, as notas pela impresa variam entre 4 (Cineweb, Screen International, Télérama, The Guardian) e 2 estrelas (O Globo e Critikat.com), com nota média de 3,2.

[pic 1]Figura 1. Notas referidas a O jovem Karl Marx. Fonte: AdoroCinema (2019).

A exemplo disso, The Guardian reconhece a responsabilidade e dificuldade da produção:

Retratar idéias na tela é sempre uma perspectiva assustadora em um longa-metragem e, ainda assim, nessa vertente, The Young Karl Marx se destaca por ser inteligente, emocionante, alfabetizado e multilíngue - os personagens falam inglês, francês e alemão fluentemente.[4]

 

Em outro extremo, O Globo diz ser o filme uma obra “estranhamente romântica”, onde o diretor tem mais intensão de agradar que de retratar a realidade – “parece retirada de filmes de high school, em que dois adolescentes medem quem tem a maior virilidade” e que “para piorar, [as] encenações são questionáveis historicamente”[5].

Muitas dessas críticas do ponto de vista teórico

têm se prestado mais a uma espécie de sarcasmo puramente ideológico, o que denuncia um desconhecimento completo da obra marxiana com uma turva percepção do momento histórico-social da época. Trata-se de um artifício que ainda insiste em retratar o autor de O Capital como uma espécie de demônio mítico que inspirou ditaduras mundo afora.[6]

  1. Comentário

Conexo aos movimentos atuais, O jovem Karl Marx se mostra necessário ao reaviver os ideais da luta de classes e o espírito enquietante que leva o descontentamento à revolução.

Nos atuais anos de recessão econômica mundial e a conjuntura do ponto de vista ético-político, o pensamento materialista de Marx vem sendo relido, retrabalhado, rediscutido. Apresenta-se, então, um filme que busca atingir a público disposto a lançar seus olhos às questões ligadas a escravidão, trabalho infantil, pobreza, condições escassas de trabalho, etc.

Além disso, o diretor haitiano é somente um dos inúmeros exemplos do que o exílio e imigração são capazes de oportunizar tanto para o sujeito quanto para o país de origem. Novas interpretações e novas sensibilidades, quando protegidas da miséria e do terror, são afloradas.

Ademais, é ressaltada a visão de pobreza institucionalizada, e, como disse o próprio Karl Marx em 1875, do operário enquanto mercadoria, “como qualquer outro artigo do comércio e, portanto, [...] igualmente sujeitos [...] a todas as flutuações do mercado”[7].

“Reduziu a dignidade pessoal a simples valor de troca e, em lugar das inúmeras liberdades estatuídas e arduamente conquistadas, erigiu a liberdade única e implacável do comércio. Em resumo, substituiu a exploração disfarçada sob ilusões religiosas e políticas pela exploração aberta, cínica, direta e brutal.”[8]


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