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Populações Indígenas e Estados nacionais latino-americanos; novas abordagens historiográficas

Por:   •  31/1/2023  •  Seminário  •  1.732 Palavras (7 Páginas)  •  57 Visualizações

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Texto de Maria Regina Celestino de Almeida - Populações indígenas e Estados nacionais latino-americanos; novas abordagens historiográficas

No capítulo Maria Regina Celestino de Almeida ela propõe uma abordagem historiográfica diferente das tradicionais narrativas construídas acerca da população indígena na América hispânica durante o séc. XIX. Propondo uma narrativa decolonial sobre a organização e formação dos processos de construção dos Estados-nações americanas, e inserindo os indígenas também como atores elementares desses processos de independências ao longo do séc. XIX

A narrativa tradicional histórica sempre retratou os povos indígenas, e ela faz uso da palavra no plural “povos” para retratar diversas culturas e etnias compostos pelos indígenas, rompendo com a questão de uma homogeneidade indígena como um só povo movidos por um interesse em comum. Assim, esses povos foram retratados historicamente como sujeitos infantilizados, e que precisam sempre estar sob uma tutela pois eram de fácil manipulação e não tinham interesses próprios

“De modo geral, os povos nativos da América eram vistos como vítimas das políticas assimilacionistas que visavam incorporá-los e seduzi-los com falsas promessas, mediante as quais manipulam seus interesses para obter alianças necessárias nos inúmeros conflitos políticos. Assim, nos movimentos de independência apareciam, como grupos manipulados ora por agentes do reino, ora por revolucionários” (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.4)

Ademais, a autora apresenta que estudos no campo da antropologia vem desconstruindo essa questão, compreendendo que os indígenas não foram vítimas passivas dos processos históricos, mas sim, tiveram a capacidade de rearticular sua cultura, tradições e identidades, e isso lhes garantiu a sobrevivência enquanto povo. Sendo necessário desconstruir a ideia de que os indígenas eram povos monolíticos e cristalizados, mas sim, que divergiam entre si e outros grupos étnicos.

O reducionismo das abordagens generalizantes insere os povos indígenas como sujeitos passivos, que foram coniventes com todos os processos que foram submetidos durante o séc. XIX ou anteriores e posteriores, e relegá-los ao pensamento político, como se fossem despossuídos de tal. Os estudos na área de antropologia conforme apresentados pela autora demonstram a importância de levar em conta as especificidades dos contextos históricos, dos agentes em contato com seus respectivos interesses e relações, e das próprias dinâmicas dos processos analisados para compreendê-los em sua complexidade. Ela propõe, portanto, que deve-se analisar historicamente as pluralidade e alterações para os diferente atores e seus processos históricos. E, que inclusive, agiam conforme seus interesses pessoais, podendo ser favoráveis ou não a coroa ou o Estado

os índios lutavam pelos seus próprios interesses que variavam e se alteravam conforme suas trajetórias e dinâmicas das relações estabelecidas com os demais grupos com os quais se envolviam, e podiam mudar de lado conforme os acontecimentos. Por isso é necessário estudos localizados, para identificar as motivações dos atores em suas complexas relações de aliança ou hostilidade” (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.4)

Celestino aborda que as novas tendências teóricas da história e da antropologia, que partem da historicização dos conceitos de cultura e etnicidade, têm fundamentado inúmeras pesquisas empíricas de caráter regional, nas quais os diferentes povos e comunidades indígenas, integrados ou não às sociedades envolventes, aparecem como sujeitos históricos que agem politicamente a partir de interesses próprios continuamente transformados na dinâmica de suas relações sociais.

 Os estudos no campo da etnogêneses propõem investigações nos processos de etnificação, que são entendidos como mudanças culturais e identitárias impostas por situações de contato “movimentos dos próprios povos indígenas que, em resposta às mais variadas situações de contato e violência, reelaboram práticas e relações culturais, políticas, econômicas e sociais, construindo, para si e para os outros, novas formas de identificação

(Boccara, 2001. apud CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.5)

O termo “Índio” foi utilizado pelos Europeus para retratarem todos os povos nativos do continente, que tinham como cultura e línguas diferentes. A a nomenclatura serviu também para distinguir os indígenas em a dos índios coloniais ou civilizados e a dos índios selvagens ou bárbaros. “Os primeiros foram incorporados à sociedade colonial e passaram a fazer parte da república dos índios, com um estatuto jurídico e social específico que lhes conferia obrigações e direitos. Os demais, chamados "selvagens", viviam nas fronteiras e impunha desafios à expansão colonial e, em princípio, deviam ser combatidos.” (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.5)

A diferenciação entre o indígena civilizado e o selvagem serviu principalmente em interesses da coroa Espanhola para a questão de conflitos, tendo em vista quem eram os aliados, realistas, e que eram seus bárbaros, que tendiam a se revoltar. O que rompe mais uma vez com a questão de homogeneidade entre povos, tendo inclusive indígenas favoráveis a cora e outros contra dentro de uma mesma família,

“Do século XVI ao XIX, essas categorias aparecem de forma bastante visível e dicotômica nas leis e nos discursos dos mais variados agentes, incluindo políticos, intelectuais, religiosos e os próprios índios. Classificações, portanto, que, dadas ou impostas pelas autoridades dominantes, podiam servir também aos próprios classificados que, muitas vezes, se apropriaram dos papéis e classificações a eles atribuídos, conforme os possíveis ganhos aí associados (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.5)”

Contudo, esses estudos alinhados com a antropologia proporcionaram revisões historiográficas sobre os processos de independência da América e de formação dos Estados americanos, pensando em dinâmicas locais e as atuações dos povos americanos para uma compreensão mais ampla, valorizando as culturas e políticas locais e pensando na participação dos indígenas nesses processos. Os indígenas que se aliaram a coroa passavam por um processo de “civilização”, que surgia principalmente com a questão da educação que a coroa propunha e a alfabetização em língua espanhola.

Esses indígenas consideravam a lealdade a Coroa por causa dos direitos e regalias que ela os ofereciam “reverenciados pelos índios por terem promulgado leis que criaram a república dos índios, garantindo-lhes as terras e os direitos comunitários” (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.8)”. A autora enfatiza que os indígenas que serviam a Coroa não a faziam por uma questão de enxergar o monarca como um ser supremo, mas sim pensando em seus interesses próprios “a massa da população não via o monarca como o supremo representante de um sistema de domínio, mas como fonte de toda justiça e símbolo da ordem social". (CELESTINO, Regina Maria. 2011. P.11”)

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