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RESENHA CRÍTICA: FILME “A NEGAÇÃO”

Por:   •  12/3/2020  •  Resenha  •  1.772 Palavras (8 Páginas)  •  703 Visualizações

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UNIÃO PIONEIRA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL - UPIS

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

MATHEUS QUEIROZ DE ASSIS

RESENHA CRÍTICA: FILME “A NEGAÇÃO”

Brasília/DF

2020

MATHEUS QUEIROZ DE ASSIS

RESENHA CRÍTICA: FILME “A NEGAÇÃO”

Resenha apresentada para a disciplina de Introdução aos Estudos Históricos, no curso de Licenciatura em História (Noturno), da União Pioneira de Integração Social - UPIS

Prof.  Sérgio Ricardo Coutinho dos Santos

Brasília/DF

2020

RESENHA CRÍTICA

FILME “A NEGAÇÃO”

 

Matheus Queiroz de Assis

O objetivo deste trabalho é analisar criticamente os aspectos histórico-pedagógicos, sociais e culturais do filme “A Negação”, produzido no ano de 2016 pelo diretor Mick Jackson e disponível na plataforma de streaming Netflix. Esta análise será feita com foco nos argumentos utilizados pelos dois personagens principais do drama histórico, a saber: Deborah Lipstadt (professora, historiadora e especialista americana sobre o Holocausto, representada por Rachel Weisz) e David Irving (escritor e historiador revisionista/negacionista do Holocausto, representado por Timothy Spall). Ademais, também será feita uma abordagem explicativa para esclarecer o que foi e o que representou o Holocausto judaico na História da humanidade, bem como, qual é o papel de um historiador que busca o esclarecimento da verdade.

Deborah Lipstadt é uma renomada pesquisadora que, em seu aclamado livro Denying the Holocaust: the growing assault on truth and memory (1993), ataca veementemente o historiador David Irving, um prolífico escritor de livros sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e sobre a Alemanha nazista de Adolf Hiter (1889-1945), dizendo que ele é "um dos porta-vozes mais perigosos da negação do Holocausto". No ano seguinte, após a publicação do livro de Lipstadt no Reino Unido, a historiadora realiza uma palestra para divulgar e abordar o conteúdo de sua obra, mas é prontamente interrompida por Irving, que estava sentado na plateia e desafia todos os ouvintes a apresentar-lhe algum documento que comprove a existência do Holocausto. Após várias discussões calorosas e ampla repercussão na mídia, o negacionista entrou com um processo por difamação nos tribunais ingleses contra Lipstadt e sua editora, a Penguin Books, no ano de 1996. Recebendo tal notificação, ela preparou sua defesa com a ajuda de uma equipe de primeira classe de advogados, historiadores e especialistas, e a partir desse momento um julgamento dramático irá se desenrolar ao longo do filme.

Entretanto, a escolha do palco de sua interpelação pelo negacionista possui uma razão estratégica: segundo a jurisprudência do Reino Unido, cabe ao acusado provar sua inocência em um processo como esse, e não ao denunciante apresentar o ônus da prova. Em adição a esse fator, a trama mostra que a ilha britânica apresentava – e continua apresentando - ao longo das últimas décadas um crescimento exponencial no número de grupos simpatizantes às ideias neonazistas, o que é contraditório, afinal a Alemanha nazista de Hitler provocou enormes prejuízos materiais, econômicos e humanos à Grã-Bretanha durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945). E não nos esqueçamos, também, do antissemitismo que sempre esteve presente por toda a Europa, em especial no Reino Unido, pois esse país – com posse de regiões do Oriente Médio desde a assinatura do Acordo Sykes-Picot no final da Primeira Guerra – teve de findar o Mandato Britânico da Palestina (1920-1948) em um processo global de descolonização afroasiática e ceder às pressões internacionais para a criação do Estado judeu de Israel, o que provocou um certo ressentimento da ala conservadora britânica contra o movimento sionista, que havia atingido seu ápice após a revelação do Holocausto perpetrado pelos nazistas: 6 milhões de judeus sem pátria que foram exterminados em campos de concentração e de trabalho forçados.

Para enfrentar esse espécime de pessoa com que se apresenta David Irving, é natural que surjam dois caminhos, embora opostos, para combatê-lo: o agir racional, representado pelos advogados de Lipstadt versus o agir emocional, observado nas atitudes da historiadora. Dessa dicotomia, pode-se dialogar com a noção de interdependência entre a memória, que é subjetiva e relembrada por Lipstadt para tentar dar voz de testemunho a alguns sobreviventes do Holocausto, e a História, que por sua vez é objetiva assim como a linha de defesa adotada pelos advogados, que vão até o campo de concentração Auschwitz-Birkenau na Polônia para fazer todos os tipos de indagações bilaterais e imparciais possíveis acerca das fontes históricas – o que se assemelha a ideia de “crítica erudita da fonte” inaugurada por Lorenzo Valla no século XV. O embate interno entre ela e seus defensores fica cada vez mais constante, o que também nos permite, para subsidiar e aprofundar essa questão, relembrar as diferenças presentes entre a filosofia experimental de Francis Bacon (1561 – 1626), em que a descoberta de fatos verdadeiros não depende do raciocínio silogístico aristotélico, mas sim da observação e da experimentação regulada pelo raciocínio indutivo – o que se aproxima da linha de pensamento de Lipstadt – e a filosofia racionalista/metódica de René Descartes (1596 – 1650), que privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como via de acesso ao conhecimento, além de considerar a dedução como o método superior de investigação filosófica – assemelhando-se à postura dos advogados da pesquisadora.

Felizmente, o saber racional prevaleceu nesse conflito cuja retórica argumentativa foi de caráter dialético, e os defensores de Lipstadt conseguiram demovê-la da ideia de depor contra Irving juntamente com sobreviventes do Holocausto. E com essa tática cautelosa, sua equipe de advocacia conseguiu desconstruir todos os argumentos toscos levantados pelo historiador revisionista, com destaque para a atuação incisiva do jurisperito Richard Rampton (Tom Wilkinson).

Entretanto, tão importante quanto vencer um processo judicial e, assim, se fazer ouvir a voz daqueles que perderam suas vidas no genocídio judaico, o filme traz à tona reflexões sobre o saber histórico e a respeito da função do historiador como um “mestre da verdade”. Para tal questionamento, o historiador e sociólogo francês François Dosse relembra-nos sobre o surgimento do “histor” em sua conhecida obra “A História” (2000):

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