Resenha - "O retorno de Martin Guerre".

O RETORNO DE MARTIN GUERRE

Lucas Pereira de Rezende^[1]

Yllan Mattos^[2]

Nascida em 1928, recebendo seu ph.D. em 1959 pela universidade Michigan, vindo a lecionar nas Universidades Brown, de Toronto, California, Berkeley e Princeton, Natalie Zemon Davis possui um grande destaque entre os historiadores. A autora possui como um de seus costumes a utilização de fontes como peças de teatro e registros tribunais na composição de suas obras. Atuou em conjunto com o roteirista Jean Claude Carrière e o diretor Daniel Vigne na composição do filme “Le Retour de Martin Guerre”, vindo a escrever um livro com o mesmo tema.

Em sua obra escrita, a família de Martin, que ainda criança, seu pai, Sanxi Daguerre, sua mãe e seu tio Pierre, se deslocam de sua propriedade familiar na região basca de Hendaye, uma aldeia localizada na fronteira espanhola, onde os habitantes se dedicavam à criação, pesca e agricultura em 1527, vindo a se instalar em Artigat, onde tiveram que aprender alguns costumes locais. O real motivo da mudança não fora revelado, mas as ameaças de guerra que pesavam sobre a região devido aos conflitos entre França e a Espanha se mostraram um fator relevante.

Dadas à luz, quatro filhas de Sanxi sobreviveram à mortalidade infantil. O tio de Martin, Pierre, se casou e seguiu o costume de que irmãos casados não deveriam viver na mesma casa. Logo após, Martin Guerre se casa com Bertrante Rols devido aos interesses econômicos vindos de ambas as famílias.

Durante os oito anos seguintes, o casal não obteve filhos, Martin Guerre era impotente, os mesmos acreditavam estar sob um “feitiço maléfico. Martin estava infeliz. Nada acontecia e, considerando que um casamento poderia ser desfeito no caso de não consumação após três anos, a família de Bertrante a pressionava para fazê-lo. Anos depois o “feitiço” fora desfeito e o casal conseguiu ter o seu primeiro filho, que veio a receber o mesmo nome de seu avô, Sanxi. Mas Martin continuava infeliz, poucas eram as coisas que lhe agradavam em Artigat, seu sonho era ter uma outra vida, longe dos campos. Perto de completar os seus vinte e quatro anos, com seu filho, Sanxi, ainda bebê, Martin roubou trigo de seu pai, o que o levou a fugir com medo do julgamento através das leis locais e do seu próprio pai, que era um homem severo, se refugiando em um palácio na Espanha, se tornando um lacaio e, logo após, um soldado, que viera a perder uma de suas pernas em batalha.

Sua esposa, por tempos se sentiu aliviada por não precisar ter relações sexuais, recusando a proposta de arrumar um novo conjugue, feita por seus pais. Bertrante sempre foi uma mulher que se preocupou com sua reputação, sua independência, se viu livre de certos deveres conjugais devido à impotência de seu marido.

Martin desaparece no momento em que uma nova relação entre Bertrante e sua mãe se instaurava. Seus pais morreram sem notícias do filho. Pierre assume a administração das propriedades do irmão e se torna tutor das irmãs solteiras de Martin, vindo a se casar com a mãe de Bertrante, que também perdera seu marido, salvando, assim, as boas relações entre as duas famílias. Em 1556 um homem se apresentou a Bertrante como Martin Guerre, mas o mesmo era antes, conhecido cpor Arnaud du Tilh.

Arnaud morava na aldeia de Sajas de possuiu uma infância totalmente diferente da de Martin Guerre, rescendo entre os meninos que se relacionava bem. Uma de suas maiores qualidades era sua memória. Sua aptidão memorial foi relevante durante todo o tempo em que coletou informações sobre a vida e os costumes de Martin para poder se passar por ele em Artigat, assumindo uma nova identidade em busca de uma nova vida e almejando a herança de Guerre, que era mais atraente do que a sua.

Já vivendo como Martin, Arnaud não fora diretamente para Artigat. Hospedado em uma aldeia vizinha, seguiu atuando em sua nova identidade, até que, então, os boatos chegaram aos ouvidos de sua família que correram para o saudar. O novo Martin estava irreconhecível, Bertrant e Pierre se posicionaram apreensíveis, até que Tilh começou a recordar suas atividades passadas em família, os levando a acreditar que ele era, realmente, Martin Guerre. Durante sua hospedagem, Bertrante o acompanhou em cuidados à uma doença, o que o levou a aprender mais sobre o passado do verdadeiro Martin, seguindo, após tratado, para Artigat. O casal teve mais duas filhas, mas só uma sobreviveu. Em sequência, o casal se converteu ao protestantismo.

O novo Martin veio a se tornar um comerciante, juntamente com Bertrante. Pierre começou a desconfiar da identidade do sobrinho logo após o mesmo solicitar que o tio prestasse conta sobre as heranças administradas por ele após o falecimento de seu pai. Martin já não se interessava pelas atividades que lhe traziam prazer. Pierre convence parte da aldeia que seu sobrinho era um impostor, sua esposa, mãe de Bertrante, tenta convencer a filha a deixar o marido e abrir um processo, mas tal proposta fora recusada. A família Guerre se divide devido aos boatos do impostor. Em sua defesa, Martin acusa o tio de estar mentindo devido ao fato do sobrinho ter solicitado que o mesmo prestasse contas. Pierre e seus genros batem em Martin, que é protegido por Bertrante.

Anos se passaram e Pierre continuou a reunir provas de que Martin era um impostor. Um novo escândalo surge quando Guerre é acusado de atear fogo em uma fazenda vizinha, é quando Bertrante, aflita, se vê obrigada a voltar ao lar de sua mãe. O novo Martin, já rpeso, vem a ser descoberto por Pierre, que juntou informações sobre sua verdadeira identidade. Bertrante, que sabia de toda a verdade, continuou a amar e cuidar do novo Martin, enviando suprimentos a ele, que se encontra preso em Rieux. O caso de Martin chegou aos juízes de Rieux, já que não fora resolvido em Artigat. A corte deveria ser capaz de trazer à tona a verdade sobre Martin Guerre após os depoimentos dos aldeões sobre o caso. Durante as fases do julgamento, diversas pessoas depuseram contra o novo Martin, alegando o conhecer como Arnaud, inclusive alguns familiares. O padrasto e mãe de Bertrante queriam, a todo custo, a morte do impostor. Mas Arnaudo, com sua boa memória, foi capaz, até mesmo, de descrever as roupas que os convidados haviam usado no casamento do verdadeiro Martin.