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Resenha crítica 'O Cortiço' de Aluísio de Azevedo

Por:   •  14/6/2016  •  Resenha  •  1.479 Palavras (6 Páginas)  •  2.925 Visualizações

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Resenha crítica – O cortiço

A obra que trabalharemos nestas próximas páginas é de autoria de Aluísio de Azevedo, que fora conhecido em sua época pela grande quantidade de obras publicadas e por ter sido um dos poucos, a ganhar a vida como escritor. De estilo naturalista, abordou temas importantes do seu tempo em suas obras. Em O cortiço, ele retrata a vida de personagens que têm essa habitação como ponto em comum. Desde o dono da estalagem, o ambicioso e inescrupuloso João Romão, até os trabalhadores que ali se instalavam e tornavam aquele seu meio.

Segundo Antônio Candido, Aluísio teria se baseado em L’Assommoir de Émile Zola para escrever a sua obra, posto que ambas têm importantes aspectos, como a história de trabalhadores pobres e amontoados numa habitação coletiva. O fato é que Aluísio conseguiu, através dessa inspiração, retratar a realidade brasileira e por em questão importantes pontos que não eram comumente indagados, como a semelhança do imigrante pobre branco ao escravo, as características animais dos trabalhadores, entre outras. Ao longo de toda a obra ele faz comparações com o mundo animal: o cortiço era o esterco e seus moradores as larvas.

Em torno da estalagem de João Romão, se passam muitas histórias de vidas de pessoas social e nacionalmente diferentes. De um lado, uma estalagem na qual moram lavadeiras, mães de família, uniões não oficiais e trabalhadores pobres; do outro, a família tradicional do Miranda, fruto de uma união consentida pela sociedade e de um gordo dote. Dessa forma, o cortiço age como uma “alegoria do Brasil”, um espaço onde todas as diversidades, raças, hábitos e costumes são misturados e aprendem a conviver, fazendo jus à mistura que é o Brasil.

Por ser um lugar compartilhado entre muitas pessoas que eram obrigadas a conviver tão de perto, essas acabam criando uma identidade comum pelo cortiço. Seja na hora de lutar juntas contra invasores ou a polícia, ou de palpitar sobre os relacionamentos alheios, esses moradores passam a ter uma vida juntos, na qual, de certa forma, um participava da rotina do outro. Essa ligação faz com que, no fim, todos os personagens que de início tinham diferenças tão claras passem a se enxergar como semelhantes em certos aspectos.

Um primeiro aspecto interessante quanto a questão racial envolvendo o romance é a relação de Jerônimo e Rita Baiana. Ele trabalhador português bom e honesto vem morar na estalagem para trabalhar na pedreira de João Romão, era “forte como um touro” e acostumado ao trabalho pesado. Vivia com sua mulher Piedade e só o que fazia da vida

era economizar dinheiro a fim de pagar o colégio da filha e quem sabe um dia poder voltar a sua terra natal da qual ele muito se entristecia por estar longe. Já Rita acaba sendo a personagem mais interessante da obra, é o estereótipo da mulata retratada com toda a sensualidade que poderia lhe ser dada. Rita nada mais é do que a representação de tudo que há de mais brasileiro: o samba, o café, o hábito de tantos banhos diários, a mania de festejar os dias de folga, a mestiçagem, entre outros. Tinha um relacionamento com o malandro e capoeira Firmo que fazia parecer que o fato de serem mestiços fosse responsável pela instabilidade da relação. É ai que a questão racial entra mais forte ainda, ela vê no branco português uma segurança. E Jerônimo, que desde que chegara aos trópicos começara a ser infectado pela natureza daqui, encontra na paixão por Rita o ápice de seu abrasileiramento. Ele é animalizado por ela, como um anjo corrompido pelo diabo, a natureza determinista leva Jeronimo para a terra traiçoeira. Assim, ele deixa de ser essa personificação do trabalho e se rende ao “calor dos trópicos”: apaixonado por Rita, ele deixa de trabalhar como antes, deixa para trás a mulher com quem era casado e vivia feliz até então, é responsável pelo assassinato do antigo caso da Baiana, deixa de pagar o colégio da filha e passa então a viver “amigado” com a mulata em um cortiço inferior e a não guardar mais dinheiro.

O que se pode entender é que esse português tipicamente ibérico, filho do trabalho, que via na força bruta e honesta a sua forma de conseguir um futuro melhor, ao entrar em contato com a típica brasilidade de Rita que provinha dos hábitos negros, é “infectado” e passa então a também viver nessa libertinagem que não o levaria a lugar nenhum. Dessa forma, o meio corromperia os que quisessem fazer parte dele, era quase impossível passar ileso. Digo quase, pois o dono da estalagem João Romão não somente não deixa o meio contamina-lo como ele domina e se sobrepõe ao meio.

João Romão na primeira fase do romance esta totalmente voltado em acumular dinheiro. Tem como braço direito nesta empreitada a escrava cafuza Bertoleza. Esta vivia amigada com João Romão desde a morte de seu anterior caso, passa a confiar a João Romão o controle de suas economias, acreditando que o mesmo tinha comprado a sua alforria. Representada como um burro de carga, sempre a questão animalesca presente, vive para trabalhar e assim enriquecer seu homem. Se totalmente diferente da outra mestiça da história, Rita Baiana, no sentido de ser resignada a seu homem as duas vão buscar se relacionar com um homem de uma raça superior:

Ele propôs-lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em meter-se de novo com um português, porque, como toda cafuza, Bertoleza não queria sujeitar-se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior a sua.” (AZEVEDO 2004: 007)

Mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.” (AZEVEDO, 2004: 111-112)

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