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RESENHA CRITICA - O QUARTO DE DESPEJO

Por:   •  15/3/2021  •  Resenha  •  1.248 Palavras (5 Páginas)  •  1.426 Visualizações

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Sobrevivendo ao Quarto de despejo

Laura Oliveira F. Alves

Alimentei, eduquei e amei meus três filhos. Catei papel, revirei lixo. Do papel também tirei meu alimento: a escrita

 – Carolina Maria de Jesus

Atualmente, diversas manifestações vindas diretamente da favela, correm mundo a fora por toda a cultura pop, o funk vem ganhando seu reconhecimento, o rap também conquistando seu espaço e diversos artistas levantando a bandeira da periferia. Porém, bem antes disso, na década de 1960, quando o país estava prestes a ser governado pelas forças armadas, os trajes detentores do privilégio da violência do estado, já havia vozes de manifesto. O protesto vindo da favela estava prestes a correr o mundo, através das letras transgressoras de Carolina Maria de Jesus, escritora que rompeu com os pressupostos de raça, gênero e classe que sustentam o cânone literário brasileiro.

Uma catadora de papel que conseguiu narrar seu cotidiano, expor a crueldade e a tristeza da vida de quem sobrevive nesses lugares carentes de absolutamente tudo. Por meio de uma linguagem extremamente simples, Carolina Maria denunciou o sistema social e político que fechavam as portas para esse sujeito periférico. Mostrou à situação miserável de quem vivia nas favelas e como o sofrimento era constante na vida desses indivíduos.

A vida na periferia é contada por muitos, em um mesmo parâmetro e pontos de vista, entre rimas e anseios o Racionais Mc’s já dizia em suas poesias:

O trabalho ocupa todo o seu tempo
Hora extra é necessário pro alimento
Uns reais a mais no salário
Esmola de patrão, cuzão milionário
Ser escravo do dinheiro é isso, fulano
Trezentos e sessenta dias por ano, sem plano”

 – Periferia é Periferia - Racionais MC’s

E Carolina, expressava o mesmo anseio perante o pertencimento dessa neste espaço de tantas dificuldades. Assim, todos os dias são dias uteis, feriados, datas comemorativas, nada ameniza, sacia ou conforta as dificuldades diárias, a fome, todos os dias a luta é constante como bem diz na poesia dos Racionais e em toda a obra “ O quarto de despejo”:

                                                  [pic 1]

O trecho é claro, uma única rotina de trabalho, nunca foi suficiente, os dias são intermináveis, e a contagem de dinheiro é feita a cada segundo como se quem vai em busca a esmola, pois não há outra solução. Não se há o luxo de respeitar o corpo, de aceitar indisposição, o dinheiro nunca dá conta de tudo, tem que se viver um dia de cada vez, sem plano sem certeza.

As datas se ressaltam, quando em dias de natal, ano novo, ou consciência negra, Carolina mostra a indiferença, a rotina incessante se mantém. Em dias de novo ano, não há comemoração, estabelecimento de novas metas, um novo futuro, e sim a mesmice, a mesma e velha luta para saciar a insaciável escravatura atual: a fome, como mesmo relata a autora no dia da Consciência negra.

Toda a luta de Carolina, e de outros sujeitos do qual ela menciona na narrativa, era para sair da favela, espaço que violentava a sua dignidade e condição de sujeito. Trazendo á tona a questão do titulo do livro, O quarto de despejo nada mais é do que os depósitos, onde e joga tudo aquilo que é descartável, aquilo que não esta no centro e por tanto, encontra-se na periferia, assim, para Carolina, a favela era para o mundo o quarto de despejo.

“ (...) As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.” ( Jesus, p.33)

   

A escritora narrou os sofrimentos, as dores, os preconceitos e as alegrias de um povo esquecido pela sociedade, que conviviam num ambiente impróprio para o ser humano. A favela na voz da autora está “nua” nas páginas do livro, apenas descrita como um espaço de depósito de pessoas.

Através dos escritos de Carolina, nota-se que na favela do Canindé, onde esta morava, não havia impermeado nenhuma ideia de pertença a comunidade, algo muito forte nos discursos contemporâneos acerca da vivência na periferia, como o do próprio Racionais, afinal o rap, possui como premissa de valor a abrangência da crítica feroz ao sistema social opressor, desigual e violento:

“O dinheiro tira um homem da miséria
Mas não pode arrancar
De dentro dele
A favela” – Negro Drama – Racionais MC’s

Por outro lado, a escritora problematiza também, a visão social comum que reinava entre os habitantes da “ cidade progresso” a respeito da vida na favela, onde viviam os chamados marginais:

“Nós somos pobres, viemos para as margens dório. As margens do rio são os lugares do lixo e dos marginais. Gente da favela é considerado marginais. Não mais se vê os corvos voando nas margens dos rios, perto dos lixos. Os homens desempregados substituíram os corvos” (Jesus, p.55)

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