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Resenha Compativa: Desmundo e Lingua-Vidas em português

Por:   •  10/10/2018  •  Resenha  •  1.598 Palavras (7 Páginas)  •  612 Visualizações

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Disciplina: História da Língua Portuguesa

Docente: Mateus Oliveira

Discentes: Matheus Filipe e Mariana Maia

Resenha Crítica Comparativa Entre As Produções Audiovisuais “Desmundo” E “Língua-Vidas Em Português”

Desmundo, filme de Alain Prescot, procura retratar com extrema fidelidade histórica, linguística e social o Brasil de 1570, nesse contexto o longa inicia com a chegada de um navio ao país, nele, Oribela (Simone Spoladore), é trazida por uma freira ao continente junto de outras garotas órfãs com o intuito de que aqui elas casem.

Logo após a chegada, as moças são designadas aos seus maridos, Oribela é obrigada a se casar com Francisco, um comerciante local, depois de sofrer vários abusos sexuais por parte de seu marido, Oribela foge, tenta esconder-se dentro de um bote com o objetivo de ser levada para longe daquele local, sua tentativa falha, três marinheiros a encontram e tentam violentá-la, são impedidos por Francisco e seus homens, os três marinheiros são mortos, e Oribela  é levada cativa de volta ao lar.

Lá ela é presa e passa alguns dias acorrentada, quando finalmente é libertada tem que sujeitar-se totalmente aos abusos de Francisco, diante de tal situação Oribela, ao conseguir certa quantia de dinheiro, foge novamente, se veste como homem e procura ajuda na figura de Ximeno Dias, que reluta, mas decide escondê-la em sua casa, os dois acabam desenvolvendo um relacionamento amoroso proibido, que resulta em um fogo cruzado entre Francisco e Ximeno, ao fim da narrativa Oribela volta para casa de Francisco, e tem um bebê, do qual não se sabe certamente quem é o pai, Ximeno, aparentemente morre no embate.

O longa levanta questões importantes a respeito da realidade do Brasil em 1570, a escravidão de negros e índios é latente, as mulheres assumem a figura de objetos, propriedades que são vendidas ou fornecidas para fins reprodutivos, a igreja assume papel importante dentro desse jogo de poder, onde a mulher indígena não serviria nem para a procriação, e a miscigenação era visto como algo nocivo.

Partindo do ponto de vista linguístico existe um esforço em recriar ou tentar reproduzir o que seria a linguagem da época, sendo assim, temos no longa um português que pode ser considerado arcaico, além disso a língua indígena tupinambá se faz presente no longa por meio dos índios.

Partindo de uma curiosidade linguística somos capazes de identificar no filme palavras em suas formas arcaicas e diferente da forma atual. O português bem como conhecemos hoje passou por uma série de mudanças no decorrer do tempo, o longa tendo ciência disso separa um ponto específico no tempo, e procura utilizar a linguagem que provavelmente estaria em vigor naquele período.

Formas como “animalia” e “fermosura” podem ser encontradas durante o longa, supõe-se que tais palavras ainda não haveriam passado totalmente pelas mudanças linguísticas que as deixaram em suas formas como conhecemos hoje: “animais” e “formosura”, por exemplo, em determinado ponto do filme a palavra “oiero” é mencionada, o que remete ao fato de que talvez em um português mais arcaico a forma atual “ouro” na verdade era marcada como “oiro”, já no latim sua forma era “auru”, expressões como “sai da có” também se fazem presentes.

Interessante é a semelhança ou aproximação que existe entre a forma de português apresentada no filme e o espanhol, como por exemplo na palavra “desgraciados”, devemos lembrar quanto a isso que ambas as línguas derivam de uma vertente em comum, o Latim, sendo assim é necessário considerar que o português arcaico constante no filme tenha talvez um nível de aproximação maior com espanhol do que a forma atual do Português Brasileiro, partindo de um ponto de vista histórico isso ocorreria porque quanto mais recuarmos no tempo, mais próximos as línguas estariam de sua fonte em comum, e mais semelhanças apresentariam entre si.

O tupinambá no filme é apresentado como a língua geral da qual os homens brancos se utilizariam para se comunicar com os índios, em uma realidade de línguas em contato como essa muitas vezes a comunicação é estabelecida por meios gesticulatórios ou até mesmo por palavras em comum, em determinado momento do longa Oribela tenta se comunicar com uma indígena, ambas não se entendem, somente quando a jovem grita o nome Francisco a indígena parece entender o que estava se passando, nesse caso a palavra era de conhecimento comum para ambas.

Em suma, o longa nos apresenta um português arcaico e recém-chegado ao Brasil, nos mostra o contato que ocorreu entre as línguas indígenas e africanas com a língua Portuguesa, e toda a relação entre dominador e dominado que essas línguas exerciam, levanta questões sobre como, através do tempo, as línguas mudam e evoluem, dada a sua natureza dinâmica e viva  e que sempre estão em constante processo de mudança.

O documentário “língua – vidas em português”, dirigido por Victor Lopes, foi filmado em 2001 e lançado no ano de 2004 a partir de uma parceria entre Brasil e Portugal. O filme traz diversos lugares do mundo nos quais a língua portuguesa é usada, são eles: Goa, na Índia; Moçambique; Portugal; Brasil; Macau, na China, Angola e Japão. Para tratar a respeito da língua, são levados em consideração os discursos de grandes escritores e também de pessoas comuns de cada um desses lugares. Sendo muito difícil dissociar língua e cultura, o documentário acaba também relatando muito dos aspectos sociais, históricos e culturais de cada povo, que, apesar de unidos pela linguagem, diferenciam-se, em muitos pontos, no que concerne à cultura.

De maneira geral, pode-se dizer que o documentário revela diversas nuances da língua, aspectos como a relação entre língua e cultura, diferenças linguísticas e a questão do uso do idioma como instrumento e elo de identificação são expostos e debatidos para que possa ter uma visão mais ampla do objeto central da obra.

Logo no início o escritor Mia Couto comenta a respeito da diversidade do português, que, por uma série de mecanismos históricos é uma das línguas europeias com o maior dinamismo e vivacidade, por isso traduz muitas culturas distintas. Com o desenvolvimento do filme, essa fala inicial vai se evidenciando, é possível perceber a complexidade e variedade de culturas que o português compreende. O valor histórico, como cita Saramago ao se referir à língua como fonte inesgotável de beleza; as religiões e cerimônias angolanas e brasileiras além das muitas e diferentes musicalidades demonstradas no documentário explicitam esse aspecto.    

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