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A Literatura e Educação

Por:   •  30/4/2019  •  Ensaio  •  1.997 Palavras (8 Páginas)  •  124 Visualizações

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Universidade de Brasília

Literatura e Educação

Professora: Paula Gomes

Aluna: Amanda de Oliveira Passos

Matrícula: 140128778

O ENSINO DA HISTÓRIA E A INTERDISCIPLINARIDADE NAS ESCOLAS

Por ser estudante de história, há um desafio muito maior em relação a tentativa de levar literatura para a sala de aula, principalmente para alunos menores, do Ensino Fundamental, faixa etária que acredito ser a menor que minha formação pode alcançar. Entretanto, para alunos do Ensino Médio, pensei em uma proposta interessante para trabalhar a literatura e ao mesmo tempo os auxiliar em outras matérias como Língua Portuguesa e Artes, por meio de uma tentativa de inter e transdisciplinaridade entre as matérias. Na análise de Frigotto (1995, p. 26), a interdisciplinaridade se apresenta como a forma de o "homem produzir-se enquanto ser social e enquanto sujeito e objeto do conhecimento social". Ela funda-se no caráter dialético da realidade social, onde há contradições, dualidades e movimentos complexos pelos quais a realidade pode ser percebida como uma só e diversa ao mesmo tempo, algo que nos impõe delimitar os objetos de estudo demarcando seus campos sem, contudo, fragmentá-los. Significa que, embora delimitado o problema a ser estudado, não podemos abandonar as múltiplas determinações e mediações históricas que o constituem, e as mediações históricas são um dos problemas mais importantes para professores da área de História. Depois de muito refletir, considero a obra "A Rosa do Povo" de Carlos Drummond de Andrade uma ótima maneira de testar essa proposta em sala.

Escrita entre 1943 e 1945 e publicado neste mesmo ano, "A Rosa do Povo" é considerado por inúmeros setores da crítica literária como a melhor obra de Carlos Drummond de Andrade. A obra é a mais extensa de todas do autor, sendo composta por 55 poemas. Os versos, geralmente curtos das obras inaugurais, tornam-se mais longos. Há um predomínio do verso livre (métrica irregular) e do verso branco (sem rimas). Embora em seu próprio título haja uma simbologia revolucionária, sem contar o número expressivo de poemas socialmente engajados, ela apresenta grande variedade temática e técnica.

Por causa da data em que foi escrita, já é explícito o principal tema da obra: o período da Segunda Guerra Mundial e da ditadura varguista. Diante disso, o autor traz temas como política, guerra e sofrimento e impotência do homem dentro de sua obra. Há uma tensão entre a participação política e adesão às utopias esquerdistas, de um lado, e a visão cética e desencantada, de outro lado, mostrando uma visão rica, complexa, polissêmica do autor, que demonstra acreditar que a verdade não é uma só, mas, ao contrário, tem várias faces.

Na obra, dentre vários poemas como "Elefante" e "A Flor e a Náusea", existe um em particular que gostaria de me atentar, e este seria o "Visão 1944". Abaixo temos o poema:

Meus olhos são pequenos para ver
a massa de silêncio concentrada
por sobre a onda severa, piso oceânico
esperando a passagem dos soldados.

Meus olhos são pequenos para ver
luzir na sombra a foice da invasão
e os olhos no relógio, fascinados,
ou as unhas brotando em dedos frios.

Meus olhos são pequenos para ver
o general com seu capote cinza
escolhendo no mapa uma cidade
que amanhã será pó e pus no arame.

Meus olhos são pequenos para ver
a bateria de rádio prevenindo
vultos a rastejar na praia obscura
aonde chegam pedaços de navios.

Meus olhos são pequenos para ver
o transporte de caixas de comida,
de roupas, de remédios, de bandagens
para um porto da Itália onde se morre.

Meus olhos são pequenos para ver
o corpo pegajento das mulheres
que foram lindas, beijo cancelado
na produção de tanques e granadas.

Meus olhos são pequenos para ver
a distância da casa na Alemanha
a uma ponte na Rússia,
onde retratos, cartas, dedos de pé bóiam em sangue.

Meus olhos são pequenos para ver
uma casa sem fogo e sem janela
sem meninos em roda, sem talher,
sem cadeira, lampião, catre, assoalho.

Meus olhos são pequenos para ver
os milhares de casas invisíveis
na planície de neve onde se erguia
uma cidade, o amor e uma canção.

Meus olhos são pequenos para ver
as fábricas tiradas do lugar,
levadas para longe, num tapete,
funcionando com fúria e com carinho.

Meus olhos são pequenos para ver
na blusa do aviador esse botão
que balança no corpo, fita o espelho
e se desfolhará no céu de outono.

Meus olhos são pequenos para ver
o deslizar do peixe sob as minas,
e sua convivência silenciosa
com os que afundam, corpos repartidos.

Meus olhos são pequenos para ver
os coqueiros rasgados e tombados
entre latas, na areia, entre formigas
incomprensivas, feias e vorazes.

Meus olhos são pequenos para ver
a fila de judeus de roupa negra,
de barba negra, prontos a seguir
para perto do muro - e o muro é branco.

Meus olhos são pequenos para ver
essa fila de carne em qualquer parte,
de querosene, sal ou de esperança
que fugiu dos mercados deste tempo.

Meus olhos são pequenos para ver
a gente do Pará e de Quebec
sem notícias dos seus e perguntando
ao sonho, aos passarinhos, às ciganas.

Meus olhos são pequenos para ver
todos os mortos, todos os feridos,
e este sinal no queixo de uma velha
que não pôde esperar a voz dos sinos.

Meus olhos são pequenos para ver
países mutilados como troncos,
proibidos de viver, mas em que a vida
lateja subterrânea e vingadora.

Meus olhos são pequenos para ver
as mãos que se hão de erguer, os gritos roucos,
os rios desatados, e os poderes
ilimitados mais que todo exército.

Meus olhos são pequenos para ver
toda essa força aguda e martelante,
a rebentar do chão e das vidraças,
ou do ar, das ruas cheias e dos becos.

Meus olhos são pequenos para ver
tudo que uma hora tem, quando madura,
tudo que cabe em ti, na tua palma,
ó povo! que no mundo te dispersas.

Meus olhos são pequenos para ver
atrás da guerra, atrás de outras derrotas,
esta imagem calada, que se aviva,
que ganha em cor, em forma e profusão.

Meus olhos são pequenos para ver
tuas sonhadas ruas, teus objetos,
e uma ordem consentida (puro canto,
vai pastoreando sonos e trabalhos).

Meus olhos são pequenos para ver
esta mensagem franca pelos mares,
entre coisas outroras envilecidas
e agora a todos, todas ofertadas.

Meus olhos são pequenos para ver
o mundo que se esvai em sujo e sangue,
outro mundo que brota, qual nelumbo
- mas vêem, pasmam, baixam deslumbrados.

...

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