TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

BRINQUEDO E CULTURA GILLES BROUGÈRE - RESUMO

Por:   •  26/1/2017  •  Resenha  •  10.113 Palavras (41 Páginas)  •  5.974 Visualizações

Página 1 de 41

BRINQUEDO E CULTURA

GILLES BROUGÈRE

Associar brinquedo e cultura não é, ainda, uma atitude frequente entre os poucos pesquisadores que se interessam pelo brinquedo.  São os psicólogos que, normalmente se debruçam sobre o estudo do brinquedo, orientando seus trabalhos, sobretudo, sobre os efeitos do uso do objeto sobre a criança. O que propomos, é considerar o brinquedo como produto de uma sociedade dotada de traços culturais específicos, merecendo ser estudado por si mesmo, transformando-se em objeto importante naquilo que ele revela de uma cultura.

Ele está inserido em um sistema social e suporta funções sociais que lhe conferem razão de ser. O brinquedo faz parte de um sistema de doação ritualizado entre pais, familiares e as crianças, uma das funções sociais do brinquedo é a de ser o presente destinado à criança, de forma relativamente independente do uso que se fará dele. Possui outras características, a de ser um objeto portador de significados rapidamente identificáveis: ele remete a elementos legíveis do real ou do imaginário das crianças. É rico de significados que permitem compreender determinada sociedade e cultura.

O uso dos brinquedos é aberto. A criança dispõe de um acervo de significados. Ela deve interpretá-los: deve conferir significados ao brinquedo, durante sua brincadeira. Neste sentido, o brinquedo não condiciona a ação da criança: ele lhe oferece um suporte determinado, mas que ganhará novos significados através da brincadeira.

Nosso objetivo é compreender o funcionamento social e simbólico do brinquedo. Que o leitor brasileiro tire suas próprias conclusões: não cabe a nós dizer o que pensar sobre este ou aquele objeto lúdico, que talvez pertença a sociedades cujas condições sociais e culturais abrem novos caminhos para a pesquisa.

O brinquedo, objeto extremo

O objeto sem função, pode perder seu sentido usual, sua utilidade. Se o objeto é analisado como uma estreita associação entre uma função e um valor simbólico (ou sua significação social produzida pela imagem), podem-se distinguir aqueles nos quais predomina a função (ex: objetos técnicos) daqueles em que o valor simbólico parece essencial (ex: roupas, mobília), sem eliminar sua função. Onde encontramos o domínio exclusivo do valor simbólico é no campo da arte tal como ela se desenvolveu, como valor absoluto, independentemente de qualquer uso. Um objeto como o brinquedo é marcado pelo domínio do valor simbólico sobre a função, a dimensão simbólica torna-se, nele, a função principal. O domínio da imagem aproxima-o da obra de arte, mostra a grande riqueza simbólica e nem por isso, ele é não funcional, na medida em que essa dimensão funcional vem, justamente, se fundir com seu valor simbólico, com sua significação enquanto imagem. Para justificar essa análise do brinquedo, precisamos delimitar o que é legítimo chamar de brinquedo. No conjunto dos objetos lúdicos (nos catálogos e revistas de brinquedos), há uma distinção, entre os brinquedos dos jogos.

O chamado jogo pressupõe a presença de uma função como determinante no interesse do objeto, e anterior a seu uso legítimo: trata-se da regra, como se usa ou como se monta. Mesmo que para esses objetos a imagem seja essencial, a função justifica o objeto na sua própria existência como suporte de um jogo potencial.  Os jogos de sociedade (como o jogo MONOPÓLIO [1] ) não são puras expressões de princípios lúdicos, mas são cada vez mais a representação de um aspecto da vida social. Associam valor simbólico e função, como o jogo de xadrez faz há séculos, neste caso, a imagem desapareceu sob a estrutura do jogo cujas peças significam aspectos diferentes pela sua própria forma, podendo o jogador esquecer os símbolos ancestrais subjacentes.

O brinquedo, em contrapartida, não parece definido por uma função precisa: trata-se, antes de tudo, de um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza. O brinquedo é um objeto infantil e falar em brinquedo para um adulto torna-se, sempre, um motivo de zombaria, de ligação com a infância. O jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto: ele não é restrito a uma faixa etária. Os objetos lúdicos dos adultos são chamados exclusivamente de jogos, definindo-se, assim, pela sua função lúdica. O brinquedo é um objeto distinto e específico, com imagem projetada em três dimensões, cuja função parece vaga. Com certeza podemos dizer que a função do brinquedo é a brincadeira. Mas, desse modo, definimos um uso preciso. A brincadeira não pertence à ordem do não funcional, a brincadeira escapa a qualquer função precisa.

O que caracteriza a brincadeira é que ela pode fabricar seus objetos, em especial, desviando de seu uso habitual os objetos que cercam a criança; além do mais, é uma atividade livre, que não pode ser delimitada. Brincar com uma bonequinha ou um automóvel em miniatura, falta uma definição precisa da utilidade, só se podendo dizer que ela tem relação com o fato de que o brinquedo é um automóvel ou uma representação humana, o que é voltar à imagem.

Se analisarmos o brinquedo em relação à função (uso em potencial) e ao valor simbólico (significação social produzida pela imagem), podem-se distinguir aqueles nos quais predomina a função daqueles em que o valor simbólico parece essencial sem que se possa, no entanto, eliminar sua função. Sem função, o objeto pode perder seu sentido usual, ou seja, perde sua utilidade.

O brinquedo não se deixa incluir nessa análise: ele é marcado, de fato, pelo domínio do valor simbólico sobre a função, ou seja, a dimensão simbólica é a sua função principal. Esse domínio aproxima-o da obra de arte e nos indica a grande riqueza simbólica da qual ele dá testemunho. Porém, nem por isso, ele é não funcional, na medida em que essa dimensão funcional vem, justamente, se fundir com seu valor simbólico, com sua significação enquanto imagem.

Precisamos, em primeiro lugar, delimitar o que é legítimo chamar de brinquedo, apoiando-nos no uso comum da palavra.

É claro que os jogos de sociedade não são puras expressões de princípios lúdicos. Após o Monopólio, os jogos são cada vez mais a representação de um aspecto da vida social. Eles associam valor simbólico e função, como o jogo de xadrez.

O brinquedo é, antes de tudo, de um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza.

Podemos destacar como diferença entre o jogo e o brinquedo:

O brinquedo é um objeto infantil e falar em brinquedo para um adulto torna-se, sempre, um motivo de zombaria, de ligação com a infância. O jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto: ele não é restrito a uma faixa etária. Os objetos lúdicos dos adultos são chamados exclusivamente de jogos, definindo-se, assim, pela sua função lúdica.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (66.5 Kb)   pdf (308.4 Kb)   docx (979.9 Kb)  
Continuar por mais 40 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com