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INDÚSTRIA CULTURAL E SEMIFORMAÇÃO: DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO SOB ATAQUENOS PAÍSES IBERO-AMERICANOSÀ LUZ DA TEORIA CRÍTICA

Por:   •  22/9/2021  •  Artigo  •  6.129 Palavras (25 Páginas)  •  77 Visualizações

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INDÚSTRIA CULTURAL E SEMIFORMAÇÃO: DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO SOB ATAQUENOS PAÍSES IBERO-AMERICANOSÀ LUZ DA TEORIA CRÍTICA

Indústria Cultural e Semiformação: democracia e educação sob ataque nosPaíses Ibero-americanosà luz da teoria críticaRIAEE–Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação,Araraquara, v. 14, n. esp. 4, p. 1883-1898, dez. 2019. E-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v14iesp.4.129121889exatamente o contrário. Assim, apressão econômica, que continua estimulando a luta pela autoconservação, leva àsemiformação socializada e, por que não dizer, àeducação e à vida danificadas. Soma-se a essa situação a aparência de que a indústria cultural democraticamente promove o acesso de todos os indivíduosaos bens culturais, independentemente da origem social, o que, por sua vez, estimula ainda mais o consumo, mas somentedaquilo que confirma o status quo.Em resumo, a ideologia da indústria culturalopera os seguintes termos: sempre é transmitida uma ordemque deve ser aceita por todos, mas tal ordem não pode ser (e nunca é)confrontada com os reais interesses dos seres humanos(ADORNO, 1986); funciona fornecendo compensações de modo que os indivíduos aceitem que nada deve ser feito porque nada pode ser mudado, afinal aquilo que poderiam ser como seres humanos foi reduzido ao que já são.Adorno (1986, p.93) afirma:O consumidor não é rei, como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é sujeito dessa indústria, mas seu objeto. O termo mass media, que se introduziu para designar a indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é inofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem das técnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes é insuflado, a saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa da consideração em relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade destas, que ela toma como dada a priorie imutável. É excluído tudo pelo que essa atitude poderia ser transformada. As massas não são a medida, mas a ideologia da indústriacultural, ainda que esta última não possa existir sem a elas se adaptar. No cenário da indústria cultural,há a propagação sem medida da fetichização da técnica e da reificação das consciências. Ofeticheda mercadoria, conceito cunhado por Karl Marx nasua obra O Capital, na segunda metade do século XIX,advém do fatode que no seu caráter de coisaela esconde as relações sociaisea exploração do trabalhadorpelo capital. Além do valor de uso, existenteem qualquer produto, há o valor de troca. O primeiro diz respeito àutilidade ou àpropriedade material que um produto possui para o processo de satisfação das necessidades humanas. Já o valor de troca, por sua vez, refere-se ànecessidade de o capital produzir equivalência entre as mercadorias, inclusive à força de trabalhocomo mercadoria, poisesse mecanismo,que abstrai o valor de uso e as reais necessidades humanas, permite a acumulação e a reprodução do capital. Em outros termos, na mercadoria estão ocultas a dominação social e a exploração econômica dos não proprietários dos meios de produção, formas de satisfação da necessidade do capital: o lucro.Ofetiche da mercadoria cria a ilusão de que o consumo de produtos, quer sejam materiais, quer sejam culturais, quer sejam serviços,atende às necessidades humanas, além de tornar supérfluoo necessário e vice-versa(MARX, 2006).A percepção do indivíduo, nesse sentido, fica presa à

Marta Regina Furlan de OLIVEIRA, Maria Terezinha Bellanda GALUCHe Carlos Antônio GIOVINAZZO JÚNIORRIAEE–Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 4, p. 1883-1898, dez. 2019. E-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v14iesp.4.129121890aparência da mercadoriae àfalsa identidade entre ouniversal e o particular (ADORNO;HORKHEIMER, 1985), a partir doque, de certo modo, estabelece frequentemente relações imediatas entre as manifestações isoladas de um fenômeno e a totalidade social e econômica sem desconfiar que entre uma e outra há umavariedade de mediações possíveise necessárias. A manipulação se realizapela associaçãode forma direta entre a posse de uma mercadoria, a satisfação momentânea e a felicidade. As massas, afirmei, são manipuladaspor força de seus próprios interesses. Porisso, os fenômenos manipulativos falam sobre a língua de interesses reais, ainda que como língua estrangeira de interesses alienados e desfigurados, portanto, irreconhecíveis.A objetividade da felicidade e do sofrimento fundamenta também a da manipulação(HAUG, 1997, p.14). Este mecanismo do fetiche da mercadoria está presente na indústria cultural. Para Adorno e Horkheimer (1985, p. 113),issoconfereà culturacomo mercadoria“um ar de semelhança”; os produtos se entrelaçam em um sistema. Não é de menor importância a tendência aos standards: produçõesculturaiseindivíduos são submetidos a leis da equivalênciaque enquadram a criatividade,a imaginação, a percepção e a experiência nos moldes da economia política, afetandoos sentidos em igual medida tanto de quem produz os bens culturaiscomodaqueles que os recebem. Trata-se de uma situaçãoque potencializa a racionalidade da própria dominação,a qual possui o “caráter compulsivo da sociedade alienada de si mesma” (ADORNO;HORKHEIMER, 1985, p.114); o indivíduo que se diferenciedesse formato comume únicoou que nele se destaque, justamente por se adaptar,élogo descoberto pelos “caçadores de talento”. Issoé um modo de conter a reflexão crítica e manter a ordem estabelecida, elevandoà condição de popstara pessoa que participadesse fenômeno, aexemplodorecente status alcançadopor blogueiros, youtuberse os chamados influenciadores digitais.6Os mesmos autores afirmamque “o esquematismo do procedimento mostra-se no fato de que os produtos mecanicamente diferenciados acabam por se revelar sempre como a mesma coisa”; isso significa dizerque somente artificial e aparentemente os indivíduos fazem opções, pois prevalece aquilo que lhes é imposto. No entanto, cadaum tem a falsa ideia que age de acordo com suas próprias escolhas, ou seja, o indivíduo que está na base da sociedade burguesa, cuja liberdade foi a sua bandeira de luta, encontra-se paralisado, controlado, porém crente que possui liberdade de 6As redes sociais são estruturas formadas, principalmente no âmbito dainternet, por pessoas e organizações que se

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