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Resenha do Livro Conversas com quem gosta de ensinar

Por:   •  28/3/2021  •  Resenha  •  3.151 Palavras (13 Páginas)  •  829 Visualizações

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ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. São Paulo: Cortez Editora, 1980.

Data: 28.03.2021

Danielle da Silva Pereira

Considerado uma das maiores referências em educação brasileira, Rubem Azevedo Alves nasceu em Dores da Boa Esperança, Minas Gerais, no dia 15 de setembro de 1933, e teve uma infância tranquila e feliz. Ainda jovem conheceu os efeitos do bullying quando frequentou um colégio carioca de padrão elitista, por ter sotaque mineiro do interior. Isso fez com que Rubem Alves se fechasse em seu mundo e começasse a se cercar de atividades artísticas como o piano e atividades religiosas ligadas ao protestantismo onde se sentiu acolhido[1].

Essa vivência religiosa o despertou para o aprofundamento na área de teologia, o que o tornou Bacharel em Teologia aos 24 anos de idade em Campinas – São Paulo, ao mesmo tempo em que graduava seus estudos em piano. Depois do seminário, torna-se pastor presbiteriano, mas percebeu que a sua linha de raciocínio era contrária ao da igreja com a qual ele congregava. O pensamento de Alves não era muito convencional.

Isso provocou o seu exílio nos Estados Unidos, frente ao período da ditadura militar no Brasil, período esse que foi aproveitado por ele para concluir os seus estudos de doutoramento em teologia na cidade de Princeton. O regresso ao Brasil a partir de 1968 é marcado pelo início da sua carreira acadêmica, e logo depois pela carreira de escritor.

A carreira de escritor foi consagrada por uma intensa produção literária nas áreas da educação, da teologia e do cotidiano. “Conversas com quem gosta de ensinar” é uma obra publicada em 1984, e versa sobre vários aspectos relacionados ao processo educacional no Brasil.

 A obra é dividida em quatro capítulos (amar – acordar – libertar – agir) em uma narrativa descontraída e espontânea que faz parecer mesmo que o autor bate um papo com o leitor do início ao fim da obra, como o autor mesmo cita “as conversas que se seguem são conversas mesmo, longe da seriedade acadêmica”.

Inicialmente o autor traz a sua concepção sobre o dinamismo do processo educacional com o passar do tempo. Quais mudanças no cenário da educação foram sentidas com o advento da modernidade? Quais profissões estão em processo de extinção, e quais são as que se encaixam no novo contexto capitalista? Que expectativas essas mudanças culturais da sociedade nos trazem?

No primeiro capítulo “Sobre jequitibás e eucaliptos” o autor demonstra a sua preocupação com o sumiço de algumas profissões quando o tema “A formação do educador” lhe foi proposto. Para o autor, assim como outras profissões o educador saiu de cena, para dar lugar ao cargo de professor. Aqui ele usa o comparativo desses ofícios com plantas: os jequitibás são como educadores, nascem livremente, em terreno fértil, desorganizados na sua organização natural, mas que carregam a sua essência, a sua personalidade. Já os eucaliptos são como os professores, nascem de um objetivo em comum: o lucro.

Para Alves a educação é um processo puro, artesanal, entre dois sujeitos que possuem alma, sentimentos, tristezas, decepções, frustrações, anseios, sonhos... E não uma relação artificial, para fins meramente administrativos e econômicos, onde a relação de ensino-aprendizagem é reduzida a um crédito de disciplina curricular. “De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções” disse Alves.

Alves explica que a educação é um processo que não pode ser independente dos sujeitos envolvidos: “Descobriu-se que a educação, como tudo o mais, tem a ver com instituições, classes, grandes unidades estruturais, que funcionam como se fossem coisas (...)” (p.16).

A institucionalização das organizações parece preocupar o autor no sentido de que para que uma universidade, por exemplo, seja autônoma, e aparelhada ao Estado, os seres humanos passam a servir para a lógica dessas instituições, assumindo os seus cargos e funções, que não levam em consideração aspectos pessoais e humanísticos de cada ser humano. “A interioridade foi engolida”. E então é lançado o seguinte paradoxo pelo autor: para que possamos conhecer o mundo humano é necessário que o homem seja silenciado.

Para o autor, não é possível administrar uma vocação. Ela deve ser gerada, despertada em cada pessoa, como se um ato de amor a criasse, e a evocasse do interior da alma. “A questão não é gerenciar o educador. É necessário acordá-lo. E, para acordá-lo, uma experiência de amor é necessária” (p.19). O autor compreende que há a instauração de uma dialética, pois todos somos educadores e professores, vocação e profissão.

Alves questiona o fato das pessoas se submeterem a um trabalho o qual não se faz por prazer, e sim para dele se dar ao luxo de se dedicar ao que gosta fora do trabalho, e que só por essa linha de pensamento é que a aposentadoria ao final faz sentido. Já que para o autor pensar em se aposentar fazendo o que ama não faz muito sentido. “Como deve ser sem sentido a vida de alguém que, após vinte e cinco anos, se sente exaurido!”.

A mensagem final do primeiro capítulo é que talvez o educador não esteja extinto e sim adormecido, em algum canto da memória, muito mais próximo do presente do que do passado. E que todos nós fomos hipnotizados pela objetividade da ciência, que nos intimidou e nos silenciou, e a ausência desse fala faz o nosso discurso ficar vazio de significação humana.

Assim, o discurso da escola ficou, progressivamente, como algo solto no ar, que não se liga, pelo desejo, nem aos que fazem de conta que ensinam, nem aos que fazem de conta que aprendem. Ninguém fala. Quem fala é um sujeito universal, abstrato: observa-se, nota-se, constata-se, conclui-se. Não foi assim que nos ensinaram? Não foi assim que ensinamos? (p.23)

O capítulo 2 intitulado “Sobre o dizer honesto” começa com o autor fazendo uma parábola para introduzir o tema “ideologia da educação”. O autor nos conta que havia uma sociedade de rãs que viviam no fundo de um poço e que só puderam conhecer um pouco do que havia fora do poço através de um pintassilgo, uma espécie de ave, que lhes contava tudo o que via. “Os limites do seu poço denotavam os limites do seu mundo”.

Porém, um grupo de filósofos da sociedade das rãs pareceu contrário a tudo o que o pintassilgo falava, o acusando de pregar uma ideologia falsa e ao mesmo tempo alienante, isto é, para eles o mundo que os cercava era somente os limites do poço e nada mais. A conclusão da estória é que a pobre ave foi morta por esse grupo de filósofos. “Boca que conta mentira não merece falar”.

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