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Resenha do Livro: O que é Educação

Por:   •  1/4/2022  •  Resenha  •  2.227 Palavras (9 Páginas)  •  563 Visualizações

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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Coleção primeiros passos; 20)

O livro “O que é educação”, escrito por Carlos Rodrigues Brandão, foi publicado pela primeira vez em 1981 pela editora brasiliense. Brandão nasceu no Rio de Janeiro, no qual se formou em psicólogo na PUC. Em 1967 atuou como professor universitário em Brasilia (UnB), Goiânia (UFG) e agora em Campinas (UNICAMP). Se tornou antropólogo através dos cursos na UnS e na USP e hoje em dia dedica seu campo de estudo, pesquisas e aulas de Antropologia Social. A obra gira em torno da educação relatando suas características e história separada em 10 tópicos e o último sendo uma indicação de leitura.  

Brandão inicia sua obra fazendo uma reflexão acerca de que a educação existe em todos os lugares seja nas ruas, igrejas, tribos que em qualquer ambiente social se pode aprender e ensinar, assim como ele notoriamente afirma “ninguém escapa da educação”, portanto para Brandão não são só as escolas o único lugar que transmite educação, assim como não há um único modelo ou forma de se educar além de o professor profissional também não ser o único que pode exercer essa função são diferentes educações que existem nas sociedades, com base nisso o autor toma como exemplo a carta que os índios fizeram para os colonizadores. Eis um trecho da carta:

Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa idéia de educação não é a mesma que a nossa.

Assim como Brandão afirma que a educação é a construção social de um povo e que está envolvida também na transmissão de ideias, trocas de símbolos e etc.… em virtude disso as concepções de educação se tornam diferentes e variam de acordo com as necessidades e interesses, por isso que a educação dos colonizados não era válida para os índios. O autor também mostra que a educação além desse repasse de crenças, por exemplo, pode ser usada como uma espécie de dominação e controle do sistema que detém do saber para fortalecer a desigualdade social.

No decorrer de sua obra Brandão continua na mesma linha de pensamento, no qual a educação está em toda parte não sendo necessário um modelo sistemático para que haja o ensino e aprendizagem, pois, o homem consegue transmitir seu conhecimento na convivência e assim passar de geração em geração o autor traz como exemplo a educação nas aldeias dos povos tribais, relatando sobre uma educação familiar voltado à prática, em que as crianças desde cedo no convívio aprendem através da observação e imitando os gestos de quem ensina, por exemplo, as meninas por intermédio das mães e avós são ensinadas a cozinhar e colher bons frutos e os meninos pelos avós e pais a como caçar e produzir arco e flecha. São processos que não possuem mestres especializados o autor apresenta na obra a explicação do sociólogo Émile Durkheim para esse fato:

Sob regime tribal, a característica essencial da educação reside no fato de ser difusa e administrada indistintamente por todos os elementos do clã. Não há mestres determinados, nem inspetores especiais para a formação da juventude: esses papéis são desempenhados por todos os anciãos e pelo conjunto das gerações anteriores.

Brandão afirma que esses processos estão presentes em vários momentos do cotidiano podendo surgir de forma natural, por exemplo, no trabalho, lazer, no momento de descontração, assim agindo de maneira direta ou indiretamente e inicializando o processo de aprendizagem e treinamento, com isso cada comunidade adquire seu modo de desenvolver, criar técnicas e métodos e todo esse conjunto de saber que cada indivíduo aprende, dependendo do seu meio social, vai formar um tipo de modelo de homem ou de mulher que vai ser projetado aos seus descendentes. Tal conjuntura o autor denomina de socialização.

Discorrendo no texto Brandão apresenta o ensino formal que surge a partir da criação de métodos específicos, regras, do tempo e pessoas especializadas o autor vai expor que com a divisão social do trabalho e o poder que ocorrem também nas sociedades primitivas começa a surgir uma hierarquia, no qual o saber vai se dividir desigualmente e assim ser usada para reforçar as diferenças sociais criadas pelas sociedades destruindo aquele saber comunitário e sendo moldado agora sistematicamente, desse modo segundo o autor: “Este é o começo do momento em que a educação vira o ensino’’. Brandão evidencia também que com essa concepção de educação o ensino se torna diferenciado dependendo da classe que se encontra, o que provoca a dominação de uns sobre os outros.

O autor traz alguns exemplos de ensinos especializados em lugares, como na África em que as escolas são divididas por sexos, ou seja, existe a escola Poro destinada aos meninos e a escola Saden para as meninas e os conteúdos variam desde as crenças, e tradições até os ofícios de guerra, já na Nova Zelândia o ensino é totalmente distinto todos os ensinamentos são repassados para ambos os sexos por professores-sacerdotes com cursos voltado, tanto para a teoria, quanto para a prática, além de haver uma dupla divisão no ensino na mandíbula superior aprendem sobre os segredos do sagrado e na mandíbula inferior envolve assuntos terrenos.    

Brandão vai defender que por mais que haja essa hierarquia de saber este ensino formal e dividido não tem como fugir e esquecer totalmente a educação livre e familiar sendo a única troca de saber universal e que ainda persiste no desenvolvimento da humanidade, assim consistindo esse “espaço educacional” denominado por ele o único que aprende e ensina para a vida.

Seguindo a obra o autor vai relatar sobre a educação na antiguidade, dando destaque a sociedade grega que tinham como modelo de educação ideal e ético a paidéia, em que consistia na construção do homem perfeito transformando em homens livres e educados adquirindo o pleno desenvolvimento para a vida na polis e era um sistema educacional voltado à busca da verdade e da beleza por meio dos estudos da retórica, matemática, filosofia... Brandão vai relatar que mesmo no ápice da democracia grega o poder e as propriedades eram restritas aos cidadãos do estado, o que reforçava as divisões das classes sócias e consequentemente as camadas inferiores não tinham acesso ao saber da Paidéia, descreve ele:

O poder pertence aos estratos mais nobres destes cidadãos ativos, e a vida e o trabalho colocam de um lado os homens livres, senhores e, de outro, os escravos ou outros tipos de trabalhadores manuais expulsos do direito do saber que existe na paidéia.    

Mas é só quando a  participação da cultura e da vida pública coloca como necessidade o acesso do saber a todos é que as escolas se abrem para qualquer menino livre. O autor persiste falando que com essa desigualdade educacional gerada, as diferenças de “saber de classe” fazem com que criem diferentes educadores, tendo assim uma dupla divisão de um lado os mestres-escola e artesãos-professores destinados a instrução para o trabalho e do outro os escravos pedagogos e educadores nobres educando para o poder e para a vida social. Brandão traz um questionamento acerca do pelo qual motivo são os escravos pedagogos que mais educavam e não os mestres-escola, relata que é devido ao maior convívio entre crianças e adolescentes ser com os escravos pedagogos, pois formavam a educação do indivíduo ensinando todos os conceitos da cultura da polis para a vida.  

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