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A criança autista

Artigo: A criança autista. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  17/11/2014  •  Artigo  •  1.263 Palavras (6 Páginas)  •  242 Visualizações

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A criança autista

A criança com autismo se isola das pessoas. Foge do olhar e da voz dos outros, sobretudo quando se fala diretamente com ela.

O QUE CARACTERIZA A VOZ HUMANA E O OLHAR QUE FAZ COM QUE SE FUJA DELES?

Tanto o olhar como a voz implicam a subjetividade daquele que olha ou daquele que fala. Portanto, nesse âmbito há sempre uma dimensão do imprevisível. Não é difícil observar como a criança autista foge do olhar e da fala dos outros. Através dos testemunhos dos autistas podemos compreender que o sentido da comunicação não é evidente para eles. Isso porque falar não consiste apenas em passar informações, mas porque as palavras, ao serem ditas, deixam escapar os elementos propriamente subjetivos da pessoa que fala. E isso é o que retém a criança autista e faz com que ela se afaste. É como se ela se perguntasse: “Por que ele fala comigo? O que ele quer de mim?” Diante da dificuldade de dar sentido a essas perguntas, ela pode se sentir invadida por um sentimento de estranheza e de angústia.

QUAL É A CONSEQUÊNCIA DESSA RECUSA DA VOZ, DAS PALAVRAS DOS PAIS, DOS EDUCADORES E DO RESTO DAS PESSOAS QUE A RODEIAM?

A consequência de tudo isso é que, ou bem ela não fala e se mantém num mutismo ou, se concede em fazê-lo, ela se limita à repetição de uma palavra ou de fragmentos de frases que escutou em algum lugar.

Às vezes as palavras que ela escuta são apenas “ruído” para ela e ela guarda apenas algumas que lhe interessam particularmente.

POR QUE TANTA DIFICULDADE PARA FALAR?

Porque não é a mesma coisa compreender uma linguagem, inclusive conseguir pronunciar palavras, do que falar.

Há uma distância e uma diferença entre pronunciar e repetir palavras, e falar com os outros. Para poder aceder à função da fala capaz de se organizar num dizer ao outro, é necessária a interação com essa outra pessoa. Portanto, a recusa da criança autista aos outros lhe impossibilita ter acesso a essa função fundamental da palavra: a função de falar com os outros assim como aquela de escutar os que a rodeiam aceitando suas diferentes maneiras de se explicar.

O testemunho de Donna Williams, uma pessoa com autismo, nos ensina sobre a diferença entre repetir as palavras e utilizá-las para falar: Eu quero um guia que me siga. Estou num mundo de palavras que não me servem para falar. Eu gostaria de sair dele para compartilhar meu mundo com os outros. E os outros com o meu.

O QUE FAZEM AS PESSOAS COM AUTISMO?

COMO ELAS SE ORGANIZAM SE VIVEM A PRESENÇA DOS OUTROS DE MANEIRA TÃO INTRUSIVA E ISSO LHES IMPEDE DE ACEDER À FUNÇÃO DA FALA PARA SE ORGANIZAR SIMBOLICAMENTE?

O QUE ELAS FAZEM, ALÉM DESSA OPERAÇÃO DE ISOLAMENTO E DE DEFESA?

As crianças com autismo tratam de fazer para si um lugar na vida, a partir de si mesmos e a partir de um objeto que pode ser qualquer um que escolham e que, de alguma maneira, poderíamos dizer, as complete.

Se nos fixamos no que elas fazem e não naquilo que supostamente deveriam fazer, poderemos captar sua intenção de alcançar aquilo de que carecem. Com efeito, suas repetições, seu jogos de alternância (abrir-fechar, ir-vir, acender-apagar) são esboços, ainda que falhos, para alcançar o simbólico; quer dizer, para ordenar simbolicamente o mundo.

Estas alternâncias são às vezes consideradas como estereotipias, condutas sem nenhuma função e se opta por tentar suprimi-las. Entretanto, temos que levar em conta que se trata de algo decidido que a criança faz, algo que lhe serve de algum modo para se acalmar, por exemplo. É fundamental levar isso em conta para podermos nos situar a seu lado. Só respeitando seus mecanismos de autodefesa e tomando seus atos como decisões próprias, como inventos para se darem um “certo” lugar, é que poderemos nos aproximar de uma outra maneira e conectar nossos dois mundos.

Trata-se de aprender a falar a sua “língua” e de compreender como funciona a subjetividade de uma pessoa com autismo. Estar ao seu lado implica em arriscar-se a estar junto com alguém que funciona com categorias diferentes das nossas e, ainda que não pareça, se esforça para compreender o mundo que o rodeia e fazer nele um lugar para si. Essa trajetória se compõe de perguntas próprias e de busca de respostas é o que nós todos fazemos. Esse é nosso próprio processo subjetivo, nosso caminho para construir uma realidade para nós mesmos. As crianças

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