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Analise do filme kaspar Hauser

Por:   •  25/4/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.274 Palavras (6 Páginas)  •  778 Visualizações

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ANÁLISE DO FILME KASPAR HAUSER

Neste trabalho pretendemos analisar o percurso de desenvolvimento de Kaspar Hauser, um garoto encontrado na Alemanha  aos 15 anos, que viveu completamente isolado da civilização e, por isso, não correspondia aos padrões de comportamento tidos ou esperados como “normais” dentro da cultura da época. Kaspar Hauser tornou-se conhecido na Alemanha ao afirmar que havia passado toda a sua vida em uma masmorra, sem contato com humanos, sendo alimentado apenas com pão e água.

Em Psicologia, na perspectiva histórico-cultural enfatiza-se que cada ser humano se constitui como uma pessoa totalmente única (por suas experiências e sua história de vida) e que ressalta a importância das práticas culturais na definição do desenvolvimento psicológico do sujeito.  Como Hauser foi privado de experiências e contatos sociais, era um ser sem história e sem aprendizados.

Sem contato verbal com pessoa alguma, não conseguia se expressar em idioma algum, mas com um posterior contato com a sociedade aprendeu a falar lentamente. Da mesma forma como a fala, seu desenvolvimento motor anterior era muito precário, não andava mesmo tendo 15 anos. Através de estímulos externos, foi aprendendo a andar e realizar outras tarefas que exigiam atividade motora, então, nascemos como uma tábula rasa? Segundo Becker, a teoria apriorista, nascemos com uma bagagem hereditária em que bastaria uma maturação biológica para que o indivíduo se desenvolvesse. Por outro lado, na teoria empirista, tudo é aprendido através do meio social, o meio social determina o sujeito.

Em 1920, na India, descobriram-se duas crianças, Amala e Kamala vivendo no meio de uma família de lobos. Amala tinha um ano e meio e morreu um ano mais tarde, Kamala de oito anos viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente igual ao dos lobos. “Elas caminhavam de quatro, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para pequenos trajetos e sobre mãos e pés para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer em pé.” (DAVIS, 2010 pg.16) As meninas-lobas, como ficaram conhecidas, só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como animais. Kamala viveu oito anos na instituição que a acolheu e foi humanizando-se aos poucos. Precisou de seis anos para aprender a andar e quando morreu só tinha um vocabulário de 50 palavras. Vemos assim, que por terem sido privadas do contato social humano não conseguiram se humanizar, nem se comunicar através da fala e não desenvolveram processos de pensamento lógico.

Kaspar Hauser não apresentava emoções até início da socialização. O filme narra uma passagem em que Hauser não apresentava medo do fogo, pois não sabia que o fogo queimava, e quando o queimou, chorou de dor. Segundo Moreira e Medeiros (2007), as emoções como o medo, raiva, alegria, tristeza, excitação sexual são respostas reflexas a estímulos ambientais. No caso das meninas-lobas, nunca choravam ou riam, as atitudes emotivas foram aparecendo aos poucos. Kamala chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e apegou-se lentamente às pessoas com quem conviveu. Assim vemos que as emoções surgem em função de determinadas situações, de determinados contextos, dependem do convívio social. Também não sentimos medo sem motivo, como no caso Kaspar,  sentimos medo quando algo acontece, e isso favorece a sobrevivência da espécie.

Se é o viver em grupo que permite o confronto entre as pessoas onde cada um vai construindo o seu ‘eu’ neste processo de interação através de constatações de diferenças e semelhanças entre nós e os outros (LANE, 1981), como Hauser construiu o seu “eu”? A construção do self se dá desde o nascimento. Os fenômenos sociais são frutos da interação do individuo com a sociedade, ele não é formado somente pelas características individuais ou somente pelas características da sociedade, e sim pelos dois juntos, e a isso chamamos socialização. Para Kaspar, esse processo de socialização se iniciou muito tarde.

Ao desconhecer a linguagem e por apresentar  um comportamento esquisito para os padrões da época, foi alvo de grande curiosidade. Essa curiosidade surgiu porque ele não se encaixava em nenhum estereótipo conhecido.  Todos aqueles que não correspondiam ao protótipo do homem “civilizado” eram classificados como primitivos, atrasados e deveriam ser “ajudados” a alcançar graus mais avançados na escala de desenvolvimento e evolução. Só se percebe o que não é natural quando nos defrontamos com o que é diferente. Olhamos para nossos costumes e achamos tudo muito natural por causa de convenções próprias de cada sociedade. Para que possamos conviver em grupo, existem normas (regras sociais) necessárias para que haja coesão social e assim se estabeleça uma boa convivência. Porém, a sociedade exerce a coerção social, não como uma lei que obriga, mas que exerce grande influencia sobre nossas ações, como discutido em aula.

A exclusão social a que Hauser foi exposto não o privou apenas da fala, mas de uma série de conceitos e raciocínios. Enquanto aprisionado não conseguia discernir sonhos da realidade. Sua percepção era muito limitada. Ao se defrontar com a sociedade da época, ele próprio se vê em um mundo estranho. Para entender seu comportamento é preciso, na perspectiva da Gestalt, entender o ambiente da mesma forma que ele, através de sua percepção e sua subjetividade. Seu comportamento dependia de experiências anteriores. Kaspar Hauser não tinha comportamento porque não teve essas experiências anteriores.  A forma diferente como percebia a realidade era suficiente para ser visto como estranho, chegando a ser exibido como criatura estranha em um circo local. Ele próprio sentia-se estranho sem compreender a realidade como esperavam que compreendesse.

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