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RESENHA FILME - NISE DA SILVEIRA

Por:   •  25/9/2018  •  Resenha  •  640 Palavras (3 Páginas)  •  622 Visualizações

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RESENHA CRÍTICA: NISE DA SILVEIRA – O CORAÇÃO DA LOUCURA

Nise da Silveira, nordestina que se mudou para o Rio de Janeiro com seu esposo na busca de melhores oportunidades profissionais e que depois de muitas conquistas foi presa, acusada de ser comunista, o que fez com que ela se afastasse da psiquiatria durante anos por razões políticas. Em 1944, Nise retorna ao Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, para finalmente voltar ao exercício de sua profissão. E é justamente este retorno o ponto de partida do filme "Nise - O Coração da Loucura". A primeira cena se mostra extremamente simbólica em relação a toda história que o filme irá narrar. Nise encontra portas fechadas, que só se abrem após um período de dura insistência. Ali, naquele portão, Nise não imaginava que essa nova fase de sua vida lhe reservava um longo caminho de luta e de grandes revoluções.

        Em seu retorno a doutora acabou se deparando com uma realidade na qual ela não poderia se deixar ser conivente, visto que a mesma prezava pelo tratamento humanizado de seus "clientes". E ao não concordar com os métodos empregados pelos psiquiatras da época, e se negar a realizar procedimentos que julgava agressivos, só lhe restou ser transferida para a ala de terapia ocupacional, que era um espaço praticamente abandonado que servia mais como um passatempo do que como espaço terapêutico. Outro enfoque do filme, são os pacientes esquizofrênicos. Vale ressaltar que na época mencionada, a esquizofrenia não dependia necessariamente do delírio, alucinações, perturbações de afetos e demais sintomas, mas qualquer manifestação que se desviava do ‘comum’. É preciso salientar que na época em questão ainda não havia sido publicado o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), o que dava margem a diagnósticos precipitados, tornando louco qualquer pessoas que saísse do que era considerado "comum". O filme em si não aborda de forma direta a "denúncia" de diagnósticos precipitados, mas acaba deixando subentendido de acordo com que vamos conhecendo melhor a história dos personagens que ocupam o hospital, como é o caso do cliente Carlinhos, que foi catalogado como esquizofrênico devido a manifestações místicas da sua fé.  Esses pacientes, juntamente com os catatônicos, eram tratados com Eletroconvulsoterapia (ECT). A técnica consiste em provocar alterações na atividade elétrica do cérebro, por meio de passagem de corrente elétrica, sob condição de anestesia geral. Com isso, ocorre um equilíbrio nos neurotransmissores como a serotonina, dopamina, noradrenalina e glutamato, responsáveis por propagar os impulsos nervosos do cérebro e manter o bem-estar. Uma das críticas a terapia eletroconvulsiva é a falta de cálculos que comprovem a quantidade exata de carga elétrica a ser aplicada no paciente, algo que é questionado por Nise na cena em que há uma demonstração desta técnica. Apesar disso, ainda hoje é uma técnica muito usada no tratamento de depressão aguda.

         A doutora Nise se comunicava por cartas com Jung, que ficou admirado com o trabalho realizado pela psiquiatra alagoana, e com a coragem que a mesma teve para enfrentar toda uma junta médica e escolher seguir na "contra-mão" que era o tratamento da população doente mental de forma humanizada. Mais tarde Nise acabou se tornando uma referência para a psicologia analítica no Brasil, e por meio das obras artísticas de seus clientes pôde mostrar que há sim formas de inserir e reinserir os usuários do serviço de saúde mental na sociedade. E não só inserir, mas humanizar essas pessoas, e  isso foi possível graças às exposições que Nise organizava em parceria com o crítico de arte Mário Pedrosa e ao Museu do Inconsciente, fundado em 1952, mesmo ano da publicação da primeira edição do DSM, que funciona até hoje como Centro de Estudos e Pesquisas na área da Saúde Mental.

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