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Estudo de Caso: Raiz Forte

Por:   •  8/11/2018  •  Artigo  •  2.005 Palavras (9 Páginas)  •  146 Visualizações

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Raiz forte

Para permanecer sólida no negócio de máquinas agrícolas, a paulista Jacto não descuida da inovação. E faz de tudo

O imigrante japonês Shunji Nishimura é um homem de hábitos espartanos. Prefere usar trajes simples e não se importa em deixar a barba por fazer. Poderia passar por um simples aposentado do INSS. Mas não é. Aos 91 anos, Nishimura é uma personalidade na cidade onde mora, a pequena Pompéia, de 18 000 habitantes, localizada a 480 quilômetros de São Paulo. O motivo: a Jacto, uma fabricante de máquinas fundada por ele em 1948, detém cerca de 70% do mercado nacional de pulverizadores agrícolas e deu origem a um grupo com faturamento de quase 300 milhões de reais no ano passado. O grupo, com 2 400 funcionários, é literalmente o motor da economia local. Metade da população, por exemplo, vive sob o guarda-chuva do plano de saúde da empresa. A Jacto também é responsável por projetar o nome da cidade no mundo. Os produtos "made in Pompéia" chegam a clientes de 70 países.

Mais que um orgulho para os pompeianos, porém, a Jacto é um caso de companhia familiar, nascida de uma pequena oficina, que conseguiu crescer com base na atuação em nichos de mercado, inovação tecnológica sistemática e diversificação de produtos. "Sempre conseguimos fabricar as coisas de que as pessoas precisavam", diz Nishimura, num português que ainda conserva um forte sotaque. "Nunca imaginei que fosse ter uma empresa grande, mas tudo o que fizemos deu certo." O grupo tem conseguido lucrar fabricando itens tão diferentes como pulverizadores, aquecedores solares e pequenos carros elétricos, desses que circulam em campos de golfe e estádios de futebol. Ao contrário de muitas empresas no Brasil e no mundo que se beneficiaram ao concentrar as atividades no negócio principal, para o grupo Jacto a diversificação foi uma questão de sobrevivência.

A família Nishimura (cinco dos sete filhos do fundador trabalham no grupo há mais de 30 anos e desde os anos 80 assumiram o comando dos negócios) tomou lições amargas até chegar à conclusão de que sempre que havia problemas com a agricultura as vendas da Jacto caíam de maneira drástica. Mesmo na década de 80, quando já existia a Unipac - braço na área de artigos plásticos criado em 1976 e hoje responsável por um terço do faturamento do grupo -, a Jacto quase sucumbiu. Na época, uma crise no setor agrícola fez as vendas minguarem. Dos 1 300 funcionários, 500 foram demitidos. "A empresa só sobreviveu porque não tínhamos dívida e aumentamos as exportações", afirma Shiro, de 53 anos, o filho de Nishimura que preside a Máquinas Agrícolas Jacto.

Desde então, a ordem passou a ser explorar ao máximo o potencial de qualquer tecnologia dominada pela empresa. A Unipac era o exemplo a ser seguido: surgira para aproveitar um equipamento adquirido para fabricar em plástico os tanques dos pulverizadores, substituindo os antigos recipientes de cobre. O detalhe é que a aquisição do equipamento acontecera em 1965, e por 11 anos a Jacto só havia usado a máquina para atender a suas próprias necessidades. O estalo foi o desenvolvimento de novos produtos como galões de leite de plástico, para diminuir a ociosidade do equipamento. Com o tempo, os executivos da Unipac adotaram uma postura cada vez mais agressiva na busca de um mercado próprio. Caixas-d’água, tanques de combustível para caminhões e partes de painéis para carros (inclusive para a minivan Picasso, da Citroën) geram hoje um faturamento de mais de 80 milhões de reais por ano. E a Jacto absorve atualmente apenas 15% da produção da Unipac.

Com a política de aproveitamento das tecnologias dominada, o grupo criou a Brudden Equipamentos, voltada para produtos de jardinagem, e a Moviment, de equipamentos de ginástica, hoje controladas por Takashi, de 60 anos, o filho mais velho de Nishimura. Também foram desenvolvidos carros elétricos, máquinas de limpeza de pressão (lava-jatos), aquecedores solares e uma série de outros itens. A última novidade da companhia está oculta sob a plantação que aparece na foto de Nishimura. Trata-se de um novo sistema de tratamento de esgoto, cuja principal peça é um imenso cilindro oco de fibra de vidro, do tamanho de um ônibus, que pode ficar enterrado no solo - uma tecnologia importada do Japão. A Jacto lançou o produto em maio de 2001 e seus executivos acreditam que ele poderá revolucionar o sistema de tratamento de água no país.

Além da diversificação, a crise dos anos 80 provocou uma reviravolta na gestão da companhia. O patriarca Nishimura sempre fora o responsável por determinar o cargo que cada filho devia ocupar. Cada um deles cuidava de um negócio específico e não se preocupava em consultar os irmãos sobre decisões importantes das outras áreas do grupo. O fundador percebeu que o momento exigia mudanças e liderou uma "dança das cadeiras" na empresa, talvez sua última grande decisão no grupo. Nishimura, depois de conversas com os filhos e com funcionários mais antigos, indicou quem deveria passar a ocupar que cargo. Com a ajuda de um consultor, os filhos formaram um conselho familiar, responsável por aprovar os nomes na presidência de cada empresa.

Jiro, 59 anos, o segundo filho, então presidente da Máquinas Agrícolas Jacto, com vocação para a organização interna da companhia, foi substituído pelo irmão mais velho, Takashi, mais agressivo no lançamento de produtos. (No ano passado, Shiro substituiu Takashi, que adquiriu a parte dos irmãos na Brudden e ficou com a vice-presidência de novos negócios da Jacto.) Chikao, de 56 anos, de perfil minucioso, ficou encarregado de acompanhar os concorrentes e de estudar as tendências do mercado. O caçula Jorge, de 48 anos, mais conciliador, assumiu a presidência do conselho de administração, integrado pelos filhos e pelo sueco Bengt Hallqvist, ex-presidente da Volvo na América Latina.

O velho Nishimura não faz parte do conselho, embora seja informado das principais decisões tomadas. "Papai tinha uma cabeça de proprietário e não gostava de discutir as decisões", diz Jorge. "Essa reorganização, e a própria crise, uniu muito os irmãos." Atualmente, eles preparam os critérios de sucessão. Já definiram duas regras para os membros da terceira geração - Nishimura tem 19 netos, com idades que variam de 14 a 28 anos, nenhum deles empregado no grupo. Os interessados em ingressar na Jacto precisarão ter experiência externa e passar por uma seleção feita por uma empresa independente.

As mudanças na organização, ocorridas em 1991, não alteraram as características de diversificação e de inovação de produtos do grupo. Embora a última novidade da empresa, o sistema de tratamento

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