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Problemas Socioambientais Existentes no Bairro da Paz em Salvador-BA

Por:   •  24/11/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.501 Palavras (7 Páginas)  •  560 Visualizações

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1. Introdução

Para uma melhor análise da situação social do Bairro da Paz, se faz necessário refletir acerca de sua formação histórica. Fruto de uma ocupação irregular, em meados do ano de 1982, o Bairro da Paz foi formado, majoritariamente, por pessoas de baixa renda, oriundos, em sua maioria, do interior do estado. Após anos de conflitos com a prefeitura, devido à grande especulação imobiliária do local invadido, os moradores, enfim, conseguiram se estabelecer no local, e, a partir disso, o número da população cresceu rapidamente, porém de maneira desorganizada, chegando, atualmente, a cerca de 65 mil habitantes.

O rápido crescimento populacional, conjugado com o quase inexistente planejamento urbano, além da conjuntura histórica do Brasil e, especialmente, do Bairro da Paz, acarretaram problemas estruturais que se perpetuaram e se agravaram durante os anos. Logo, o presente trabalho tem como objetivo expor a relação entre os problemas ambientais e sociais enfrentados atualmente na comunidade em foco e os fatores histórico-sociais supracitados.

2. Metodologia

O material utilizado para fundamentar a análise deste trabalho foi obtido, principalmente, por meio da revisão de literatura, focando nas que tratam a respeito do desenvolvimento das primeiras ocupações no bairro, a fim de mostrar a direta ligação entre os fatores históricos e a realidade socioambiental atualmente vivenciada no local. Além disso, a pesquisa se apoiou, também, na observação da vida cotidiana, para, desta maneira, relacionar os dados coletados e a realidade observada por nós, que somos moradores da cidade de Salvador.

3. Referencial teórico

A região invadida está localizada num vetor de crescimento nobre da cidade, situada na Avenida Paralela, que conecta o centro da cidade ao Aeroporto e à linha verde (expansão hoteleira e turística da cidade) no litoral Norte do estado. Situa-se nas proximidades do Centro Administrativo e de outros grandes investimentos que apareceram depois dessa comunidade, como o Alphaville, a Universidade FTC, e uma grande área de ocupação residencial de classe média, denominado Imbuí, todos na Avenida Paralela, não muito distante do tradicional e primeiro Shopping da cidade, o Iguatemi, e agora também do recém-inaugurado e elitizado Shopping Salvador. Logo, sabendo do potencial imobiliário do local, a prefeitura, durante praticamente toda a década de 80, tentou retirar os “invasores”, enviando-os para o bairro Fazenda Coutos, localizado no subúrbio da cidade. Porém, percebendo que foram ludibriados, pois o local para qual foram remanejados era de difícil acesso, os moradores voltaram para a antiga Malvinas (fazendo alusão a guerra entre Argentina e Reino Unido, que aconteceu na época da invasão), demonstrando que estavam dispostos a lutar pelo seu lar. A frustrada tentativa da prefeitura demonstrou o que Oliveira Vianna expunha há tempos atrás: “O improfícuo das elites para obrigar o povo-massa a praticar este direito por elas elaborado, mas que o povo-massa desconhece e a que se recusa a obedecer”. (VIANNA, 1982). Na situação em questão, está demonstrada, mesmo que de forma indireta, a tentativa por parte do “clã parental” (composto pela elite aristocrática senhorial, dominante) – fazendo menção novamente a Oliveira Vianna – de segregar o “clã feudal” (povo-massa), mandando-os para bairros periféricos. Diante da resistência dos moradores do local, a prefeitura continuou a derrubada dos barracos, além de coibir novos invasores através da força policial. Esse conflito perdurou até o início do governo de Waldir Pires, que interveio, possibilitando, a partir disso, a consolidação e o crescimento do Bairro da Paz.

Embora tenha sido feito o projeto de urbanização do referido bairro, o mesmo nunca foi aplicado. Com isso, a comunidade se desenvolveu de forma desordenada, impactando de maneira negativa no meio ambiente e nos aspectos sociais do local. Concentrando lagoas, rios e remanescentes de mata atlântica, a área, ainda hoje, é considerada uma reserva ambiental da cidade, sendo defendida por grupos ecológicos que lograram impedir a expansão imobiliária na localidade durante alguns anos. Sob esse ponto de vista, a permanência da invasão dessa comunidade terminou operando indiretamente em favor dos interesses imobiliários.

Para o poder público, o desmatamento e a ocupação informal, como no Bairro da Paz, anos atrás era inaceitável. Hoje, com a implementação de políticas (PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), acontece não somente a devastação da Mata Atlântica, bem como o incentivo à ocupação formal e à segregação social. A urbanização da área em que se situa a Av. Paralela vem acontecendo de forma intensa e acelerada. Essa realidade é comum atualmente, mas não deixa de ser preocupante no que diz respeito às transformações na paisagem natural, alterando o meio ambiente urbano. Nesse aspecto, os dois lados da moeda – ricos e pobres – pecam ao ocupar sem pensar na preservação de áreas verdes que são importantíssimas para a permanência da qualidade do ar, manutenção do conforto térmico, além de evitar a transformação de micro-climas atuantes nas cidades. Além de comprometerem a nossa flora, as ocupações – formais e informais – afetam diretamente a nossa fauna, contribuem para a poluição dos rios e lagos presentes no local, ratificando a despreocupação do Estado/Povo com a preservação do nosso ecossistema para as futuras gerações.

Tratando dos problemas sociais existentes na comunidade do Bairro da Paz, de uma maneira mais profunda, é possível dizer que são fruto, também, de influências coloniais. Defendendo esse ponto de vista, não se pode deixar de citar nomes como Oliveira Vianna, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Raymundo Faoro, que demonstraram em suas obras como nossa história foi feita sem rupturas significativas com o passado. Assim, em boa medida, nossos problemas são provenientes da época colonial. Nesses termos, as questões colocadas por eles continuam atuais. Ainda hoje, podemos afirmar que problemas como a artificialidade de nossas instituições, os efeitos da proximidade de nossas relações sociais, a orientação da economia voltada para fora, são determinantes para o perpetuamento de problemas vistos em todos os níveis da sociedade, mas sofridos, principalmente, pela classe de baixa renda, como ocorrido na comunidade em questão. Tais fatores, somados ao perfil histórico de invasão, alinhados, ainda, ao

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