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Resenha Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar

Por:   •  14/11/2022  •  Resenha  •  975 Palavras (4 Páginas)  •  202 Visualizações

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O documentário de Marcelo Gomes retrata os habitantes de Toritama, uma região do interior do Pernambuco, pessoas com um hábito revolucionário: trabalham arduamente o ano inteiro, mas no período carnavalesco, se desfazem de tudo que possuem para curtir o carnaval. São pessoas que vivem a ilusão do acúmulo de bens e a posse de sua produção, sem depender de patrões e limites salariais. O grande problema é que elas vivem para trabalhar, sem lazer, entretenimento ou qualquer busca por desanuviar. Lá é diferente de São Paulo e outras cidades com fluxo migratório, locais em que a concorrência pede por estudo e aperfeiçoamento.

Vítimas do capitalismo que na cidade, alcança o ilusório status de prestígio, mas que na verdade é pura ilusão de pessoas manipuladas por óticas econômicas neoliberalistas. Não há ambições, as vidas são predeterminadas por comportamentos horizontalizados. Sem teatro, biblioteca, cinema ou qualquer outro ambiente de lazer que não seja as praças para brincadeiras infantis e o espaço natural em si, tomado por muitas construções irregulares, ruas estreitas e a feira dominical, Toritama é a representação cabal do nosso imaginário sobre a Revolução Industrial.

Marcelo Gomes produz um documentário que convida à reflexão sobre o tempo e o capitalismo: por que vendemos o nosso tempo e sustentamos uma lógica perversa às nossas vidas? O carnaval pode ser visto como a resistência às relações de trabalho no sistema capitalista; e a análise sobre o contexto justifica, em partes, a falta de mobilização num modo de produção tão cruel. Toritama é um retrato do capitalismo neoliberal na América Latina, mas também têm suas próprias características, seus próprios caminhos de resistência, e um deles é o carnaval.

O mundo capitalista, a maior parte das datas comemorativas é uma forma de impulsionar a venda de mercadorias e serviços. Basta assistir noticiários, ou ler jornais e páginas na internet após uma data significativa (Natal, dia das mães, dia dos namorados), e ver como o sucesso da data é medido pelo lucro obtido com a venda de produtos e serviços no período. Toritama, inserida no contexto capitalista, também analisa a possibilidade de lucro em determinadas épocas. Por isso, verificando um calendário com tantos feriados religiosos e cívicos em que há grande presença de turistas e visitantes na região para o comércio de jeans, a única data que sobra é o carnaval, a festa mais popular em todo o Brasil.

A população de Toritama, dependente do capitalismo neoliberal latino-americano, coloca o seu limite para esse sistema: não há, ao menos na abordagem do documentário, reclamações ao trabalho diário de doze ou treze horas; existe orgulho na precarização disfarçada de flexibilidade; mas, a possibilidade de viajar e descansar no carnaval são vista como sagrada, e não se altera naquela população.

“Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecer-se como homens, na sua vocação ontológica e histórica de ser mais” (FREIRE, 2018: 72)

Dizer “vou parar” é dizer que há um limite, ainda que não haja uma consciência crítica da violência do sistema, e mesmo a folga da população de Toritama, é moldada na perspectiva capitalista, mas essa escolha consciente pela folga, pelo não trabalhar, mostra que há um limite à exploração do modelo de capitalismo neoliberal, talvez não o que se essencializa enquanto resistência, mas o que é possível, considerando que sobreviver é a prioridade

 “As elites dominado-ras sabem tão bem disto que, em certos níveis seus, até instintivamente, usam todos os meios, mesmo a violência física, para proibir que as massas pensem” (FREIRE, 2018: 201). Por isso, nada que possibilite sair da ideia do trabalho sem cessar, é bem-vinda. Nesse sentido, o perso-nagem Léo e a agricultora, se opondo ao que se vê em Toritama, são outsiders na história. Eles conseguem enxergar além, o que também não é garantia de felicidade. a ideia de meritocracia encontra campo fértil para a sua proliferação por-que a memória de um passado sofrido, não tão distante, ainda está presente.

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