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TRABALHO INFORMAL: O MOTOTAXI EM MONTES CLAROS/MG – 1996 A 2016

Por:   •  15/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  14.021 Palavras (57 Páginas)  •  254 Visualizações

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TRABALHO INFORMAL: O MOTOTAXI EM MONTES CLAROS/MG – 1996 A 2016

BARBOSA, Cristiano[1]

FAGUNDES, Caio Renan Alencar[2]

SOARES, Apoliana Alcântara[3]

SANTOS, Henrique Jacson Ramos dos[4]

RESUMO

As transformações no modo capitalista de produção têm obrigado os indivíduos a buscarem formas alternativas de trabalho como meio de obtenção do necessário à sobrevivência e subsistência. Isso ocorre porque o sistema econômico gera de modo contínuo alterações na estrutura de ocupações laborativas, lançando os indivíduos, em certas circunstâncias, às margens do labor considerado como formalizado e regular. Os modos alternativos de obtenção do sustento, ao mesmo tempo em que é consequência das modificações na forma de organização da produção, ocorrida na economia, tornam-se uma resposta ao movimento cíclico de construção e desconstrução das profissões. Por essa razão, o objetivo do estudo se efetivou no sentido de identificar o surgimento do trabalho do mototáxi na cidade de Montes Claros/MG e a configuração do seu cotidiano, destacando as experiências e vivências dos profissionais da área. Metodologicamente a construção da pesquisa deu-se na vertente da historiografia do tempo presente e história social, baseando-se na oralidade dos entrevistados, bem como em suas memórias somadas àquela gerada pela imprensa. A efetivação das entrevistas ocorreu na forma livre em que o trabalhador relatava o cotidiano individual e do grupo na execução da atividade laborativa. Os resultados foram indicativos de que o mototáxi surgiu, a priori, em decorrência do desemprego na economia. Mas, contou com outras influências paralelas a exemplo da tentativa de não se submeter aos controles e expropriações das entidades capitalistas. Apresenta um cotidiano marcado por relações de poder fluidas e múltiplas que imprimiram e imprimem ao trabalho um caráter, por vezes, inadequado de clandestinidade, decorrente das relações que se estabelecem entre Estado, trabalho, cidade, grupos empresariais e demais trabalhadores. O mototáxi mostra-se no tempo atual (1996-2016) como uma profissão que ainda se encontra em construção e que de modo aparentemente contraditório ao que foram indicadas em diversas entrevistas insere-se na lógica capitalista de obtenção de lucratividade.

Palavras-chave: Mototáxi, Montes Claros/MG, Trabalho.

Introdução

A observação do mercado de trabalho em Montes Claros/MG na década de 1990 parecia indicar a ocorrência de modificação na estrutura das ocupações de parcela dos trabalhadores provocadas, em certa medida, pelas mudanças no cenário econômico nacional, conforme Matoso (1999). No período de 1994-1999, provavelmente em função dos reflexos das instabilidades na economia brasileira, foi percebido que algumas das empresas do segmento industrial e comercial da cidade modificaram seus processos gerenciais, segundo Fernandes; Bertollo (1999) com vistas à realização de ajustes para fazer frente às crises e a obtenção maior lucratividade. Esse aspecto sinalizou a existência de uma maior sobrecarrega e exploração dos empregados, em especial após os chamados cortes de despesas.

Nesse período foram presenciadas e ouvidas queixas de trabalhadores sobre a insatisfação com os empregos por causa da maior expropriação da força de trabalho e a insegurança sentida devido às instabilidades no cenário econômico. Ressalta-se que tal instabilidade era frisada pelas empresas como uma forma de dominação dos funcionários, ou seja, através do medo que eles possuíam de perder o emprego as entidades empresariais conseguiam explorá-los além do que poderia ser considerado normal, conforme relatado pela entrevistada Maria[5]. Isso fazia com que muitos trabalhadores se submetessem a tais explorações e expropriações excessivas do capital. Em outras circunstâncias houve indivíduos que a despeito do cenário de empregos negativos responderam as ações consideradas exageradas das empresas pedindo demissão e partiram para a busca de formas alternativas de trabalho, entre eles, o de mototáxi, que surgia na cidade como possibilidade de obtenção da subsistência, como pode ser entendido a partir de Santos (2014). Acerca desse tipo trabalho entre os anos de 1996-1998 houve fatos e sinais indicativos de um aparente aumento no número de trabalhadores mototaxistas no espaço urbano de Montes Claros/MG aliado à ampliação no número de usuários que de certo modo acabavam por respaldar e justificara existência do serviço. Tal percepção foi obtida quando da observação feita sobre a movimentação desses trabalhadores e dos usuários do serviço nas Praças Doutor Carlos Versiane e Coronel Chaves no centro da cidade, locais em que se presenciava e presencia com maior frequência a permanência de tais trabalhadores.

Aparentemente, após o surgimento da atividade na referida época, a utilização do serviço do mototaxi na área urbana efetivava-se pelo fato de ter sido considerado pelos usuários como um transporte rápido e barato. Comparativamente, a disponibilização e utilização do mototáxi eram indicativas de que a cidade não se distanciava do que ocorria em âmbito nacional, pois, entre o período de 1990 e 1997 foi que se passou a ter notícias através de estudos publicados por Amoras (2011), Catunda; Santana (2015), Ferreira (2011), Melo (2014) e Gomes; Duque (2009) e da imprensa sobre o aparecimento do mototaxi no Brasil. Inicialmente em cidades do Nordeste e, posteriormente, da disseminação da atividade pelo restante do país como nova forma de trabalho e alternativa aos que possuíam moto e se encontravam desempregados segundo indicado em Amoras (2011). Em Montes Claros/MG no período entre 1994-1999 houve fatos que sinalizavam uma espécie de situação quadrupla ligada às transformações provocadas pelo modo capitalista de produção. A primeira relativa ao aparente aumento do desemprego e o surgimento do mototaxi na cidade como alternativa de renda para parcela dos trabalhadores. A segunda, pós-criação de pontos de atendimento de mototaxi, relacionada com aumento no número de pessoas que passaram a atuar na atividade. A terceira ligando-se a aceitação do mototaxi por parte da população, respaldando a nova modalidade de trabalho que surgia e se firmava no contexto da cidade, em parte, devido à percepção de uma infraestrutura de transporte coletivo deficiente. A quarta situação vinculada às ações de combate à atividade por entes capitalistas e o respaldo dessas ações, por parte do Estado, em defesa dos interesses das entidades. Tais situações contribuíam para alterações das experiências, vivências e cotidianos de parcela dos trabalhadores que se ocuparam na prestação do serviço, configurando os modos de trabalho no espaço urbano e a forma como eles poderiam se apropriar de seus espaços.

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