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A Resenha Cibercultura

Por:   •  14/12/2021  •  Resenha  •  2.176 Palavras (9 Páginas)  •  103 Visualizações

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Universidade Federal de Alagoas

Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Artes

Comunicação e Cibercultura

Jornalismo – Vespertino

Cauê Rinaldo Silva

CIBERATIVISMO: O EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA ERA DIGITAL

Maceió, agosto de 2021

Sendo parte integrante do fenômeno da cibercultura, o ativismo digital é marcado pela utilização das novas ferramentas tecnológicas de comunicação e informação por grupos politicamente interessados em manifestar suas reivindicações. O objetivo é disseminar a informação, criar diálogo e proporcionar mobilizações para que o indivíduo parta para a ação, seja interna ou externa a rede. De maneira pragmática, o ciberativismo pode ser considerado:

(...) um processo de comunicação realizado por meio de codificações sígnicas, com base em tecnologias digitais, visando representar os objetivos, as necessidades e principais metas de grupos sociais, com o objetivo de causar mudanças conscientes e coletivas em hábitos de pensamento, de ação e de sentimento. (RODRIGUES, L.; PIMENTA, F., 2015, p.7)

Especialmente a partir das revoluções emergentes pós 2011, as novas práticas de protesto foram interpretadas como “novíssimas” diante das transformações do conjunto de movimentos sociais, o que pode ser uma caracterização favorável ao utilizar dessa análise para investigar as mudanças no processo de ativismo social e, ao mesmo tempo, prejudicial por não estabelecer comparativo com eventos pré-existentes.

Responsável por examinar os atores envoltos na dinâmica ativista, a sociologia dos movimentos sociais menospreza os progressos comunicacionais decorrentes do avanço tecnológico. A popularização da internet e o crescimento das redes digitais vêm a criar uma atmosfera propicia para fundar uma relação dialógica do campo de estudo das mobilizações coletivas e da comunicação. Esse cenário apresenta o ciberativismo como processo inerente ao desenvolvimento da internet, uma vez que a maneira com a qual o indivíduo propaga suas objeções é alterada e redimensionada.

As continuidades e rupturas processuais do ativismo imerso na rede digital identificam os históricos do movimento e destacam a manutenção dos valores em relação ao digital, priorizando o engajamento da comunidade em relação a estrutura comercial da internet.

Esse histórico tecnológico, cultural e político do ciberativismo permite-nos traçar suas raízes e evitar o fetiche da novidade. Por outro lado, a partir da identificação destes elementos de continuidades, também podemos perceber as descontinuidades, isto é, as novas dinâmicas que emergem nos movimentos sociais e na ação coletiva a partir da interação desta com as NTICs. (ALCÂNTARA, 2015, p. 79)

Alguns marcos históricos servem para exemplificar as mudanças quanto a estrutura dos protestos na sociedade e, indiretamente, o empoderamento do sujeito inserido nessa reestruturação. Tendo em vista que o ciberespaço é um lugar democrático, apesar das desigualdades ainda refletidas nesse ambiente, vale destacar que a nova configuração da dinâmica comunicacional amplifica a conexão e o alcance da mensagem. Com base nessa transformação, há um expressivo aumento no número de pessoas que ativamente participam, questionam e se colocam em prol de causas a nível mundial.

A primeira manifestação concreta do conceito aconteceu com as revoltas Zapatistas em 1994, no sul do México, que teve a prática midiática como ferramenta fundamental. O relevante uso da rede de computadores foi tomado como objeto de estudo por dois pesquisadores militares, John Arquilla e David Ronfeldt, que posteriormente criaram o conceito de social netwar (guerra em rede) e swarming (redes de enxame), os quais caracterizam, respectivamente, o conflito desarmônico entre Estado e pequenos grupos e a ação de pequenas comunidades dispersas e organizadas na rede. Ambos os conceitos influenciam na desigual distribuição do poder de voz e ação e reconfiguram o corpo social e o exercício da cidadania.

Em linhas gerais, o empoderamento, enquanto processo, refere- -se tanto à dimensão: psicológica quanto à social, organizacional, cultural, econômica e política, ou seja, é interdependente e multidisciplinar. Nesse sentido, o empoderamento social implica o desenvolvimento de capacidades das pessoas excluídas, para transformar as relações de poder que limitam o acesso e as relações em geral com o Estado, o mercado e a sociedade. Por outro lado, esse processo difere da simples construção de habilidades e competências, reportando a uma perspectiva emancipatória. Dessa maneira, deve-se entendê-lo como um processo dialético, uma luta pelos direitos e a resistência constante contra a opressão e as desigualdades. (da FONSECA, S.; da SILVA, A.; TEIXEIRA FILHO, J. G., 2017, p. 66)

        A desobediência civil ficou evidente em 1998 com a ocupação online - realizada por meio de hacking e exemplificando o que viria a ser o hacktivismo -do site do governo mexicano pelo grupo Electronic Disturbance Thetaer, primeiro a se declarar ciberativista.

Configurando o desenvolvimento do ativismo digital, os protestos anticapitalistas, que resultaram midiaticamente na Batalha de Seattle em 1999, potencializaram o uso das NTICs (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) como “instrumento de participação, mobilização e criação de identidade” (BRINGEL; MUNOZ, 2010, p.30). O desenvolvimento dessa instrumentalização culminou na criação da Indymedia, uma rede internacional de informação definida por ser de ordem política e social que se declara independente dos interesses governamentais e empresariais. Servindo para ilustrar o conceito de mídia alternativa, a Indymedia, assim como outras novas mídias, atua influenciando a direção dos atores no campo do ativismo digital, como destaca Alcântara:

A construção ferramentas, espaços e dinâmicas de comunicação próprias dos movimentos sociais não é algo novo que remonte a última década do século XX, embora novos fenômenos tenham surgido com a internet. Além disso, as mídias alternativas não são apenas objetivo de luta, são também formas de luta, influenciando assim nas próprias dinâmicas dos atores e da ação coletiva. (ALCÂNTARA, 2015, p. 84)

A interferência dessas novas mídias na organização de protestos é evidenciada com a queda do presidente das Filipinas em 2001. As manifestações foram coordenadas por meio de mensagens de texto de celular e reuniram um expressivo número de manifestantes em um curto intervalo de tempo. O processo se dá por meio da escolha do objeto a ser questionado e dos meios que viabilizam tal ação para, posteriormente, por meio de um modelo de ciberativismo denominado swarming, avaliar, debater e deliberar as questões acerca do objeto e, efetivamente, realizar a manifestação de rua. A expressão smart mobs, cunhada em diálogo com o conceito de flash mobs (reunião pública de estranhos), nomeia tal evento e se diferencia do vocábulo com o qual dialoga por apresentar uma intenção política.

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