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(In) Disciplina Na Escola

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Por:   •  28/3/2015  •  5.665 Palavras (23 Páginas)  •  697 Visualizações

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(IN) DISCIPLINA NA ESCOLA – RELAÇÕES DE PODER

SILVEIRA, Luciane Martins1

BARBIERI, Sueli Caraçço²

RESUMO

O presente artigo propõe uma reflexão acerca da disciplina posta nos espaços escolares (escolas), sua origem e marcas deixadas como normas e regimes comportamentais. Faz também referências ao poder e as relações de poder no âmbito escolar. A pesquisa bibliográfica realizada para este artigo tem como principal referencial teórico as obras de Michel Foucault: “Microfisica do Poder” e “ Vigiar e Punir”. Outros autores que discorrem sobre a questão do poder disciplinar na formação da instituição escolar também serão referendados com suas contribuições acerca do tema abordado. As reflexões apresentadas nesta pesquisa bibliográfica visam melhor compreender o poder disciplinar frequentemente utilizado em instituições escolares, permitindo assim pensar em como os mecanismos disciplinares se apresentam no contexto escolar. Serão apresentadas reflexões sobre as correlações entre saber e poder, vigilância e penalidades que fazem parte da sociedade moderna, especialmente nos espaços escolares. Finalizando o presente artigo, será apresentado o descompasso entre a escola disciplinadora e a sociedade de controle no que diz respeito a formação do sujeito-aluno a partir de métodos de regulação e controle moldado à docilização imposta.

Palavras-Chave: Disciplina. Escola. Relações de poder.

1 INTRODUÇÃO

Entender e refletir os motivos pelos quais as escolas dão tanta ênfase a questão disciplinar e como se dá o exercício do poder dentro destas instituições é o escopo deste trabalho Ao analisar questões relativas as relações de poder, recorrendo a conceitos de disciplina, indisciplina, vigilância e seus desdobramentos através de uma abordagem Focaultiana, as relações de poder passam a adquirir uma visibilidade mais concreta e sistemática. É necessário entender essas relações de poder como algo produtivo, não somente como algo negativo. Vivemos em uma sociedade de vigilância, onde a todo momento estamos sendo monitorados e controlados de alguma forma. A escola, como parte desta sociedade, adota mecanismos disciplinares para garantir o controle, a vigilância como forma de assegurar uma maior produtividade e desempenho de seus membros.

2 DISCIPLINA EM ESPAÇOS ESCOLARES

Para falar-se em disciplina e geração de saberes em espaços escolares é necessário inicialmente abordar conceitos de disciplina e poder. A disciplina em seu sentido político foi assim definida por Foucault (GALLO, 2004, p. 91): “Como vigiar alguém, como controlar sua conduta, seu comportamento, suas atitudes, como intensificar seu rendimento, como multiplicar suas capacidades, como colocá-lo num lugar onde será mais útil”.

É importante compreender a relação entre os processos disciplinatórios que organizam os saberes e os corpos, numa perspectiva Foucaultiana entendendo que:

Uma disciplina é tanto um campo de estudo quanto um sistema de controle. [...] a disciplinaridade compreende um eixo cognitivo (o da disciplina-saber) e um eixo corporal (o da disciplina-corpo) (VEIGA-NETO, apud XAVIER, 2007, p. 36).

É pertinente considerar que a disciplina-corpo norteia o tipo de trabalho de cada professor, a partir das respostas do grupo de alunos sobre as combinações e comportamentos em sala de aula. Relaciono isso à construção histórica do sujeito-aluno que ocupa na Escola um espaço criado para disciplinar corpos e mentes, pois a Escola tem sido, por muito tempo, um dos locais centrais nos quais vários grupos têm tentado constituir noções de autoridade cultural e regular a forma pela qual as pessoas compreendem a si próprias, sua relação com outras e seus ambientes sociais e físicos comuns.

O senso de disciplina de utilidade gerado a partir da disciplina do corpo e dos saberes na escola deve ser compreendido historicamente, pois a escola é um local pensado e criado para a infância, para as crianças.

Comenius dá o ponto de partida para a pedagogia, organizando métodos, livros e espaços institucionais onde as crianças devem permanecer. Em sua obra Didática Magna, discute seu ideal (de ensinar tudo a todos), organizando os saberes que julga necessário ensinar.

A Escola não é um modo de formação entre outros; ela foi concebida como a primeira e, finalmente, como a última. Seus horários ocupam o dia todo das crianças, seus programas ponderam o conhecimento indireto em detrimento da experiência, e incluído no ensino profissional, sua disciplina definiu um saber ser criança feito de passividade, obediência, em uma pedagogia da intimidação. (MEYER apud NARODOWSKI, 2001, p.54).

Compreender a disciplina do corpo como uma das finalidades da Escola, dentro de uma perspectiva histórica faz pensar como os métodos disciplinares foram se alterando em rigor, e se em décadas passadas ainda era permitido o castigo físico em sala de aula, hoje isso é impensado.

No entanto a prática disciplinar comumente aplicada em sala de aula implica numa mobilidade dos corpos que associo ao discurso de Xavier (2007) quando nos diz que os “hábitos de ordem” não mais estão compondo as rotinas escolares, como eram postos no período denominado Escola Moderna:

[...] aquilo que os professores designam como “hábitos de ordem” e que consideram como uma das condições para que as crianças possam aprender os conteúdos curriculares, é (era?) ensinado durante os primeiros meses de aula: diferenciações entre maneiras corretas e incorretas de entrar e sair da Escola, de estar e atuar em aula, no recreio e durante os eventos Escolares (MILSTEIN e MENDES, 1999).

Com isso averiguo até onde existe o ensinamento sobre uma disciplina como a compreendida pelos autores supracitados, que se torna um autogovernamento, e a disciplina imposta e punitiva que delimita a liberdade de movimento e de expressão.

A imposição do silêncio é uma prática de confinamento velado, diretamente ligado a sansão da norma:

A disciplina moderna está baseada na norma, que se distingue da regra jurídica, proveniente de um poder soberano, pelo seu caráter aparentemente não-arbitrário. Instituída dentro de um grupo, não apela a essencialidades, sendo uma medida autorreferente. A norma, sendo produzida por um certo grupo, tira sua força dessa capacidade de estar de acordo com a cultura do grupo, o que a naturaliza

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