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Processos de arranjo para violão na valsa Ignez de Pixinguinha

Por:   •  19/9/2019  •  Artigo  •  4.136 Palavras (17 Páginas)  •  168 Visualizações

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“Processos de arranjo para violão na valsa Ignez de Pixinguinha”.

Resumo

Este artigo apresenta um recorte do projeto de pesquisa, no Programa de Pós-Graduação de Mestrado Profissional em Música (PPGPROM) na Universidade Federal da Bahia (UFBA), com a proposta de elaborar cinco arranjos de músicas inéditas e redescobertas de Pixinguinha para violão solo. Foi escolhida uma peça, a Valsa “Ignez”, para comentar acerca do processo criativo e das escolhas feitas por nós em se tratando da harmonia, condução de vozes e contraponto. Com os resultados, pretendo contribuir com o repertório violonístico e com a divulgação da obra de Pixinguinha ainda desconhecida do grande público.

Palavras-chave: Violão. Arranjo. Pixinguinha. Ignez

“Processes of arrangement for guitar in the waltz Ignez de Pixinguinha”.

Abstract

This article presents a review of the research project underway in the Postgraduate Program of Professional Master's in Music (PPGPROM) at the Federal University of Bahia (UFBA), with the proposal of producing five unpublished and rediscovered arrangements of music by Pixinguinha for solo guitar. A piece, the "Ignez Waltz", was chosen to comment on the creative process and the choices made by me in harmony, voice and counterpoint. With the results, I intend to contribute with the guitar repertoire and with the dissemination of the work of Pixinguinha still unknown to the general public.

Keywords: Guitar. Arrangement. Pixinguinha. Ignez


1 Introdução

1.1 Pixinguinha e o choro

O Choro e Pixinguinha são dois monumentos da música brasileira e não tem como falar de um sem mencionar o outro. Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, nasceu em 23 de abril de 1897. Filho do funcionário público e flautista amador Alfredo Viana, Pixinguinha nasce em um ambiente musical propício, o seu pai tinha uma casa enorme, que ficou conhecida como a “Pensão Viana”, onde costumava receber os chorões da época, como o violonista Quincas Laranjeiras e até mesmo o compositor Heitor Villa-lobos. Além disso, ele ajudava músicos com dificuldades financeiras, oferecendo moradia, como foi o caso de Sinhô[1] e Irineu de Almeida[2]. O próprio Irineu foi um dos professores de Pixinguinha e o primeiro a perceber o talento do garoto (CAZES, 2010).

Antes de completar 14 anos, Pixinguinha já tocava profissionalmente em bares do Rio de Janeiro e foi levado pelo violonista Tute, com que ele já tocava, para substituir o flautista Antônio Maria dos Passos, o “Passinha”, na orquestra do teatro do Rio Branco. Passos era um músico de bastante prestígio na época, fez parte da famosa banda do corpo de bombeiros regida por Anacleto de Medeiros, além de ser líder do grupo “Os Passos no choro”. O estilo de Pixinguinha era diferente dos flautistas da época, um estilo mais ritmado, sem vibrato e apesar de ter causado certo espanto pela sua tenra idade, se saiu muito bem, inclusive fazendo improvisações e contrapontos não escritos na partitura (CAZES, 2010).

Já maior de idade, em 1919, Pixinguinha formou o grupo Os Oitos Batutas que tinha como integrantes, Donga, China (Irmão de Pixinguinha), Nelson Alves, Raul Palmieri, Luís Pinto da Silva, Jacob Palmieri e José Alves da Lima. Os Oito Batutas foi o primeiro conjunto a fazer fama no cenário musical brasileiro e, financiados pelo mecenas Arnaldo Guinle fizeram uma turnê Internacional na França e depois na Argentina (CABRAL, 2007).

No final da década de 20 Pixinguinha grava duas composições que hoje são consideradas clássicas do compositor: Lamentos e Carinhoso. Apesar de atualmente terem esse prestígio, na época foram bastante criticadas por ter influência da música Norte-Americana. Carinhoso, por exemplo, só tinha duas partes, quebrando o padrão de três partes da época e por esse motivo foi mantida na gaveta pelo compositor. Depois que foi adicionada a letra por João de Barro, o Braguinha e gravada por Orlando Silva, Carinhoso se tornou um clássico da música brasileira (CAZES, 2007).

Na década de 30 a gravadora Victor o contrata para ser seu arranjador e regente da Orquestra Victor Brasileira, onde ele redefiniu o modo de arranjar a nossa música, dando ênfase aos instrumentos de percussão. Como atesta Cabral (2007):

Nesse período as orquestras das gravadoras ainda dependiam muito de maestros e músicos estrangeiros que nem sempre possuíam a necessária vivência e intimidade com os ritmos brasileiros. Essa deficiência é perceptível em gravações da época, nas quais os pesados e “quadrados” arranjos orquestrais não conseguiam captar as nuances de nossa riqueza rítmica.

Nos fins dos anos 30 e início dos 40, Pixinguinha passou por dificuldades financeiras e problemas com alcoolismo. Sabendo disso o flautista Benedito Lacerda apresentou-lhe uma proposta inusitada: gravariam uma série de discos com a obra de Pixinguinha, e Lacerda assinaria os créditos junto com o mesmo, ainda que nas possíveis regravações. Além disso, Pixinguinha deveria ter o papel de coadjuvante, tocando sax tenor e Lacerda à flauta. Apesar dessa situação, Pixinguinha mostrou toda a sua genialidade nas gravações, fazendo contrapontos com o sax, que muitas vezes era difícil de distinguir quem era o instrumento principal, o Sax ou a flauta (ALMADA, 2010).

No início de 1947 o radialista da Rádio Tupi, Almirante, convida-o para ser arranjador e regente do programa “O pessoal da Velha Guarda”, nesta que pode ser considerada a fase final da carreira do mestre do choro. Tendo em mãos a Orquestra da Velha Guarda, formada por músicos contratados, Pixinguinha arranjou músicas já consideradas antigas, de compositores como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth e dele próprio. O programa fez bastante sucesso pelo seu caráter nostálgico (CABRAL, 2007).

Pixinguinha morreu em 1973, mas seus Choros, Valsas e sambas ficaram imortalizados. Hoje são considerados clássicos e já naquela época sua obra era reconhecida por maestros como Heitor Villa-lobos e Radamés Gnatalli. Como afirmava Radamés: “Choro tem muitos por aí, mas bons mesmo são os do Pixinguinha, e não é porque são mais elaborados, é porque ele era um gênio” (CAZES, 2010).

1.2 Inéditas e redescobertas

Lançado em 2012 pelo Instituto Moreira Salles (IMS) e a editora imprensa Oficial de São Paulo, o songbook “Pixinguinha inéditas e redescobertas” faz parte de um conjunto de lançamentos centrados na obra Pixinguinha. O acervo do compositor está sob a guarda do IMS desde 2000 e a partir de então o instituto tem se debruçado na tarefa de lançar edições criticamente cuidadas e confiáveis. O livro é composto de 20 peças, parte delas totalmente inéditas e outras que já estavam fora de catálogo há muito tempo, contendo apenas a melodia e harmonia cifrada de gêneros diversos como choros, valsas, polcas, tangos e até mesmo um Fox-trot, ritmo característico norte-americano.

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