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O BRASIL DE SEU TEMPO E O BRASIL CONTEMPORÂNEO

Por:   •  30/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.823 Palavras (12 Páginas)  •  288 Visualizações

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LIMA BARRETO: O BRASIL DE SEU TEMPO E O BRASIL CONTEMPORÂNEO

Resumo

Neste artigo é apresentado como se desenvolveu algumas das ideias discutidas por Lima Barreto no começo do século XIX, um Brasil que estava passando pela chamada modernização. Através da leitura de alguns contos e crônicas do autor, pretendo analisar três questões principais de sua literatura: 1) como ele percebia o Brasil em sua época, 2) a questão do racismo e 3) como a mulher aparece em alguns de seus textos, sempre fazendo um paralelo com o Brasil atual.

Palavras-chaves: Lima Barreto. Modernidade. Racismo. Literatura

1. Introdução

Neste artigo pretendo abordar em que contexto histórico Lima Barreto (1881-1922) desenvolve algumas de suas ideias. Através da leitura de alguns de seus contos e crônicas, faço uma comparação com o Brasil de sua época e o Brasil que veio a se desenvolver despois de sua morte. Lima, apesar de ter vivido pouco (morreu com 41 anos), deixou em seus escritos um registro sociológico do Brasil que poucos outros literários de sua época conseguiram fazer.

Irei abordar três questões que aparecem muito na literatura de Lima: a primeira é como ele percebia o Brasil do início do século XIX, que estava começando a se modernizar, e, de forma sarcástica e com seu olhar sociológico, consegue registrar em seus escritos; a outra questão é a do racismo: Lima morava no subúrbio, mulato de uma família de mulatos, viveu em uma época após a abolição oficial da escravidão, e os preconceitos, que até hoje permanecem, estavam firmes, marcados e nutridos pelo ressentimento das transformações causadas pela extinção da escravatura; por fim, irei abordar a questão da mulher em Lima Barreto e seus antagonismos: uma hora as critica, outra hora as ama, mas longe de qualquer ressentimento ou as odiando, ou lhes colocando para baixo, e, sim, na posição de as tirar da dominação masculina e torná-las livres. Vale salientar que a mulher que aparece na literatura de Lima não é qualquer mulher: ele vai tirar da invisibilidade a mulher negra que morava no subúrbio, que não aparecia na literatura daquela época.

Lima Barreto, um homem à frente do seu tempo, não aceitava a sociedade que ali estava a se desenvolver e seu medo acabou virando realidade. Vivendo sua vida pacata no subúrbio do Rio de Janeiro, deixou muitos escritos, escreveu muito, e hoje é esquecido, ou os seus críticos só colocam que o mesmo era louco, alcoólatra e não enxergam o seu lado subversivo. Em O cemitério dos Vivos, ele afirma:

“Eu sofria honestamente por um sofrimento que ninguém podia adivinhar; eu tinha sido humilhado, e estava, a bem dizer, ainda sendo, eu andei sujo e imundo, mas eu sentia que interiormente eu resplandecia de bondade, de sonhos de atingir à verdade, do amor pelos outros, de arrependimento dos meus erros e um desejo imenso de contribuir para que os outros fossem mais felizes do que eu, e procurava e sondava os mistérios da nossa natureza moral, uma vontade de descobrir nos nossos defeitos o seu núcleo primitivo de amor e de bondade.” (BARRETO, 1993, p.25)

2. Lima Barreto: O Brasil de seu tempo e o Brasil contemporâneo

A curta vida de Lima Barreto, que durou apenas 41 anos, deixou, para nossa sorte, um grande número de escritos. Lima viveu em um momento importante para o País, que era o início da chamada modernização do Brasil, e também o reflexo de ideias positivistas, deterministas e cientificistas que dominaram o século anterior. Lima Barreto testemunhou, digamos, o fim formal da escravidão. Viveu toda sua vida no subúrbio do Rio de Janeiro, soube da Proclamação da República, dos governos militares e das revoltas que se sucederam. Lima tinha um olhar para os acontecimentos que, ao meu ver, se assemelham muito com o de um sociólogo. Mas no título deste artigo denomino Lima como o rebelde da literatura brasileira. Quero deixar aqui a definição que considero adequada, que vem de Florentino de Carvalho em seu escrito colocado na coletânea intitulada Anarquismo e Sindicalismo, do professor Rogério Humberto Zeferino Nascimento:

“Convencidos de que a rebeldia é condição indispensável para pôr em prática o método mais eficaz de investigação, consideremos funesto, atingida a maioridade, submetermo-nos voluntariamente à tutela mental de qualquer pensamento estranho.” (NASCIMENTO, 2008, p. 23)

Ao ler alguns dos muitos contos, crônicas e artigos de Lima, percebe-se que ele é altamente crítico de tudo o que os outros aceitam passivamente: é onde entra seu olhar sociológico para o que ocorria no Brasil em sua época. Ao ler crônicas como “Elogio da Morte”, “País Rico”, “A Lei”, “A Universidade”, “Não as Matem”, “Quase Doutor”, percebe-se a crítica em tom sarcástico que Lima fazia ao que estava posto. Ao ler essas crônicas, é quase impossível não compará-las com o atual Brasil. Ao fazer esse paralelo, percebi o quanto o país nada mudou: gosto de dizer que apenas foram pintadas as fachadas do prédio, mas as estruturas e a essência continuam as mesmas. Em sua crônica “País Rico”, Lima diz:

“Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos, não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba.” (BARRETO, 1995, p. 59)

No Brasil atual, muita coisa não mudou em relação aos tempos do autor, como diz Lima, “nós que nele vivemos” percebemos que a realidade é bem diferente: sabemos que o Brasil é um país rico sim, mas em pesquisa recente o país é o quarto em relação a desigualdade na américa latina³. Lima, nessa sua crônica, vai enumerar alguns problemas que o Brasil de sua época enfrentava e que o de hoje continua enfrentando:

“Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, o os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico... Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico...” (BARRETO, 1995, p.59)

E termina a crônica dizendo:

“E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que

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