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Resenha Filme 'Ponto De Mutação'

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Por:   •  16/3/2014  •  1.215 Palavras (5 Páginas)  •  1.059 Visualizações

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O filme O Ponto de Mutação (EUA, 1990, Dir. Bernt Capra), levanta uma série de questões científicas, culturais, políticas, todas passíveis de reflexão. Tantas questões se dão a partir do diálogo entre Sonia, uma física desiludida com os caminhos trilhados pela ciência, morando na França, vivendo uma relação conflituosa com sua filha; Thomas, também morando na França, desiludido com o aspecto estritamente econômico tomado pelo seu trabalho nos EUA e sob uma crise da “meia idade”, deixando fluir seu lado poético e Jack, um político, candidato à presidência dos EUA, derrotado nas últimas eleições, buscando um novo rumo quanto à sua carreira política e suas pretensões presidenciais.

O diálogo entre três personagens traz uma série de colocações, mas se centra na diferença entre o pensamento mecanicista, construído desde Descartes, que promoveu avanços nas descobertas científicas, sob todo um contexto rompimento com as amarras religiosas (extremamente coercitivas e repressoras) que prendiam a sociedade. Tal pensamento mecanicista foi muito válido no seu contexto, mas, embora se mostre limitado ante o dinamismo do mundo contemporâneo, com as transformações processadas e a acentuação de graves problemas, ainda se mostra reinante nos dias atuais, analisando e compreendendo a sociedade sob uma ótica cartesiana, dividindo o todo em partes isoladas e independentes.

Contrapondo-se a isso, surge um pensamento que busca compreender a sociedade sob um ponto de vista sistêmico, que vê a realidade formada por partes interligadas e interdependentes. Nesta forma de pensamento e compreensão, a percepção (coletiva e não individualista) se faz totalmente necessária, objetivando a preservação da vida a partir da análise e compreensão dos fatos e fenômenos sociais a partir de todos os elementos que os cercam, buscando uma prevenção dos problemas e não apenas um enfrentamento pautado na intervenção simples e pontual, ressaltado pelo pensamento mecanicista, que apenas os transferem para outro campo. Sonia verifica no filme a falta de percepção da sociedade como um grave problema (o que me traz a memória a excelente música Contexto, da banda de rock Planet Hemp, que canta em seus versos: brasileiros pós-ditadura ainda se encontram em estado de coma semi-profundo/e um dos sintomas mais visíveis é a falta de percepção/acariciam um lobo achando que é o seu animal de estimação). Sonia observa a crise atual como fruto de uma série de fatores que são interligados, quando analisados como parte de um sistema integrado, ressaltando que quando se estabelecem relações podemos chegar a definições mais próximas da realidade e da compreensão do todo caótico e fragmentado. Essa compreensão encontra base na holística, na valorização dos processos e não apenas das estruturas, apreendendo a importância da subjetividade. Nota-se uma crítica voraz do filme quanto ao modo de vida da sociedade moderna, conservadora e resistente a mudanças, presa ao mercantilismo, individualismo e à forma cartesiana de pensamento. Essa ótica se vê consolidada com através dos mais variados âmbitos, como na sua difusão sutil por base de elementos do senso comum, por exemplo, definido por Marilena Chauí no livro “Convite à Filosofia”, como contaminado por uma série de pré-noções e distorções e que Gramsci destacava como mais um reforçador da ideologia dominante, perpassando as mais variadas classes sociais.

O filme traz de forma bastante rica uma análise de como todo o processo de apropriação da ciência se convergiu para um viés de dominação, com objetivos de sobreposição, se traduzindo como forma de poder, com interesses econômicos e imperialistas implícitos, se distanciando da idéia de ciência pura, apenas voltada para fins de progresso acessível a todos. Seu poder simbólico evoca um poder quase que religioso. Os avanços tecnológicos têm seu lado positivo, mas que não foram tão bem socializados quantos seus aspectos negativos, principalmente diante de motivações tão ligadas ao campo econômico e bélico, embora a sociedade atual não ressalte isso com tanta veemência. Marilena Chauí retrata também no seu livro como essa idéia de progresso positivo se consolida, ao passo em que a ciência caminha junto com a aplicação prática dos avanços científicos, simbolizados pela criação de novas tecnologias que trazem praticidade ao homem, trazendo-lhe bem-estar e aumentando de sobremaneira sua expectativa de vida.

O filme se mostra bastante produtivo quando salienta que a ciência está suscetível a mudanças de seus conceitos, às vezes radicais, não tendo toda a exatidão que aparenta. Muito interessante salientar aqui o termo ruptura epistemológica, trazido por Gaston Bachelard, que mostra

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