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Resenha de Epistemologia

Por:   •  8/11/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.671 Palavras (7 Páginas)  •  141 Visualizações

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Aluno: Rafael Sales

Ra: 11201811586

PIZA, Suze de Oliveira; PANSARELLI, Daniel. Sobre a descolonização do conhecimento – a invenção de outras epistemologias. Estudos de Religião, v. 26, n. 43, 2012.

        A leitura se inicia com o texto retratando de como os desafios e questionamentos da contemporaneidade não conseguem ser mais explicados por formas de conhecimentos consagradas como o iluminismo, e utiliza como exemplo o texto “A tradição e a época moderna”, por Hannah Arendt, que defendia que Marx, Nietzsche e Kierkegaard já diziam que era necessário superar modelos que caracterizada a “tradição”, período esse que vai ate o final da modernidade. “Em todos estes casos, a constatação-chave aponta para os limites dos modelos modernos em sua eficiência no trato com problemas históricos, concretos, impostos pela diversidade de perspectivas e expectativas constitutivas do mundo contemporâneo.

        O autor afirma que a democracia já chegou ao campo da epistemologia, fazendo assim que existisse espaço para o diverso, e tudo que é considerado certo na modernidade, a saber, a existência de uma forma por excelência de conhecer, de uma fonte incontestável de saberes já não se sustenta.

        O texto trás o autor Enrique Dussel, e sua obra que propunha uma espécie de “hermenêutica da história” para apresentar uma hipótese interpretativa da modernidade que ajuda a compreender sua vinculação com o colonialismo, o primeiro aspecto da hermenêutica dusseliana abordado no texto é o histórico, o questionar o que é tomado como consenso, desconfiar da validade daquilo que não gera dúvida, Dussel traz a questão histórica de como a Grécia antiga é tratada nos textos como o referencial da nossa sociedade, de que a Grécia de fato é o berço das civilizações, enquanto o norte da África apesar também de ser tomada como berço das civilizações, é em geral muito mais abordada como anedóticas, caricatas ou até mesmo de forma infantil. O segundo aspecto apresentado por Dussel é o do paradigma que ele chama de “mundial”, e que devemos voltar na história para entender, o autor indica quatro estágios no desenvolvimento inter-regional dos povos situados no conjunto formado por África, Ásia e Europa. O primeiro ele chama de “egípcio-mesopotâmico” passando por um segundo estagio de desenvolvimento chamado de “asiático-afro-mediterrâneo”, onde teve a Grécia e depois Roma ocupando grande destaque nas relações ao sistema que participavam, constituindo uma grande falácia a destacada atenção que foi dada a esse subperíodo, greco-romano, descontextualizando do conjunto histórico que pertencem. O terceiro estagio foi a idade média, período esse que a Europa figurava como mera periferia, sendo assim, se lançaram ao mares em busca do centro produtivo ou comercial para conseguirem produtos que não tinham tal competência de produzir, fazendo uma alusão ao moradores de periferia de hoje em dia que tem de ir ao centro para conseguir aquilo que necessita, a passagem entre o terceiro e quarto estagio, segundo o paradigma mundial proposto, a colonização da América pelos europeus foi a forma que eles encontraram de utilizarem as riquezas subtraídas em relação aos outros povos pertencentes do sistema inter-regional a que pertenciam, dando a Europa uma superioridade que não existia no fim do século XV, e esse é o inicio da modernidade, caracterizada por ser “um fenômeno que vai se mundializando” (ibid., p. 52), permitindo assim que um sistema inter-regional se tornasse um sistema único, verdadeiro, sem deixar espaço para o “outro”.

        Sendo assim o movimento de mundialização da europeidade está instalado no mundo e vai ganhando cada vez mais força, Dussel traz o conceito de “primeira modernidade”, a modernidade humanista e renascentista, se trata do período de colonização da Europa sob a América, era preciso extrair as riquezas das colônias para que a Europa-periferia virasse a Europa-centro de seu próprio sistema inter-regional. “Em certo sentido, podemos conceber que há significativa diferença entre adquirir poder e adquirir consciência e controle sobre o próprio poder. A passagem de um para outro destes estados é a da primeira para a segunda modernidade.”(pg.5), assim é introduzida a segunda modernidade, onde a Europa traz uma superioridade política, econômica, bélica, epistemológica, reduzindo toda forma válida de produção do conhecimento à forma vigente na Europa, controlando assim o mundo, a partir de então a Europa se torna por força político-bélica, epistemologia única.

        Entrando no campo da epistemologia moderna, presente no texto, podemos dizer que ela eliminou de suas reflexões o contexto cultural e político da produção de conhecimento, essa não atenção se transformou em cegueira da próprio conhecimento, estamos subordinados a uma epistemologia dominante, a dominação colonial é também uma dominação epistemológica que inferioriza os dominados, e com essas considerações que se inicia a obra “Epistemologias do sul” de Boaventura de Sousa Santos.

        O domínio epistemológico nega o caráter racional de todas as outras formas de conhecimento que não se fundamentaram nos princípios epistemológicos e regras metodológicas da epistemologia dominante, isso nos leva a pensar que todos os processos de descolonização que obtivemos historicamente, uma forma de libertação das colônias, hoje, devem continuar, porem em forma de libertação epistêmica, abrindo espaço para outras concepções, a descolonização colocaria um final ao processo histórico de implantação do poder.

        O texto introduz Mignolo e os conceitos de colonialidade do poder e saber, introduzidas com o objetivo de dar visibilidade a diferentes aspectos epistêmicos coloniais, como a relação sujeito e objeto (que é julgado pelo sujeito), logo, a crença na superioridade da ciência e do saber ocidental e no questionamento da existência de uma racionalidade que não seja europeia. Essas categorias nos mostram que não existe modernidade sem colonialidade, a colonialidade com o tempo, avança para a modernidade, substituindo de forma gradual todo repertorio epistêmico, por uma nova visão de mundo, que aparece como única realidade existente.

        O conhecimento na modernidade foi construído com base nessa relação sujeito e objeto, e a questão que deve ser colocada em torno dessa relação é, quem, ou oque, ocupa a posição do objeto e quais as implicações éticas desse posicionamento? A Europa se coloca na posição de sujeito, pois se assume como fundadora e possuidora da modernidade.

“Que encadeamento de circunstâncias conduziu a que, precisamente no solo do Ocidente e só aqui, se produzissem fenômenos culturais que – pelo menos entre nós costumamos representá-los para nós – estavam numa direção evolutiva de significação e validade universais? (WEBER apud DUSSEL, 2000, p. 48).

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