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O Conhecimento ,reconhecimento e compartilhamento afetivo em Scheler

Por:   •  20/11/2017  •  Relatório de pesquisa  •  3.324 Palavras (14 Páginas)  •  327 Visualizações

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Conhecimento,reconhecimento e participação afetiva

O fenômeno da simpatia se encontra fundamentado no conceito de intersubjetividade, e para tratar da questão da intersubjetividade do ponto de vista do reconhecimento é necessário fazer do compartilhamento afetivo o fundamento das relações entre os indivíduos e rejeitar uma concepção do outro baseada sobre o conhecimento. Pois, essa inclinação do conhecimento para o reconhecimento parece óbvia, no entanto essas concepções se misturam de certa forma, mas mantém sua incompatibilidade. Esse é o caso do pensamento de Scheler frente a concepção de Husserl.

O método Scheleriano é fenomenológico : é uma descrição exata e rigoroso do aparecimento do fenômeno na consciência. Esse fato coloca o filósofo em um terreno todo Husserliano, dado que Husserl, enquanto mestre de Scheler, parece ter mais influência direta  no pensamento do seu discípulo do que qualquer outro filósofo, devido a proximidade temporal  entre Husserl e Scheler. Resta saber em que pontos ele se mantém fiel à seu mestre, e quais são os pontos que os separam.

O Artigo "Critica de Scheler à Husserl" de Bruno Frère (2006, p. 63-88),nos ajuda a compreender a proximidade teórica  de Scheler com relação as" Investigações lógicas" (1901) de Husserl e sua ruptura total com as " Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica"(1913) período onde Husserl desenvolve sua concepção de uma consciência  constituída à partir do retorno ao transcendental. Segundo Frère, Scheler permanecerá sempre fiel aos Investigações lógicas no sentido de que defende a ideia de que a unidade da consciência baseia-se na relação entre seu próprio vivido e não à partir de um eu  transcendental operador de sínteses, separadas do conteúdo fenomenal dessas experiências. "Portanto a unidade da consciência encontra-se já constituída pelo que não é mais ela (as propriedades fenomenais) e não há necessidade de usar um princípio egológico que suportará todos os conteúdos e unificará uma segunda vez ".(Frère 2006,p. 65) Para Scheler " a primeira coisa que deve possuir(...) a título de carácter fundamental uma filosofia fundada sobre a fenomenologia é a relação mais viva, intensa e imediata com o mundo. "(Scheler 1913, p.108).

Ao analisar a teoria husserliana na qual ele estabelece a correlação entre uma consciência intencional e o conteúdo do objeto, Scheler mostra-se de acordo com o fato de que a coisa é dada em toda sua ipseidade. Por outro lado, refuta o fato de que a unidade da coisa é dada pela concordância de seus esboços, porque a unidade concebida dessa forma resulta necessariamente de uma síntese de identificação. Em outras palavras, o objeto que o sujeito tem na frente dele, isto é, a aparência fenomenal em sua consciência, deve ser dada em toda sua unidade, e não de perfis que exigiriam uma síntese posterior do sujeito que o está experimentando. Nesse sentido, o Husserl das " Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica" diz que os vividos não podem ser apreendidos por eles mesmos, mas por um eu que os unifica. Isto é para dizer que, por trás de cada vivido, deve haver uma Eu puro, que pode assegurar sua própria unidade. Em vista de tal síntese, de acordo com Scheler, a condição do objeto seria o sujeito, e não o oposto, e a verdadeira alteridade da coisa seria perdida. Scheler visa o lado mais realista da experiência, afora o idealismo transcendental husserliano.

 Sabemos que em Husserl, o mundo só faz sentido a partir de uma consciência pura, é sempre a minha experiência diante do mundo. Este eu transcendental absoluto só pode ser refutada por Scheler procurando uma abertura ao mundo: o objeto tem seu significado por si só, é ele quem se entrega a si mesmo através de suas manifestações originais fenomenais. Será uma questão de tornar o objeto o primado da significação.

"Para Scheler, é claramente contra Husserl que devemos avançar o primado do ser sobre a consciência, do dado sobre o construído, e que o sujeito deve ser colocado em sua subordinação ao objeto que ele está longe de ser capaz de constituir e que ele pode conceber apenas como independente dele." (Frére 2006, p.71) 

É em sua análise do a priori kantiano que Scheler mostra sua recusa de um eu operador de sínteses diante dos vividos. O primeiro princípio kantiano negado por Scheler é o da "espontaneidade do pensamento que seria a fonte de toda ligação dos fenômenos pelo entendimento" [...] "(Scheler 1913, 88). O a priori do entendimento definido dessa maneira seria, portanto, o centro do intelecto de organização e ligação do caos dos dados sensíveis. No entanto, essa concepção é impossível pelo fato de que o a priori não é sinónimo de atividade do entendimento, porque "assim como as essencialidades são dadas, também são dadas as correlações que as une: não sendo capaz de ser trazido de fora ou "produzido" pelo entendimento. São apreendidos intuitivamente, não "fabricados"" (Scheler 1913, 90). Uma concepção do entendimento como construtor de significados é arbitrário e não conta para a apreensão real da aparência da coisa. Ao contrário de uma atitude kantiana que nega o mundo, a atitude da fenomenologia deve basear-se no amor em relação a esse mundo, no sentido de aceitá-lo imediatamente, como é dado. A intuição captura os fatos do mundo através de toda a sua evidência e sua simplicidade.

O carácter realista da teoria scheleriana nos mostra sua reinterpretação e sua crítica a redução fenomenológica de Husserl:

"Os parênteses da posição de existência não têm outra consequência do que fazer sobressair mais claramente o ser-como (Sosein) contingente do objeto, que mantém ao mesmo tempo seu lugar no espaço e no tempo. Mas ficamos muito longe da essência e devemos nos interrogar com admiração: que bom é tudo isso?"(Dupuy 1959, p.255).

No sentido de desenvolvimento de uma consciência constituinte resultante da redução da tese do mundo, é legítimo falar da noção de conhecimento em Husserl. Esta renovação conduz necessariamente a uma ruptura que isola o eu transcendental do mundo natural e o ao redor. Esta é uma espécie de desvio que afasta o sujeito de uma relação imediata com o mundo.

 

"A consciência é não somente outra do que a realidade , mas a realidade é relativa a consciência, no sentido de que ela  se anuncia como uma unidade de sentido em vários "esboços" convergentes; A mente está orientada para a ideia de redução e constituição "(Ricoeur 1950)

 

Existe uma divisão entre a "região " da consciência e a "região" natural.

"[...] A consciência tem em si um ser apropriado (Eigensein) que, em sua especificidade absoluta eidética, não é afetada pela exclusão fenomenológica. Então, continua com um resíduo fenomenológico "e constitui uma região do ser original [...]" (Husserl 1913, p.108).

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