Resenha Filme O Show De Truman

O filme “O Show de Truman” parece ser uma análise crítica/metafórica da realidade do mundo pós-moderno, o qual se vê cada dia mais manipulado pelo ilusório mundo do que parece ser, construído por meios de comunicação que têm, em geral, contribuído para a formação de sujeitos acomodados e ironicamente rasos, incultos. Essa ação alienadora se baseia na propagação massiva de informações que, contudo, são de pouca relevância para o saber, mas criam no indivíduo a falsa sensação de acúmulo de conhecimento. Dessa forma, esse indivíduo acredita viver o real, embora viva a farsa superficial e estrategicamente inventada para distraí-lo.

Pode-se identificar na narrativa um claro paralelo com o mito das cavernas, de Platão. No filme, o protagonista ( Truman ) vive toda sua vida em uma bolha, a pequena cidade cenográfica de Seahaven. Todos ao seu redor são atores e desde que ele nasceu foi adotado por um estúdio de cinema, teve sua vida filmada e transmitida para o mundo externo como um programa de televisão . Toda a sua vida , tudo o que sabe , todas as suas experiências acontecem em sua própria realidade forjada.

Todo o engodo que permeia a vida do protagonista foi concebido por Christof, produtor do Reality Show, que pode ser visto como o “Deus” do programa televisivo e consequentemente da vida de Truman, pois delineou todas as falsas tramas vivenciadas por ele desde seu nascimento.

Durante o filme, há um deslocamento de perspectiva e Christof aparece sendo entrevistado e diz: "Nós aceitamos a realidade do mundo tal qual ela nos é apresentada”. Essa deixa interliga o filme e o mito. No Mito da Caverna, os homens vivem acorrentados a uma parede e aceitam as sombras que veem na parede da caverna como realidade, enquanto Truman vê sua cidade como realidade. Tudo o que ele já conheceu ocorre na "realidade" construída e, portanto, ele não tem escolha a não ser aceitá-la. É tão subconsciente que ele nem sequer percebe.

No entanto, um fato inesperado acaba por interferir no destino de Truman. Ele conhece e se apaixona por Sylvia, que embora também seja parte da encenação acaba por tentar contá-lo a verdade e é expulsa do programa. Um broche achado na jaqueta de Sylvia por Truman tinha a frase: ”Como isso irá terminar? ”. Esse seria o marco para a virada da história.

O desfecho do filme apresenta o despertar de Truman, que passa a perceber a constância e similaridade com que tudo acontece na cidade. Ele finalmente começa a questionar o universo que está inserido, descobre toda a farsa e deixa o estúdio. Ele estaria deixando, alegoricamente, sua caverna e esse gesto enfatiza uma lição de que a pessoa que questiona, aprende a contemplar realidades alternativas e está apto a ser liberto de “cavernas” ilusórias e alcançar a verdadeira compreensão.

O Show de Truman traz a filosofia antiga representada em um cenário moderno e compreensível. O filme é leve e fácil de assistir. Há uma identificação com o personagem, faz o espectador refletir, de modo que torcer por Truman no filme é questionar a nossa própria vida, se estamos desenvolvendo todo nosso potencial do saber.

Mesmo que o filme não seja explicitamente uma adaptação do Mito da caverna, levanta as mesmas questões pertinentes a existência humana e realidades alternativas que Platão fez. Enquanto o homem é, hoje, bombardeado por informações

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