Ruan Rulfo - Uma Escrita da Transgressão

PEDROSO, Bernadet Korzun. Juan Rulfo: uma escritura de transgressão. In: Segundas palavras sobre poética e sociedade: interfaces literárias. – Cascavel: Unioeste, 2017. pp. 44-54.

Cândido (1985) – os críticos e estudiosos das obras de arte, sobretudo das obras literárias, devem aplicar uma visão ampliada em seus estudos. Para ele, somente unindo dialeticamente texto e contexto social é que se pode fazer uma interpretação satisfatória. O social é um dos elementos externos, que se torna interno ao ser incluído num texto literário e não pode ser captado como causa ou significado, mas como um elemento que desempenha certo papel na constituição de uma obra. (p. 44)

Vários fatores compõem o elemento externo, como a origem dos autores, a relação entre as obras, as ideias e influências da organização social, seja econômica ou política. (p. 44)

Em se tratando das literaturas latino-americanas, observa-se um ensejo de realizar uma literatura que expresse os temas do continente, uma escritura que marque a diferença. Daí a afirmação de Bella Jozef (1989, p. 272): “Toda uma nova geração [...] volta-se tanto para a renovação da forma e da linguagem como para uma temática em que a literatura latino-americana, tratada em seu contexto nacional, ganhe sentido universal”. (p. 44)

[...] Essa nova vertente literária busca o resgate ou invenção da própria história, de tal modo que, segundo Bella Jozef (2005, p. 189), “[...] o homem americano, contemporâneo na procura da realidade mais profunda que a realista, criará mundos imaginários e simbólicos, fora do espaço e tempo”. (p. 44)

Assim surgem as obras contemporâneas que intentam a recriação do elemento mítico, buscando, a partir de uma linguagem recriada que capta os falares cotidianos, assimilar os mistérios da realidade. (p. 45)

O romance latino-americano contemporâneo, explorando novas formas de literárias, nova linguagem, nova forma de narrar, compõe um texto maior que pressupõe um leitor já informado, capaz de ver a obra literária como instrumento de denúncia e preocupação social dos escritores. (p. 45)

Como destaca Aguiar (2001, p. 97), o romance hispano-americano é marcado pela preocupação social, pela atitude crítica que as obras manifestam, por sua função instrumental no processo histórico das respectivas nações, sendo uma “forma de chamar atenção para os mais graves e urgentes problemas sociais e dirigido às massas leitoras como excitante da ação imediata”. (p. 45)

Rulfo situa Comala, a cidade fictícia de Pedro Páramo, em Jalisco, um importante Estado mexicano conhecido por integrar a liga dos Estados que participaram da Guerra Cristera. Enquanto o discurso histórico não deu a devida importância a esse conflito armado, Rulfo traz à tona tal temática, bastante presente na história e memória do povo mexicano por se tratar de um conflito de caráter popular e com fortes tensões entre culturas e Estado. (p. 46)

A forma de organização da narrativa em Pedro Páramo conduz o leitor à uma arqueologia da história mexicana, metaforicamente representada por uma estrutura narrativa insólita. É importante lembrar que a Revolução Mexicana (1910) coincide com esse momento em que os escritores revelam uma preocupação ímpar com os seus próprios problemas sociais. (p. 47)

A história é representada no texto pela metáfora “ar velho e entorpecido”, enquanto a “desgraça” pode simbolizar a Revolução Mexicana. (p. 47)

A personagem Pedro Páramo é a representação mítica do todo poderoso, a figura dos coronéis/caciques. (p. 48)

Em Pedro Páramo, Juan Rulfo “relê acontecimentos históricos e revela um passado rude, de condições miseráveis da população mexicana, desestruturando imagens reais e utilizando-se do fantástico como ferramenta de fundição do real com o imaginário”. (p. 48)

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