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A Bolsa e a Vida Economia e Religião na Idade Média Jacques Le Goff

Por:   •  2/2/2017  •  Resenha  •  1.120 Palavras (5 Páginas)  •  540 Visualizações

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A Bolsa e a Vida

Economia e Religião na Idade Média

Jacques Le Goff

Entre o Dinheiro e o Inferno: A Usura e o Usurário

Lucro e Usura, pecados

A usura constituiu um problema que perdurou por sete séculos, entre XII e XIX. Veementemente condenada pela Igreja, o estereótipo que se constituiu do usurário é o de judeu ávido pelo lucro. Contudo, Wolff em sua obra Outono da Idade Média ou Primavera dos Tempos Modernos? afirma que a maior parte dos praticantes da usura foram cristãos italianos que driblaram as perseguições religiosas. O Novo Testamento carrega algumas repreensões aos que buscam o lucro, Mateus e Lucas falam com uma só voz que “ninguém pode servir á dois senhores. Não podeis servir á Deus e ao dinheiro”. Tal era o pensamento dominante na Idade Média, o lucro era condenável, bem como a usura e o usurário que faziam parte de um sistema de lucros pecaminosos e contrários á moral cristã.  

A condição dos usurários

O Quarto Concílio de Latrão marca uma data importante para os cristãos (portanto, para grande parte do Ocidente Medieval). Tal Concílio torna obrigatória a confissão de todos os cristãos pelo menos uma vez ao ano, durante a Páscoa. A confissão passava a ser feita diretamente entre o confessor e o penitente. O penitente fazia uma análise de conduta e se empenhava em confessar tudo o que não achava estar de acordo com  a moral cristã, todos os seus desvios de conduta. O confessor era orientado á purificar o possível pecador por meio das penitências. Dois tipos de pecados faziam parte do universo religioso: os mais leves e os mais graves. Aqueles que morressem tendo praticado pecados graves, ou seja, sem terem se redimido em vida tinham como destino direto o Inferno. Pelo contrário,  os que morressem carregando pecados leves passariam  por um caminho intermediário denominado purgatório, com a função de purificação e conseqüente encaminhamento á vida eterna; o Paraíso. O usurário representou um tipo novo de pecador, com o qual antes não se deparava. Ele deveria escolher entre seu dinheiro e o Inferno, ou uma nova vida e o Paraíso.    

A Bolsa: A Usura

A usura

A usura não é sinônimo de juro. O juro é cobrado pelo empréstimo de um bem material. Em troca do uso do bem, cobra-se uma quantia estipulada. Pelo contrário, a usura nada mais é do que a cobrança pelo uso do dinheiro. Empresta-se dinheiro como se fosse um bem material e seu uso é cobrado; cobra-se pelo uso do dinheiro. A cobrança do juro não era condenada pela Igreja, a usura, por sua vez, era prática pecaminosa.

Embora diversos textos das Sagradas Escrituras sejam ambíguos, os cinco textos de tais escrituras que tratam da usura de certa forma comungam. Quatro são do Velho Testamento e condenam que a usura seja praticada entre compatriotas, contudo, permite que ela seja praticada entre os estrangeiros. A interpretação destes textos pelos judeus certamente lhes renderá o estereótipo de usurários pecadores, uma vez que praticavam a usura para com todos os não judeus, inclusive para com os cristãos. O único texto do Novo Testamento condena a usura em todas as suas formas, tanto para com os compatriotas como para com os estrangeiros. Tal será o texto influenciador do pensamento cristão medieval. A usura constitui pecado e o destino do usurário será o inferno. O homem deve ganhar o pão com o suor de próprio corpo e o lucro fácil da usura permite o ócio, pai dos pecados. A Igreja procurava se movimentar contra a prática da usura, cada vez mais freqüente entre camponeses que deixavam suas vidas miseráveis em troca do lucro fácil e melhores condições de vida, fazendo surgir a diminuição do cultivo das terras, bem como o espectro da fome. A usura era relacionada ao roubo, uma cobrança ilícita de lucros. A usura era considerada um pecado sem perdão, que levava á morte da alma, ao Inferno.

Aristóteles

A visão religiosa cristã da usura assemelhava-se muito á visão de Aristóteles. Segundo dizia no Livro Primeiro de sua Política, a função do dinheiro não é gerar dinheiro, o dinheiro é apenas um objeto de trocas. Por isso a usura é prática condenável, porque aplica ao dinheiro uma função que não é de sua natureza.  

O Ladrão de Tempo

O destino dos usurários era o Inferno a menos que eles se redimissem ainda em vida. Para alcançar a salvação não bastava apenas o usurário arrepender-se; deveria, além disso, restituir aquilo que havia roubado. O usurário também era considerado ladrão, uma vez que utilizava para si do tempo, que pertencia somente a Deus. Além de se apossar do dinheiro que não era seu por direito (o dinheiro que rendia a usura), ele se utilizava um bem que pertencia a Deus; o tempo. Roubava, portanto, a Deus e ao irmão.

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