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O LIVRO DAS MARAVILHAS DE MARCO POLO E AS VIAGENS NA BAIXA IDADE MÉDIA

Por:   •  3/7/2018  •  Trabalho acadêmico  •  5.026 Palavras (21 Páginas)  •  269 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Vanessa Mayumi Matsuoka

O LIVRO DAS MARAVILHAS DE MARCO POLO E AS VIAGENS NA BAIXA IDADE MÉDIA

Maringá

2017

Introdução

        O Livro das Maravilhas foi escrito em 1298-1299, no séc XIII, período compreendido como Baixa Idade Média. A obra é composta por relatos de viagens do mercador Marco Polo. Filho de comerciantes venezianos, Marco Polo viveu numa região de grande importância por sua economia e pela questão marítima que tornava Veneza uma região viável para os mercadores que exploraram regiões afastadas do mundo exterior através das cruzadas. Cabe salientar que nesse período Veneza pertencia a Constantinopla.

        O livro foi redigido em 1298 quando Marco Polo deu início a um diário de viagem escrito durante o seu retorno para Veneza, que estava em guerra com Gênova (São Sabas). Marco Polo torna-se prisioneiro junto a Rustichello de Pisa, um romancista, a partir disso o mercador veneziano narra suas histórias e descrições do mundo oriental, escrevendo quatro livros. No início do primeiro livro ele já direciona a obra a um determinado público dos grandes líderes, dizendo:

Senhores, Imperadores, reis, duques e marqueses condes, fidalgos e burgueses e todos vós que sejais conhecer as diferenças raças e as variedades das diversas regiões do globo, tomai este livro e mandai que vo-lo leiam. (p. 45)

        Marco Polo é filho do mercador Nicolai Polo, que acompanhado de um irmão, Mafeu Polo, vão buscar por rotas de comércio no Oriente. Por um infortuno em Soldanina, uma disputa na região ocasiona a mudança do líder local. Nicolai e Mafeu são obrigados a seguir viagem ao Oriente, o que os leva a conhecer Cublai Cã[1], que pela tamanha gentileza com eles, fazem mercadores observarem uma ótima oportunidade para o Vaticano formar uma aliança com os mongóis contra os mulçumanos.  Em 1241 os mongóis tinham chegado com seus exercito até Viena, com a intenção de tomar a cidade, é sob esse contexto que assume o novo Grande Cã, Cublai Cã, sendo conhecido como uma figura gentil e excelente aliado.

Em termos metodológicos o que representa a idéia de viagem, para o homem medieval? Segundo Pablo Castro Hernandez, o sentido da uma viagem vai além da busca por conquista de terras e tesouros, representa também uma viagem espiritual, uma busca por autoconhecimento.

El viaje em el mundo medieval se presenta como una constante busque da del hombre em lain mensidad del espacio, un traslado que se realiza de manera física y espiritual. Viajar va a estar asociado a explorar, buscar y conocer, lo que va a permitir ampliar la noción de mundo y deleitar se de lãs maravillas y singularidades de los lugares que se recorren. (HERNANDEZ, 2013, p. 234)

        A obra de Marco Polo tornou-se conhecida por séculos, devido as maravilhas apresentadas sobre o mundo exterior, um mundo até então desconhecido, exótico. Seu relato de cunho cartográfico, muito comum nesse período da Idade Média, como explica Renata Cristina de Souza do Nascimento.

A cartografia medieval adotou como fio condutor, em muitos momentos, o mito do paraíso terrestre. A tradição cultural européia localizava seus mitos no Oriente, tendo estes papel mobilizador, pois diversos aventureiros e conquistadores, se esforçavam, em suas viagens, para atingir e localizar estas regiões imaginárias (NASCIMENTO, 2014, p.23).

        Relatos como o Livro das Maravilhas de Marco Polo ou o livro sobre o Reino de Prestes João de Jean de Mandeville, se tornam inspirações para navegadores e conquistadores, como por exemplo, Cristovão Colombo que inspirado nas viagens passadas se inspira nesses escrito ao buscar as índias. Uma busca por maravilhas descritas por mercadores como Marco Polo, como os paraísos terrenos, os grandes reis do Oriente, os tesouros, a ânsia pela disseminação do cristianismo nesse mundo exótico contra a propagação dos mulçumanos; os relatos de monstros e da mística do Oriente. Nascimento fala ainda que o “Oriente: estranho, misterioso e antinatural, justificativa para o domínio europeu” (NASCIMENTO, 2014, p.28).

        Podemos recorrer ainda a Edward Said que na sua obra Orientalismo demonstra como o Oriente foi construído sob o olhar do Ocidente, sendo uma construção do ocidental, de acordo com Nascimento.

[...] ideia também aproxima-se das reflexões de Said (1990) que, em sua clássica obra Orientalismo, explicita a produção de um saber ocidental sobre o Oriente e a África, que dizem mais sobre os medos e as ansiedades ocidentais do que sobre a vida no Oriente e África do Norte. O Orientalismo deve ser portanto entendido como a “representação europeia sobre o Oriente” (NASCIMENTO, 2014, p. 34).

        A obra de Marco Polo, portanto, nos remete a essa idéia do Ocidente construindo uma perspectiva de Oriente. Esses diários de viagem são fixados no plano do real e não no imaginário, nos trazendo a visão de homens ocidentais, como Marco Polo, Jean de Mandeville, sobre esse mundo Oriental.

        A obra é escrita em uma transição de pensamento, de um homem medieval que é fixo em sua terra, na sua região, teme os monstros além de suas fronteiras; assim, chegamos a um homem de nova mentalidade que busca conhecer além de suas fronteiras, ávido por riquezas, por ‘’maravilhas’’ no plano exterior. Em seu espírito, ainda carrega consigo uma raiz cristã religiosa, dando credibilidade a sua busca por uma questão vinculada a expandir sua fé e como nas cruzadas a converter seu irmão, salvando-o do pecado. Esse novo contexto explica o sucesso do livro de Marco Polo, é parte de um novo momento, pois o individuo dentro da Idade Média está mais aberto a ler e ouvir sobre essas maravilhas.

        Para esse relatório utilizei a edição da L&PM Pocket, com tradução de Eloi Braga Junior, que teve o cuidado de selecionar a obra a ser traduzida escolhendo uma versão portuguesa de Valetim Fernandes de 1502. Na primeira parte, o editor Stéphane Yerasimos, faz um breve levantamento sobre o contexto em que a obra foi escrita, um ótimo recurso para leitor se situar temporalmente e espacialmente na leitura. O editor pontua os debates entre historiadores que ainda buscam a comprovação de que Marco Polo realmente realizou essas viagens, trazendo uma reflexão sobre o Maravilhoso para o homem medieval, o maravilhoso pelo qual se reflete a obra de Marco Polo.

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