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Trabalho Literatura Metrópole Moderna

Por:   •  18/9/2020  •  Resenha  •  2.279 Palavras (10 Páginas)  •  173 Visualizações

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TRABALHO DE PESQUISA: 

Listar as características da metrópole moderna e da mentalidade do homem, que caracterizam a vida na grande cidade, apresentadas em Metrópole e vida mental, George Simmel. Identificar no comportamento dos personagens dos contos lidos estas características. 

O delineamento da definição do que conhecemos por metrópole brota no século XVIII com a Primeira Revolução Industrial do imperativo de se reunir os indivíduos em centros de trabalho. Isso gerou um crescimento acelerado das cidades criando novos mundos de organização e interação social, consequentemente, da mentalidade do homem, acompanhando a lógica do capitalismo. A divisão do trabalho e a especialização são fortes nesse contexto. A noção de tempo e de espaço se transforma e uma nova sociedade surge.

O texto “Metrópole e vida Mental”, de George Simmel, apresenta as características da cidade moderna e suas consequências na mentalidade do homem. A sociedade da época se torna aos poucos heterogênea, complexa e diversificada em termos étnicos, econômicos e culturais. O autor procura compreender a dinâmica social, dessas populações metropolitanas, suas relações com a cidade como um todo e entre elas próprias.

O capitalismo dita as regras, onde a lógica que impera é “tempo é dinheiro”; os acontecimentos da metrópole são acelerados, simultâneos e fragmentados, ao contrário das cidades menores do interior. A distância, a impessoalidade e o anonimato vão ganhar vulto nas relações entre os habitantes. O anonimato patrocina as múltiplas identidades, pelo qual o individuo pode cumprir vários papéis a depender de suas relações. O indivíduo passa a ser um número, no qual sua individualidade é reduzida e o fator preponderante é o monetário, ligado à economia do dinheiro que torna o homem moderno mais calculista. A exatidão ganha espaço e os relógios entram em ação, controlando cada vez mais o tempo do homem, cobrando a pontualidade. O controle expresso pela pontualidade, exatidão e o aparato da economia são introduzidos à força na cidade metropolitana. Enfim, a organização racional do tempo e do espaço seria um fator fundamental para o fluxo da vida nas metrópoles.

Movimento frenético e velocidade tomam contam do habitante da cidade grande. É exigido desse habitante uma sensibilidade e uma vida psíquica capazes de se amoldarem às instabilidades da velocidade e diversidade de estímulos que estas apresentam. A predominância do intelecto sobre as emoções é uma das principais características do indivíduo do centro urbano. Logo, a inteligência desse individuo associada a  intelectualidade será um dos principais fatores responsáveis por preservá-lo contra os inúmeros estímulos e o poder das forças sociais.

Na cidade moderna, a produção capitalista com seu ritmo acelerado, traz mudanças sociais para as ruas e na vida dos habitantes da metrópole. Todos esses acontecimentos energizam a vida cotidiana; há a intensificação dos estímulos nervosos que põe os indivíduos na experiência do choque. O homem moderno lida com vários estímulos ao mesmo tempo e isso implica em patologias mentais como irritação, tensão, surtos e estresse, dentre outros. São essas patologias que fazem os homens se fecharem para o mundo; é uma proteção contra o excesso de estímulos, uma forma de preservação mental, acarretando fuga das emoções cotidianas e na própria indiferença. Fazendo já um paralelo para o mundo atual, vive-se em meio sujeito a muitos produtos e propagandas e quanto maior a quantidade de informações, menor a absorção delas. Isso gera um paradoxo entre consumir e poupar, tumulto e solidão, liberdade e vigilância proximidade e distanciamento, por exemplo.

Simmel observa que o habitante da metrópole está condicionado por uma série de choques e conflitos, sobretudo visuais, o que arranca do sistema nervoso resposta violentas, submetendo-o a choques. Nota-se que a experiência da metrópole é, antes de tudo, uma experiência traumática da modernização, dominada pela hiperestimulação sensorial e pelo estado de choque.

Diante da possibilidade de uma desestabilização emocional do habitante da grande cidade, o indivíduo começa a desenvolver uma determinada vida mental que o possibilite continuar a viver nessa nova sociedade, o que gera como consequência o distanciamento das relações afetivas. Essas três possíveis soluções que o habitante da cidade grande utiliza para se auto proteger da hiperestimulação sensorial são o processo de intelectualização, a reserva e a atitude blasé. A intelectualização perpassa por uma consciência elevada e uma predominância da inteligência nos indivíduos metropolitanos e, assim, usa-se o intelecto, pelo qual as pessoas reagem mais com a razão de que com o coração. A reserva, por sua vez, indica o bloqueio de contato mais próximo entre os indivíduos do meio urbano; um estado de aversão, uma estranheza e repulsão mútuas contra qualquer contato próximo, como que se o indivíduo guardasse parte essencial de sua personalidade como propriedade privada. Por último, a atitude blasé está relacionada a economia monetária, pelo qual essas pessoas teriam tudo ao seu alcance através da moeda, e daí não se interessam pelo outro; são indiferentes  a pobreza e as misérias do mundo. Assim, as relações na cidade moderna são lastreadas pelo monetário no nível intelectual, sem a presença do emocional. Em contraponto, o homem metropolitano tem maior liberdade em relação ao individuo na cidade pequena, no entanto, menos solidariedade.

Ente alguns contos lidos as características apresentadas acima fazem parte do comportamento dos personagens. Pode-se citar:

Em “Gaetaninho”, de Alcântara Machado, o menino não adaptado às mudanças da cidade moderna, morre ao ser atropelado por um bonde. A ironia consiste no foco do acontecimento ser no bonde amassado. Gaetaninho “morreu na contramão atrapalhando o trânsito”. Na cidade moderna, os objetos são mais importantes que as pessoas.

Em “Passeio Noturno 1”, de Rubem Fonseca, o protagonista, um bem sucedido executivo, homem socialmente distinto e de classe alta, atropela pessoas pobres e indefesas para aliviar suas tensões e o estresse do dia-a-dia, demonstrando a prática da violência e a banalização da vida nas camadas sociais mais abastadas. Dessa forma, o referido conto aponta para outro aspecto motivador da violência para além da desigualdade social, a coisificação do homem, operada por uma sociedade extremamente mecanizada. O protagonista assume um atitude blasé. Possuindo apenas relações monetárias com a própria família e uma vida sem afetividade e monótona, o personagem sai pelas ruas em busca de pessoas para atropelar com seu carro como uma forma de relaxar e se libertar das tensões do dia a dia, atropelando pessoas com seu carro. Após um atropelamento observa que o corpo ensanguentado com ossos quebrados foi parar em cima de um muro, “desses baixinhos de casa de subúrbio”, mas nos para-choques não havia nenhuma marca. Nessa passagem, nota-se o já falado no texto “Gaetaninho”, no qual na cidade moderna, os objetos são mais importantes que as pessoas. Paralelamente, o protagonista possui, por tempo, essa vida de personalidade dupla, Durante o dia, sob a luz e no momento de clareza, ele assumia a função de homem trabalhador, mas, durante à noite, no momento de obscuridade e imprecisão, assumia outra identidade. O passeio noturno e o consequente afloramento do “outro” no personagem, no conto de Ruben Fonseca, simboliza a tentativa de extravasar, de sair do isolamento de si, da monotonia familiar, desgarrar-se deste plano e assumir outra perspectiva de ser, evidenciando um rebaixamento da condição humana, assumindo a identidade de tipos marginalizados e discriminados na sociedade. Essa condição é referenciada por Simmel, em “Metrópole e Vida Mental”, a partir de que o anonimato patrocina as múltiplas identidades, pelo qual o individuo pode cumprir vários papéis a depender de suas relações. Vê-se, então, a alienação, o isolamento e a fragmentação do sujeito pós-moderno na célula básica da formação da sociedade, a família.

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