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A Resenha Carvalhal

Por:   •  20/4/2021  •  Resenha  •  2.405 Palavras (10 Páginas)  •  225 Visualizações

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CARVALHAL, TÂNIA F.; LITERATURA COMPARADA. SÃO PAULO: ÁTICA. 2006. P. 5-44.

Vinícius Marangon

Durante os três primeiros capítulos de “Literatura comparada”, Tânia Franco Carvalhal conduz o leitor em um jornada através das origens da literatura comparada, realizando uma revisão bibliográfica que vai dos primórdios da disciplina, no começo do século XIX, até estudos mais recentes, realizados nas décadas de 70 e 80. A autora possui graduação em Letras – Licenciatura em Português/Francês e respectivas literaturas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1965), mestrado em Línguística pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1969), mestrado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1975), doutorado em Letras (Teoria Literária e Literatura Comparada) pela Universidade de São Paulo(1981), e pós-doutorado pela Université Paris-Sorbonne (1993). Atualmente é professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O primeiro capítulo, intitulado “Literatura comparada: os primórdios”, remonta a trajetória dos estudos comparados, com o objetivo de contribuir para que se aproxime de um consenso sobre a natureza da literatura comparada, uma vez que os chamados “estudos literários comparados” incluem investigações diversas, cujas metodologias e objetos de estudo são também vários. Franco aponta para a grande divergência entre manuais sobre o assunto como um agravante. Pondera que, na esteira de estudos recentes, o método não pode anteceder a análise, motivo pelo qual seria tendencioso reduzir a literatura comparada a um sinônimo de “comparação”, recurso este que não lhe é exclusivo ou inerente, mas, antes, é um recurso analítico e interpretativo adequado aos seus objetivos.

Segundo a autora, o surgimento da literatura comparada vincula-se à corrente de pensamento cosmopolita do século XIX, que, dominante nas ciências naturais, comparava estuturas ou fenômenos análogos para extrair leis gerais. Muito embora alguns autores dos séculos XVII e XVIII tenham utilizado o termo, a difusão acontece a partir de Cuvier, Dégerand e Blainville, autores do século XIX que versavam sobre anatomia, filosofia e fisiologia, respectivamente. A transferência para os estudos literários se dá ‘como que por contágio’, tendo sua maior difusão na França, que já aceitava amplamente o emprego da expressão “literatura comparada” para designar um conjunto de obras, ao contrário da Inglaterra e da Alemanha.

Embora um Curso de literatura comparada tenha sido elaborado por Noél e Laplace já em 1816, a ampla divulgação da expressão se dá com os cursos sobre literatura do século XVIII ministrados por Abel-François Villemain, entre 1828 e 1829. Também destacam-se as obras de J.-J. Ampère, dentre elas a História da literatura francesa na Idade Média comparada às literaturas estrangeiras, de 1841, através das quais a expressão ingressa no campo da crítica literária, depois de Sainte-Beuve render a Ampère um elogio fúnebre, no qual o intitulava “fundador da história literária comparada”.

Essencial para a consolidação do comparativismo aplicado à literatura foi também a contribuição de Philarete Chasles, que formulou princípios básicos do que se considerava uma “história literária comparada”, e detinha uma visão conjunta da história da literatura, da filosofia e da política. Considerando que “nada vive isolado, todo mundo empresta a todo mundo: este grande esforço de simpatias é universal e constante” (CHASLES, 1835), a abordagem do autor já esboçava noções básicas dos estudos comparados clássicos: o vínculo entre literatura comparada, historiografia literária, e a noção de empréstimo. É na França que a primeira cátedra de literatura surge, na Lyon de 1887. Em suma, o desenvolvimento do comparativismo literário na França decorre de uma ruptura com as concepções estáticas associadas ao historicismo, bem como o abandono do “gosto clássico” por uma noção de relatividade, impulsionada pela visão romântica e seu interesse pela literatura exótica.

Na Alemanha, quem adota pela primeira vez a expressão história comparativa da literatura é Moriz Carrière, e o primeiro periódico acerca do tema é editado por Max Koch em 1887. Na Inglaterra, Hutcheson Macaulay Posnctl é o primeiro a utilizar a expressão, em 1886. Na Itália, De Sanctis lecionou literatura comparada na Nápoles de 1863. O Estados Unidos dão atenção aos estudos comparados após a virada do século, orientando-se inicialmente pela herança francesa. Em Portugal, além do precursor Teófilo Braga, temos Fidelino de Figueiredo com A crítica literária como ciência, de 1912.

Na sequência, a autora atenta para o fato de que a difusão da expressão “literatura comparada” se deu pela divulgação realizada pelos franceses, apesar da expressão continuar sendo imprecisa e ambígua. Além disso, relata a discussão permanente sobre a distinção entre literatura comparada e literatura geral, ambos termos amplamente usados pelos comparativistas, e associados entre si. Nesse sentido, parece haver uma visão na qual a literatura geral seria um campo mais amplo, abarcando a literatura comparada, enquanto outros consideram-nas sinônimos. A expressão “literatura mundial” também é associada à “literatura geral”, e foi cunhada por Goethe em oposição à expressão “literaturas nacionais”, podendo tanto ser compreendida como a totalidade das grandes obras quanto indicar a possível interação das literaturas entre si, corrigindo-se umas às outras.

Durante os primeiros decênios do século XX, a literatura comparada é reconhecida como disciplina e objeto de estudo nas grandes universidades européias e norte-americanas. Havia, então, duas orientações básicas e complementares no seu estudo. A validade da primeira orientação baseava-se na existência de um contato real e comprovado entre autores e obras ou entre autores e países, construindo suas investigações a partir de estudos de fontes e influências, orientando-se para o estabelecimento de filiações, bem como identificação de imitações e empréstimos, ou mesmo acompanhando a “fortuna crítica” das obras em países estrangeiros aos de suas origens. A segunda orientação via a literatura comparada como um ramo da história literária, uma vez que historiadores literários cada vez mais demonstravam interesse pela metodologia. Alguns deles foram Ferdinan Bunetière, Gustave Lanson e Emile Faguet.

O uso complementar dessas duas orientações é a base do comparativismo clássico francês, no qual predominam as relações “causais” entre obras ou entre autores, sempre estreitamente vinculado à historiografia literária. Os manuais utilizam-se do termo “escola francesa” para referir ao conjunto de princípios que ganharam ares doutrinários em diversos outros países. O emprego do termo “escolas” acontece justamente após o americano René Wellek opor-se ao historicismo dominante nos estudos franceses. Uma vez que, atualmente, há uma multiplicidade de orientações seguidas pelos pesquisadoreso emprego das expressões “escola francesa”, “escola norte-americana” ou “escola soviética” só cabe para definir uma feição clássica dos estudos literários comparados.

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