A VASSOURA ATRÁS DA PORTA

A VASSOURA ATRÁS DA PORTA.

     Pessoas muito supersticiosas acreditam que ao colocar uma vassoura atrás da porta espanta uma visita desagradável. Minha mãe é uma dessas, com muitas crenças, cheia de superstições, e que tem uma solução pra tudo.

    E era assim, com uma vassoura atrás da porta, que D. Alice espantava meus pretendentes. Ainda durante a minha adolescência, alguns garotos desistiram misteriosamente de namorar comigo, logo depois da primeira visita em minha casa para conhecer minha mãe. Eu estava ansiosa para finalmente, “namorar na porta”, afinal já estava com quase 15 anos. E foi assim que fiquei sem namorar até os 17 anos.

    Minha irmã mais velha, aos 18 anos já tinha um namorado, que conheceu no Ensino Médio, e minha mãe babava esse casal, tratava esse namorado como um filho e foi ele quem me apresentou uma pessoa, que se eu desse sorte, não seria vítima da vassoura. D. Alice não só simpatizou com o tal pretendente como também preparava almoço para ele aos fins de semana e ainda o deixava dormir em nossa casa, era um sonho, meu primeiro namorado caiu nas graças da sogra.

     Foram 4 anos de namoro e noivado, e a minha própria mãe disse que já estava na hora de casar e providenciar uma casa, pra que a gente pudesse ter privacidade. Ela é assim, ora inflexível, ora liberal, e sempre ao extremo, quando um ou outro.

    Tudo parecia bem, tivemos uma filha, ele frequentava a igreja e dava estudos bíblicos, bem até demais pra uma história real. Uma mulher para quem ele ensinava a bíblia, estava muito presente, eles estavam sempre próximos, e cada vez mais próximos, tanto que eu já estava incomodada e talvez um pouco enciumada, então lembrei da vassoura, seria infalível, eu tinha certeza que em pouco tempo aquela mulher iria sumir das nossas vidas.  

     Não foi bem assim. Antes da nossa filha completar 3 anos de idade, li uma conversa deles no chat do Facebook, uma conversa íntima, comprometedora e cheia de planos. Meu Deus! A vassoura afastou a pessoa errada? Não!  

    Eu aprendi que a magia da vassoura só afasta quem realmente tem que ir embora.  

    E foi assim que revivi a história de vida de minha mãe, e não se trata apenas de uma vassoura. Essa é uma história real de uma mulher, mãe solo preta e moradora de favela. Este texto faz parte de uma trajetória repleta de dores e desafios, as minhas “escrevivências” são únicas e ao mesmo tempo comum entre tantas outras mulheres que foram traídas, sem escolhas se tornaram chefe de família cedo demais, vítimas de violência afetiva e relacionamentos tóxicos.  

                                                                                      Joseane Silva, Salvador- 2022

...