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A CULTURA SURDA

Por:   •  20/8/2018  •  Resenha  •  2.462 Palavras (10 Páginas)  •  1.056 Visualizações

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1. Introdução

        A cultura surda é rica e especialmente desenvolvida na América do Norte, pois há um histórico longo de lutas pelos direitos dos surdos e de educação voltada para essas pessoas. Em seu Longe da árvore [1], livro que fala sobre “identidades horizontais” (ou seja, identidades não herdadas dos pais), Andrew Solomon resume bem a Cultura Surda (termo bastante desconhecido entre ouvintes) no seguinte parágrafo.

“Em inglês a palavra “Surdo” com inicial maiúscula refere-se a uma cultura,distinta de surdo, que é um termo patológico; essa distinção se parece com aquelafeita nos Estados Unidos entre “gay” e “homossexual”. Um número crescentedepessoas surdas sustenta que não escolheria ouvir. Para elas, a cura — surdez comopatologia — é execrada; a adaptação — surdez como deficiência — é mais palatável; ea celebração — Surdez como cultura — supera todas”.

        No entanto, no Brasil tem-se uma Cultura Surda igualmente rica e uma língua de sinais nossa, brasileira. A LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) é difundida por todo o território entre surdos e suas famílias e também vem recebendo cada vez mais atenção de ouvintes, sobretudo daqueles que trabalham com saúde e educação. Há um esforço, também, em incluir crianças surdas na educação tradicional, levando-a para a sala de aula ao lado de alunos ouvintes.

        De todo modo, um desafio existente é conscientizar a sociedade ouvinte da existência de uma cultura surda, que se interliga à cultura ouvinte, e conscientizar que a língua de sinais é uma forma de linguagem própria que não precisa ser vinculada à linguagem falada. Isto é, um sinal pode representar um objeto concreto ou uma ideia abstrata por si só, sem que o sinal seja “uma tradução” da língua falada. Mais tarde, na alfabetização, que o sinal é vinculado a uma palavra escrita. Isto é importante para a valorização da linguagem de sinais e também para compreender nuances como “poesia surda”, que pode parecer estranho para um ouvinte, mas é uma expressão de cultura surda que sempre existiu e que pode ser mais ou menos explicada por outro trecho de [1]:

“Os sinais são como a fala posta paradançar. Há um constante pas de deuxentre os dedos das mãos e o rosto. Aqueles quenão conhecem a língua de sinais só conseguem ver os movimentos como distantesesem nuances. Mas aqueles que a entendem podem ver o matiz mais fino designificado em um gesto. Tal como o prazer que algumas pessoas que ouvem sentemnas distinções gradativas entre palavras como ‘seco’, ‘árido’, ‘ressecado’, ‘dessecado’,ou ‘desidratado’, o surdo pode desfrutar de distinções equivalentes nos gestos dalinguagem de sinais”.

        Neste trabalho, haverá uma breve análise do texto Cultura Surda e cidadania Brasileira, retirado do primeiro volume do ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS - Caminhos para a Prática Pedagógica, publicado em 2004 pelo MEC como parte do Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos [2].

2. A diferença

        As diferenças entre os seres humanos são pensadas e debatidas pela Filosofia desde sempre. E as deficiências — apesar da palavra remeter a “defeito” —às vezes são encaradas apenas como uma diferença; no texto, inclusive, fala-se numa reflexão do francês Guy de Maupassant em uma de suas obras, onde ele diz que não há limites nem para a grandeza nem para a pequenez humana, tornando as relações de proporcionalidade falsas [2].

        Sobre isso, o texto ainda narra uma pequena história de uma criança surda, nascida em família surda, que, tendo vivido desde sempre no mundo da surdez, ao descobrir que existe quem ouve fica assustado e pensa que o outro, o que ouve, é que é diferente. Esta história ilustra bem o sentimento de muitos surdos, sobretudo entre os congênitos que nunca conheceram o sentido da audição, de que não há perda alguma [2].

        Dessa forma, enxergar os surdos simplesmente como diferentes em vez de “ouvintes defeituosos”, é um passo importante na inclusão dessas pessoas e evita uma visão limitada e preconceituosa.

        Este ponto é importante, pois levanta o debate acerca do modo como a cultura ouvinte trata a cultura surda, muitas vezes tentando suprimi-la “com a melhor das intenções”, fazendo, no entanto, muito mal. Por exemplo, em [1] é discutida a ideologia oralista, onde o surdo, em detrimento de sua língua de sinais, é obrigado a aprender leitura labial e aprender a falar (mesmo sem ouvir a própria voz), de modo a conseguir se comunicar com ouvintes — alguns, de fato, ficam tão bons que passa despercebida a deficiência. No entanto, nos EUA houve uma campanha no século XX a favor do oralismo (nas primeiras décadas do século XX, 80% das crianças surdas recebiam educação que não incluía a língua de sinais) o que acabou se tornando uma verdadeira tragédia na Comunidade Surda. “Fazer da fala e da leitura labial o pré-requisito para a comunicaçãopode relegar crianças surdas à confusão permanente”, aponta Solomon.Na década de 60 houve a publicação de um livro revolucionário, do linguista William Stokoe, que mostrou que a língua de sinais é um modo de comunicação completo,“que o que era considerado um sistema grosseiro de comunicação gestualtinha uma gramática própria, complexa e profunda, com regras e sistemas lógicos”.

3. Cultura, identidade, expressões

        Diversos autores têm debatido sobre a existência de uma Cultura Surda, ou se, na verdade, se trata de uma “subcultura”, termo rejeitado pela comunidade surda uma vez que a palavra implica numa subordinação à cultura dominante (de ouvintes) [2].

        O texto prossegue, porém, falando numa multiculturalidade, uma vez quesurdos dividem espaço com ouvintes e as duas culturas acabam completando-se e absorvendo elementos uma da outra. O entendimento desse conceito é primordial para compreender a Cultura Surda:

“Em suma, caracterizar a Cultura Surda como multicultural é o primeiropasso para admitir que a Comunidade Surda partilha com a comunidade ouvinte do espaço físico e geográfico, da alimentação e dovestuário, entre outros hábitos e costumes, mas que sustenta emseu cerne aspectos peculiares, além de tecnologias particulares, desconhecidas ou ausentes do mundo ouvinte cotidiano”.

        Vivências únicas e a diferença na linguagem (gestual-visual, em oposição à sonoro-auditivo) faz dos surdos pessoas como um modo de pensar, viver e sentir o mundo de maneira diferente [2]].

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