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Terra das minhas ilusoes

Por:   •  26/4/2015  •  Dissertação  •  1.152 Palavras (5 Páginas)  •  259 Visualizações

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Terra das minhas ilusões, 04 de outubro de 2013

                                                                   Prezados organizadores do Concurso

                     Quero, primeiramente, parabenizá-los por essa iniciativa em um momento histórico de profundas transformações em que o lápis, a caneta e o papel, instrumentos especulares da escrita do homem até bem pouco tempo, são trocados por telas de computadores e de tablets onde as letras, digitadas, vão construindo textos. Propor escrever cartas e preservar deste meio de comunicação é  também trazer para a  reflexão  a importância da narrativa e os perigos advindos da possibilidade de seu desaparecimento  tão bem discutidos por Walter Benjamin em  seu estudo  sobre a figura do narrador, uma vez que a carta se apresenta como  uma narrativa peculiar, escrita para contar alguma coisa para alguém. Embora Vieira, referindo-se ao aspecto estético desse gênero de escritura, a considerasse uma produção artística, mas sem nenhuma arte, as cartas povoam, desde há muito, a literatura estrangeira e a do Brasil.

                     Quero, em segundo lugar, dizer da minha paixão por cartas. A epistolografia fez parte de minha vida desde muito cedo: uma tia, Sebastiana, modista à época, escrevia cartas, de pé, em uma escrivaninha muito linda e apropriada para esta atividade. com quatro, cinco páginas, para a família, contando as novidades. A letra, desenhada com tinta negra, era belíssima O exercício habitual dessas missivas e a alegria com que recebia as respostas, lidas por ela, sentada em sua cadeira de balanço, para nós, em sua volta, propiciaram meu primeiro imaginário sobre cartas.  Por volta de 1957, quando aluna do antigo Curso Normal, a epistolografia estava em moda ainda.  As cartas já não eram escritas com bico de pena, molhados em tinteiros de vidros ornamentais, como os usados por minha tia e meu pai, com os quais eles desenhavam os traços das letras, tornando singular e bela a apresentação final da missiva. Ao estudar, na disciplina de Língua Portuguesa, o gênero epistolográfico., a descoberta (aqui na significação mesma da palavra, pois eram guardadas envoltas em um delicado tecido) das cartas amorosas enviadas por meu pai a minha mãe desvelaram-me os sentimentos primeiros de minha origem. Copiei destes documentos sigilosos, lavrados em belíssima caligrafia, a expressão – terra das minhas ilusões - como homenagem a sua memória. Essa figura literária, inicio de cada carta,: era a preferida, pela utopia gerada do contraste entre a concretude de terra  e a abstração de ilusões. Está guardada, nestas cartas, a arqueologia das palavras que me constituíram.

                     A paixão por cartas acompanhou-me, também, no Curso de Letras. Vieram, entre outras, As Cartas a um Jovem Poeta,  correspondência trocada entre Rainer Maria Rilke e o  jovem Franz Kappus para falar sobre a criação artística, a necessidade de escrever, Deus, o sexo, a solidão do ser humano e muitos outros temas. E depois, Cartas do Pequeno Príncipe de Antoine de Saint-Exupéry, seguido de O Amor do Pequeno Príncipe – Cartas  a uma Desconhecida; entrelaçando essas profundas e comoventes cartas literárias, uma trágica noticia, em 2009, publicada pela Folha de São Paulo:  a viúva do autor de O Pequeno Príncipe falsificou cartas para ficar com herança.  Filho de condes, a mãe de Saint-Exupéry guardou este segredo para evitar um

escândalo. Penso no poder documental da carta e no sofrimento de Saint-Exupéry casado com  uma mulher capaz  de tal fraude por dinheiro. Quantos segredos há guardados nas cartas!  Dessa época são também as cartas de Landa,  uma colega de curso que foi estudar na Suiça. Nelas, as narrativas do cotidiano compartilhavam o local, o frio, a neve, as aulas, os autores estudados, as saudades.. Até hoje as guardo com muito carinho,  fragmentos importantes de uma fase de formação.

                    Quando ingressei, em 1968, no Magistério Público Estadual, como professora efetiva de Língua Portuguesa, em Viradouro, tão distante  de São Paulo, onde morava, fiquei  isolada da família, dos amigos, das conversas que alimentavam o meu espírito. Lembro-me da alegria com que recebia as cartas , verdadeiros laços recriados à leitura de cada folha. Como docente da universidade, as cartas não me abandonaram. Atualmente, na pesquisa, descubro nas de Lobato, endereçadas, desde dezembro de 1903 e por quarenta anos, ao amigo Godofredo Rangel, posições  definidoras de como ele pensava a construção de uma literatura infantil brasileira, desvendando assim os bastidores da vida literária da época no que concerne, principalmente, aos escritores de literatura infantil.  Um dos mais extensos testemunhos epistolares de que se tem noticia no país, as cartas foram compiladas para suas Obras Completas, em dois tomos, sob o título A Barca de Gleyre, São leitura obrigatória para os estudiosos do escritor, pois nelas, com a espontaneidade que o caracteriza, Lobato desnuda-se ao amigo Rangel ao expor suas reflexões sobre a leitura e a literatura, que ele queria  desliteraturizada.

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