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A PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA

Por:   •  30/6/2021  •  Artigo  •  5.152 Palavras (21 Páginas)  •  95 Visualizações

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PSICOPATOLOGIA FENOMENOLÓGICA[1]

Walmir Monteiro

monteiro.walmir@gmail.com

A Psicopatologia é uma ciência que estuda e define o nosso conhecimento sobre o adoecimento mental, o que não é uma tarefa simples e não há consenso sobre o que é, em sua totalidade, o adoecimento mental e tudo que o envolve.

A propósito, há pessoas que vivem tantos desacertos em sua vida que fica praticamente impossível não enlouquecer, mas nem sempre nos lembramos disso.

A psicopatologia clássica estabelece padrões de avaliação, de diagnóstico e interpretação, sendo o adoecimento mental diagnosticado de acordo com os padrões de normalidade que estão nos livros, principalmente nas nosografias - descrições dos transtornos.

Em muitos casos, os sofrimentos mentais originam-se de desequilibrios que surgem na vida, no mundo e na sociedade, atingindo pessoas que em muitos casos são marcadas por toda a sua vida.

Diferentemente da psicopatologia clássica, a psicopatologia fenomenológica trata o sofrimento mental da forma como ele surge, sem estabelecer entificações, trata o sofrimento mental sem dizer para a pessoa: “olha, você tem esse sofrimento porque você é um doente mental”.

Afinal, qualquer pessoa pode apresentar algum sofrimento mental, decorrente de uma série de motivos e não é uma condição apenas estrutural, pois pode se originar na baixa qualidade das condições de vida de um indivíduo. Ou seja, uma pessoa não é louca só porque descobriru que a sua mente está sofrendo, e um sofrimento decorrente da péssima condição social que vive uma pessoa, não gera um diagnóstico estrutural.

A perda da ancoragem ao real, como dizia Merleau-Ponty, muitas vezes ocorre porque esse real é insuportável. Para que o real seja "ancorado" é preciso que seja suportável, senão a pessoa se refugia no delírio.

Para tratarmos o sofrimento mental não precisamos rotular a pessoa com um diagnóstico, que apesar de muito importante, será imprestável assim como toda a avaliação psicológica se não levar em conta os aspectos sociais e as condições objetivas de vida de uma pessoa, incluindo seu contexto familiar, de trabalho, enfim, social.

É nesse sentido que muitas vezes o diagnóstico atrapalha o tratamento, porque em determinadas situações a pessoa toma o diagnóstico como uma identificação pessoal, uma espécie de sentença:  “Viverei com isto para sempre. Eu sou isto”. Quando na verdade, não.

Mais uma vez: não quero dizer que os diagnósticos não existem e que não são importantes, o problema é o uso incorreto dos mesmos. Porque os psicodiagnósticos são necessários, mas não são imprescindíveis. Porque se o fossem, não seria possível o psicodiagnóstico interventivo.

Em geral, os psicoterapeutas não fazem psicodiagnóstico antes de começar uma terapia, fazem apenas uma anamnese, às vezes nem isso, porque o psicodiagnóstico vai se pronunciar naturalmente, vai se manifestar ao longo do processo terapêutico. Um bom terapeuta vai compreender psicodiagnosticamente o seu paciente após algum tempo de atendimento no consultório, na forma de um psicodiagnóstico interventivo, que é uma proposta bastante eficaz.

Mas no Brasil estudamos pouco psicodiagnóstico interventivo e psicopatologia fenomenológica, que são duas das coisas que na prática os alunos vão mais precisar depois de formados.

Nos cursos de psicologia temos tentado ensinar uma psicopatologia psiquiátrica, que alimenta uma propedêutica médica (e essa psicopatologia psiquiátrica nem é aprendida direito, porque não se pratica, e não se pratica porque a propedêutica psicológica não privilegia a semiologia psicopatológica).

Senão, vejamos: Diante das queixas do seu paciente o psicólogo se interessa na verdade por 3 coisas: 1) quer saber do modo mais claro possível o que de fato está acontecendo; 2) quer saber que fatores contribuiram conjuntamente para que se chegasse onde chegou (conteúdo da queixa) e 3) e quer saber quais são os danos que a situação relatada tem causado ou poderá vir a causar na vida da pessoa.

De modo que o exame psicológico é muito diferente do exame psiquiátrico, cuja função é saber qual será o medicamento mais indicado para segurar os sintomas, porque o que se faz no consultório psiquiátrico é issso.

Talvez devessemos estudar mais sobre o exame psicológico que é nossa área e não somente semiologia psicopatológica, exame de sinais e sintomas,pois na prática quem vai mais usar isto é o psiquiatra, para receitar medicamentos que tentarão controlar os sintomas do paciente.  

Não é suficiente que o professor pegue um livro como o do Dalgalarrondo, achando que está ali tudo o que o futuro psicólogo precisa aprender em termos de psicopatologia. Porque, em síntese, o que tem lá é a semiologia psicopatológica, a nosografia das doenças mentais, leia-se DSM 5 e CID 11 que inutilmente vai tentar decorar. Uma tentativa de ensinar critérios de exames psiquiátricos. Claro que o psicólogo precisa conhecer as nosografias dos transtornos mentais, mas principalmente precisa estar preparado para fazer um bom exame psicológico e é isso que falta.

Aliás, alguns critérios de exame psiquiátrico são bem estranhos, para não dizer preconceituosos, vejam alguns elementos propedêuticos que a psiquiatria utilizam em seus exames:

Não vou generalizar, mas no Portal de um grande hospital brasileiro, encontramos o seguinte protocolo de exame psiquiátrico:

Diz lá: Sinais e sintomas importantes para realização de diagnósticos em psiquiatria e suas relações com algumas das doenças mentais (cada um dos sintomas encontrados nada diz de forma isolada, mas ganham importância quando analisados em conjunto com todos os dados apresentados: fornecem informações para um estabelecimento diagnóstico, bem como que área do cérebro pode estar com algum tipo de prejuízo). Pois é, não se fala da pessoa, mas de sinais e sintomas porque o interesse é estabelecer um diagnóstico e saber que área do cérebro está comprometida.

Depois fala da postura do paciente na consulta como elemento que irá constituir o diagnóstico, vejam: – No paciente de postura passiva: paciente apático, “largado”, que durante o exame fica indiferente ao que acontece em sua volta. Quadro que pode estar presente em demências (Alzheimer), depressões e alguns tipos de esquizofrenia. – Já os pacientes de postura Ativa: paciente com muita iniciativa, energia, sugerindo o que se pode fazer na consulta, nele pode estar presente em quadros de pacientes em mania (fase do transtorno bipolar do humor), e alguns tipos de esquizofrenia, histeria.

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