O Sentido da Vida

Introdução

A questão sobre o “sentido da vida” estabelece um dos principais temas da produção intelectual de Frankl, que procura assegurar, já num primeiro momento, a objetividade do sentido. “Em última análise, a pessoa não deveria perguntar qual o sentido da sua vida, mas antes deve reconhecer que é ela que está sendo indagada. Em suma, cada pessoa é questionada pela vida; e ela somente pode responder à vida respondendo por sua própria vida; à vida, ela somente pode responder sendo responsável. Assim, a logoterapia vê na responsabilidade a essência propriamente dita da existência humana (Frankl, 1985, p. 98).

Isto é, não se deve perguntar à vida, numa postura reflexiva e autocêntrica, o que ela quer de mim, é o indivíduo que se encontra, a cada momento, sendo indagado por ela, e cabe, apenas o ser, responder, realizando o sentido único de cada situação.

Logo, Frankl também se ocupa em afastar, inicialmente, a ideia de que a expressão “sentido da vida” faça referência a um sentido total e extraordinário. Isto é, analisar o sentido da vida significa colocar a questão em termos inapropriados, já que o termo “vida” não deve ser tomado com a vagueza que pressupõe e, sim, como a existência concreta e singular de uma pessoa, num determinado contexto histórico e situacional.

Na logoterapia, o ser humano é como um ser livre, capaz de ter consciência desta liberdade, e de agir responsavelmente, motivado pelo que considera os sentidos de sua vida. Quando o sentido de vida não está presente na vida da pessoa, esta pode sentir um vazio existencial. A logoterapia tende desenvolver a capacidade da pessoa de entender as possibilidades de sentido em sua vida. Não há um padrão sobre como conduzir sessões de psicoterapia, mas são dadas orientações, a partir da percepção filosófica da logoterapia. Frankl afirma que a vida sempre tem sentido, o qual está no mundo, sendo simplesmente necessário que este sentido seja "descoberto" pela pessoa.

Viktor Frankl, o criador da logoterapia, aceitou a indicação de outros autores de situar sua teoria dentro da psicologia humanista ou da psiquiatria existencial. Contudo, apesar de não negar esta maior identificação, não deixou de marcar também diferenças com essas orientações. Um exemplo disso, com relação ao humanismo, é a crítica que Frankl faz quanto à utilização do termo auto realização, o qual tenderia a enfatizar demasiadamente a possibilidade de a pessoa se realizar em si mesma. Para a logoterapia, esta realização só ocorre após o sentido de vida ser concretizado, o que é possível quando o indivíduo sai de si, ao encontro de alguém ou de algo que está no mundo. Por isto, Frankl prefere falar de autotranscendência, como pré-requisito para a realização. Outra diferença, agora com os existencialistas, é com relação ao sentido da vida.

A autotranscendência, se refere ao “fato de que o ser humano sempre aponta e se dirige para algo ou alguém diferente de si mesmo — seja um sentido a realizar ou outro ser humano a encontrar”. Segundo Frankl, duas manifestações da capacidade de autotranscendência do ser humano são a consciência e o amor. Amor, segundo a percepção frankliana, significa ver o outro como ele é, com clareza e profundidade, capaz de enxergar nele não apenas suas particularidades, mas seus potenciais e fazer com que estas sejam desenvolvidas. Amor é a único modo de deter outro ser humano no pessoal da sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem o amar. Por amor a pessoa se torna capaz de ver os traços peculiares, mais ainda, ela vê o que está virtualmente contido nele, aquilo que ainda não está, mas deveria ser realizado. Além disso, através do seu amor a pessoa que ama certifica a pessoa amada a realizar estas potencialidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria vir a ser, aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar.

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