O psicólogo escolar e a alfabetização – Filme “Como estrelas na terra, toda criança é especial”.

O psicólogo escolar e a alfabetização – Filme “Como estrelas na terra, toda criança é especial”.

De acordo com Vygotsky o ser humano é um ser interativo, adquire seus conhecimentos, experiências e se desenvolve a medida que se relaciona com o meio, sem interação fica difícil ou impossível que este desenvolvimento ocorra. Assim como a construção do ser se da pela interação a linguagem, a escrita e a atenção também. Tudo gira em torno da interação social (VIGOTSKI, 1998).

A linguagem é um instrumento complexo que proporciona a comunicação que usamos para nos relacionar, sendo assim, antes de tudo social. A linguagem permitirá a construção do funcionamento mental, ou seja, o pensamento. Sem linguagem o ser humano não será um sujeito social, histórico e cultural. Vygotsky fala do desenvolvimento da linguagem delimitando três fases, seriam elas: linguagem social, que seria a primeira linguagem que surge, sua função é denominar coisas e se comunicar; a linguagem egocêntricaseria o processamento de perguntas e respostas dentro de nós mesmos, passando de uma função comunicativa para a intelectual. Esta linguagem refere-se á própria pessoa e não a linguagem social. Neste momento a linguagem começa a servir o intelecto e os pensamentos começam oralizar-se, por fima linguagem interior, está ligada a um momento posterior á fala egocêntrica, denominada quando as palavras passam a serpensadas, um pensamento em palavras. Criando conexões para resolver problemas, ideias, etc. Pensar é conceber, fragmentar e sequenciar simultaneamente em dadas situações. As palavras são mediadores entre pensamento e mundo externo (RABELLO; PASSOS, n.d.).

No filme podemos observar que não há nada de errado com o desenvolvimento da linguagem de Ishaam, na cena em que imagina o universo, dragões, águas vivas, foguetes espaciais os planetas, enfim, neste momento está com a criatividade em ação. Outra cena que permite perceber no garoto o pensamento lógico e a resolução de problemas é quando ele pede pro irmão falsificar um atestado para levar a escola, podemos observar que desde o início do filme Ishaam possui muita criatividade em suas brincadeiras e ações. A questão de Ishaam não era o pensamento, mas sim a repressão do mesmo, o modelo rígido da escola e a comparação que os pais faziam com o irmão mais velho não o ajudavam em seu desenvolvimento, não davam abertura para a capacidade e habilidades deIshaam. Fica claro que o professor está mais preocupado em apresentar respostas aos gestores públicos e seguir o modelo da escola tradicional do que atentar para as necessidades do aluno.

A linguagem escrita é um sistema particular de símbolos e signos, que designam os sons e as palavras da linguagem falada, por isso é importante ensinar a linguagem escrita e não apenas a escrita das letras. Aprender a linguagem das letras para Ishamm era ainda mais complicado, pois o garoto apresenta dislexia, que seria dificuldades no processo de aprendizagem da escrita, leitura e cálculos (MASSI, 2011). Em suas atividades era notável que trocava as letras e não conseguia ler quando o intimavam. A questão da dislexia além de prejudicá-lo na escola, também dificultava na interação social tanto dentro e fora de casa e também no seu estado emocional.

Mesmo estando na escola há algum tempo nenhum professor identificou sua dificuldade, e essa não identificação acabou dificultando na sua aprendizagem, era mais fácil dizer que Ishaam era preguiçoso, indisciplinado, burro entre outras características que o rebaixa do que olhar para ele. É triste pensar que Ishamm não é o único despercebido no mundo. O modelo escolar ainda reprime as habilidades e capacidades das crianças, fazendo-as desenvolverem dificuldades que poderiam não existir. A questão é que os professores precisam olhar para esses alunos de forma ampla, ou seja, saber que todos são diferentes e que aprendem de formas diferentes. É importante investigar desde o primeiro momento, a comunicação com os pais também é essencial para esse processo de aprendizagem, no filme o professor possui esse olhar diferenciado, mas normalmente os professores não possuem este olhar, o papel do psicólogo seria justamente esse, promover esse olhar nos professores, para que pudessem enxergar o aluno como um todo.

No filme, a primeira escola que Ishaam estudou não demostrava importância para suas necessidades e convocou os pais para informá-los que o garoto iria repetir o ano, sabendo disso os pais decidiram colocá-lo em um internato, onde a filosofia era disciplinar “cavalos selvagens”, com severas punições (palmatória), diante deste novo mundo Ishaam perde o interesse pelas coisas. Ishaam precisava de uma atenção especial para que pudesse desenvolver suas habilidades e superar suas limitações, precisava de um mediador. A presença de um professor substituto com metodologias próprias e inovadoras causa um impacto nesta escola, o mesmo se preocupa e olha para a individualidade e particularidade de cada aluno e as coisas começam a mudar para Ishamm. A partir de uma investigação (começa olhar os cadernos e o comportamento de Ishaam) esse professor identifica algo no menino e decide ajuda-lo. Crianças com dislexia ou TDAH são saudáveis como as outras crianças, apenas apresentam comportamentos e modos de aprender diferentes do padrão uniforme que se decretou como normal (MOYSÉS; COLLARES, 2009).

A dislexia, disgrafia, disortográficas e o TDAH são considerados distúrbios de aprendizagem, que estão envolvidos no processo de alfabetização. Atualmente, esses “distúrbios” são apresentados com frequência nas escolas. Distúrbios, que por sinal, é uma palavra equivocada para expressar tal situação, visto que estas são apenas dificuldades na aprendizagem. A partir disso o professor pode investigar as condições deste aluno, identificar a dificuldade dele e contribuir para que possa superar tal dificuldade. Segundo Tuleski e Chaves (2012) os professores precisam contextualizar e compreender as circunstâncias que produzem os problemas em leitura/escrita, para que assim possam elaborar procedimentos didáticos que conduzam à superação do problema encontrado, também é preciso tirar a responsabilidade do aluno de não saber ler e escrever, assim como o professor de Ishaam fez, olhou para ele de forma ampla, percebeu que o menino possuía habilidades como: memória, habilidade motora, noção de tempo e espaço, criatividade, entre outros. A partir do momento em que o professor entendeu o que acontecia com Ishaam pensou em medidas que poderiam aliviar seu sofrimento. O professor usou todas as habilidades possíveis de Ishaam para que o mesmo pudesse se desenvolver, usou diferentes métodos para que pudesse ocorrer à aprendizagem, como vimos no filme o professor através da arte possibilitou a aprendizagem, pois Ishaam desenhava e pintava muito bem, usou areia, massinha de modelar, gravetos, usou até o ambiente da escola fazendo brincadeiras na escada para que ele pudesse somar e subtrair os degraus, também o motivou dizendo que muito dos grandes pintores e físicos também possuíam dificuldades, assim não sendo o único no mundo. Sua dificuldade não o limitava, seu conhecimento promoveu a superação da sua dificuldade (BRECHT apud TULESKI, CHAVES, 2012).

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